sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A Prática e a Teoria no Cineclubismo Brasileiro

Participantes presenciais da Pré-jornada Nacional de Cinecubes, em Santa Maria/ RS - julho de 2012.

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A Prática e a Teoria no Cineclubismo Brasileiro
por Gilvan Veiga Dockhorn

Escrevo de imediato que este texto é um conjunto de pensamentos que me ocorreu após leitura atenta do artigo Fique são ou A horizontalidade rasteira - Desinformação eilusão de Felipe Macedo publicizado na lista CNC Diálogo.
Escrevo também que ao contrário do referido artigo não pretendo - por total ausência de competência ou sapiência mesmo - “esclarecer os menos informados, sobre as diversas ficções que estão prevalecendo neste momento praticamente caótico do nosso movimento”. Um dia, quem sabe, chegarei lá…
Mas antes de tudo, saúdo a possibilidade do debate e discussão oriundas do artigo provocativo que Felipe Macedo postou. Sua farta produção tem feito avançar questões importantes no estudo do cineclubismo como a adoção do Dia do Público e temas como o Primeiro Cineclube e por consequencia o Centenário do Cineclubismo. O esforço teórico deve ser reconhecido e discutir essa produção é uma demonstração de reconhecimento e respeito ao autor, mesmo que o conteúdo do artigo não trate seus possíveis interlocutores de forma respeitosa.
Contudo, expor idéias e teses inclui estar aberto à crítica e a refutação, mais ainda em se tratando o artigo de um conjunto de análises e posições que podem ser consideradas, no mínimo, polêmicas e não consensuais.

Discutindo a Tese do Catastrofismo Cineclubista
Não me parece correta a afirmação que dá argumento e sustenta uma das teses centrais do artigo de Felipe Macedo, a saber, que o “movimento cineclubista brasileiro está passando por uma crise bastante séria” muito menos que esta suposta crise seja “talvez terminal”.
Talvez tomado pelas previções e profecias de final do mundo muito em voga em 2012, Felipe Macedo também tenha se empolgado à ponto de decretar o final do movimento cineclubista brasileiro para os próximos tempos.
Porém devo fazer justiça, há muitos anos Felipe Macedo vem decretando o final do movimento cineclubista organizado, quem sabe um dia acerte, mas não será agora.
A tese de crise terminal é frágil. Primeiro porque teria dificuldade, e creio que muitos com capacidade intelectual mediana e sinapses normais assim o teriam, em identificar e dar características uniformes à prática cineclubista e as diversas formas de atuação e organização cineclubistas espalhadas pelo país. E são muitas mesmo…
Como que para apontar os responsáveis por essa suposta crise terminal, Felipe Macedo classifica os cineclubistas em quatro grupos, e os listo abaixo conforme o artigo define

1) “os isentos de responsabilidade”;
2) “os dedicados a acabar com o cineclubismo associativo e democrático”;
3) “os entusiasmados mas ingênuos e inexperientes”,
4) “a maioria silenciosa”.

Me parece complexo, discutível e superficial essa imposição classificatória, mas enfim, deve ser um elemento democrático que me escapa.
Ainda tento me inserir e inserir meus companheiros de Cineclube Abelin Nas Nuvens em uma destas categorias… E perguntaria, em qual destas você está Felipe?
Obviamente, se me parece difícil dar concretude monolítica ao “movimento cineclubista brasileiro” mais difícil ainda identificar uma crise, e mais ainda determinar ou sentenciar que esta é terminal no cineclubismo brasileiro. E mesmo se crise houvesse, me parece que muito árdua é a tarefa de encontrar os salvadores do cineclubismo brasileiro, mesmo que candidatos não faltem.
Seria interessante ampliar o leque de análise e perceber a conjuntura em que se insere não apenas o cineclubismo organizado ou modalidades de expressão/interação cultural e simbólica em contextos associativos, mas todos os movimentos sociais desde o advento do verdadeiro “Estado de Bem Estar Social Tardio” com os mandatos de Lula e de Dilma.
Por certo a partir do primeiro governo Lula (2003) avançou a participação do Estado na cultura em contraposição ao Estado mínimo dos períodos Collor, Itamar e Fernando Henrique. Se efetivou um novo modelo de gestão cultural com o ministro Gilberto Gil através de canais de interlocução entre a sociedade civil e o MinC (também época de rearticulação do movimento cineclubista). Novas definições conceituais para a cultura tendo por base sua dimensão antropológica acabaram por instituír um conjunto de políticas públicas diferenciadas. Sem mencionar o fato da criação efetiva de um Ministério da Cultura até então inexistente.
Por outro lado, vários militantes da cultura foram alçados à cargos governamentais e o governo criou estratégias para envolver os movimentos pela cultura em sua plataforma política. Isso acabou, no mínimo, engessando ou cooptando os movimentos sociais.
Incrivelmente essa discussão não é realizada ou é exposta ligeiramente, parecendo ao leitor que o cineclubismo age de moto próprio, sem nenhuma relação com os processos sociais, culturais, econômicos e politicos em curso. Ou seja, o momento atual do cineclubismo, das ações dos cineclubes e do CNC estão descontextualizados, logo, se as coisas não ocorrem, ou não se desenvolvem como supostamente deveriam, o problema é exclusivamente da enganosa direção da entidade nacional dos cineclubes ou de sua despolitizada base, inerte e inoperante.
Uma leitura do velho Marx ajudaria, pois à muito mencionou que os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.
Creio que ao sentenciar o apocalipse de uma atividade centenária e uma organização com mais de 50 anos seria adequado ser feita menção ao processo que desarticulou grande parte dos movimentos sociais, o neoliberalismo que chegou ao Brasil nos anos de 1990, alterou as estruturas, o cenário e os movimentos politicos (precarização das relações de trabalho, privatização do patrimônio estatal, abertura dos mercados internos ao capital internacional, recolonização imperialista, imposição do pensamento único…), mudou não somente as formas de luta, mas essencialmente a disposição para a luta.
No início do século XXI, as políticas de redistribuição de renda e inversão de prioridades nas políticas governamentais (assistencialistas para alguns) fizeram com que, salvo raras exceções, os movimentos sociais passassem do embate à adesão. A participação nos projetos governamentais e a dependência econômica aos governos fez com que as críticas às estruturas da sociedade capitalista cedessem lugar à um certo tipo de pacto de silêncio, com isso adentramos em um período explícito de acomodação, dependência e brados por um Estado burguês honesto.
Mesmo assim as lutas não cessaram e o ativismo seguiu.
A preocupação com a questão da autonomia foi tamanha que criamos um grupo de trabalho na última Jornada Nacional de Cineclubes em Moreno/PE para debatermos a autosustentabilidade da prática cineclubista.
Nesse cenário generalizado de desorientação política, estão inseridos o cineclubismo organizado e sua entidade nacional.

A partir dessa contextualização poderemos ter um panorama mais próximo do real a respeito da prática e atuação política dos cineclubes nos últimos tempos.
Um exercício interessante seria observar e realizar uma análise atenta os dados provenientes da campanha de recadastramento do CNC (dados parciais apresentados na Pré Jornada Nacional de 2012 em Santa Maria/RS e divulgados nas listas) para perceber que muitos cineclubes são para além de “uma atividade mais ou menos periódica de exibição”. Se configuram como a única possibilidade de comunidades terem acesso à produção audiovisual e ao mesmo tempo se constituem nos únicos locais de socialização que não operam na lógica do mercado.
Entre os 455 cineclubes e entidades regionais filiados, temos 70% na região historicamente mais desfavorecida do país – em termos de projetos de desenvolvimento – o norte/nordeste. Se tivesse observado os dados perceberia Felipe que 68% dos cineclubes se localizam no interior dos estados e que, em números absolutos, o Pará tem 44% dos seus municípios com cineclubes.
Possivelmente o interesse destes cineclubes estejam distantes da idealização política que se pretende. Possivelmente, os cineclubes dialoguem mais com questões práticas de sua atvidade, como a questão de acervo, garantia de espaço de exibição, equipamento, manutenção das sessões, debate sobre direitos autorais, organização em rede, formação de público e apropriação da linguagem cinematográfica.
Esses temas povoam as necessidades imediatas dos cineclubes, antes da tarefa histórica (segundo os teóricos) que os cineclubes deveriam desempenhar, ou seja, ainda se luta pela sobrevivência da própria atividade e isso são formas de luta e manifestação da politização dos cineclubes em tempos onde prevalecem os projetos individuais e o entretenimento estéril.
Isso só sabe quem está na luta, quem arruma salas (em sua maioria improvisadas), organiza ciclos, debates, oficinas de formação, mostras, busca mecanismos de divulgação, se preocupa com os caixas de som estouradas, cabos rompidos e dvds que travam, corre atrás de verbas e passa um boa parte de seus dias ligado à efetivação das sessões.
Pode parecer pouco ou prática alienada para quem espera que os cineclubes assumam a vanguarda revolucionária e invertam o desigual modelo audiovisual brasileiro (coisa que até aqui não foi realizado nem mesmo em etapas exuberantes do cineclubismo organizado), mas é muito para quem historicamente foi excluído de todos os processos de acesso, fruição e produção de bens culturais imateriais.
O público destes cineclubes não se constitui apenas como platéia ou massa ignorante a ser alfabetizada, é muita presunção desqualificar o processo em curso ou as atividades que não chegam às listas, blogs ou não sirvam de base para trabalhos acadêmicos.
Concomitante à tarefa de pensar a dinamização da entidade representativa dos cineclubes (o CNC), temos de refletir sobre as formas de existência dos cineclubes e as imensas dificuldades que se apresentam em garantir a periodicidade de suas ações.
Basta ver que são raros, menos de 2%, os cineclubes que mantém a prática de cobrança de taxa de manutenção pois em sua maioria o público não tem condições para tal. Com todas as limitações que possam ser creditadas, os programas governamentais e as parcerias com instituições (universidades, escolas, associações comunitárias e sindicatos) garantem o funcionamento da quase totalidade dos cineclubes no país.
Também é presunçosa a observação do cineclubismo brasileiro da estrita (e estreita) perspectiva de uma lista de debates e informação; o cineclubismo brasileiro não se resume à participações na lista CNC Diálogo mesmo que esta tenha 1260 assinantes (sendo que nem todos estão vinculados à cineclubes em atividade).
Tão limitada quanto à participação nas listas (uma das críticas feitas no artigo) é se basear nela para cravar que o cineclubismo nada produz à altura dos teóricos cineclubistas (ou cineclubistas de caneta e papel).
Estas posições nos mostram uma prepotência digna das vetustas intelectualidades esquerdistas brasileiras que não percebem luta quando não são protagonistas desta ou mesmo quando não são chamadas à liderar tais lutas.
Felipe Macedo afirma em seu artigo que temos um movimento desorganizado que é ignorado pelo Estado e sociedade. Não chego a discordar de todo, mas ousaria dizer que talvez o cineclubismo contemporâneo tenha mudado ao longo dos anos e que possivelmente, o Estado e a sociedade tenham se alterado o suficiente para que contextos associativos não tenham a menor influência em políticas públicas ou programas governamentais.
Não apenas o cineclubismo, mas sindicatos (vide a greve dos professores e técnicos administrativos das universidades federais), associações e movimentos sociais diversos (como o MST) pouco tem influenciado nas decisões de Estado.
Não percebo o cineclubismo isolado, atomizado ou muito menos que esteja vivendo uma das “entresafras históricas em que o cineclubismo some para o opinião pública e a sociedade, mantendo-se apenas como atividades singulares e irregulares”.
Não teria a pretensão de afirmar para onde caminha o cineclubismo, mas posso garantir que o CNC, como entidade representativa dos cineclubes organizados, irá para onde sua base assim desejar, para o bem e para o mal.
Em que pese algumas tendências, acredito que a palavra cineclube ainda seja suficientemente ampla para designar o conjunto de atividades que vão desde uma sessão de exibição de conteúdo audiovisual até os espaços que se pretendem devolver ao público suas condições de apropriação dos sentidos da produção cultural. Aqui lembro das acaloradas discussões na Jornada Nacional de Santa Maria em 2006 quando da possibilidade de definição de um conceito único de cineclube para fins de regulamentação da atividade pela Ancine.
E se se identifica que a entidade nacional dos cineclubes está com dificuldades (o que não seria novidade pois já esteve em outros momentos e em outras décadas, chegando mesmo a acabar) o mesmo não se pode dizer dos cineclubes, estes estão à pleno. A entidade em nenhum momento pode estar acima da prática e da atividade cineclubista.
Creio que uma análise construtiva e propositiva teria de identificar as peculiaridades do cineclubismo no Brasil que não apenas o distinguem de outras experiências no mundo como não cabem em uma designação única; seria possível falar em cineclubismo do Brasil? Ou o correto seria mencionar as mais diversas experiências do cineclubismo brasileiro.
Possivelmente estas caracterísiticas multiculturais dos cineclubes definam um tanto das dificuldades de uma instituição nacional que pretenda representá-los. Basta ver que a direção do CNC é composta de 26 membros de 16 estados diferentes e o Conselho de Representantes do CNC por 13 membros de 10 estados diferentes.
Ao todo, 39 membros de todas as regiões do país, do Acre ao Rio Grande do Sul, de Pernambuco à Goiânia, ou seja, para garantir a necessária representatividade e legitimidade, a estrutura do CNC deixou de ser funcional. Temos de pensar em como equalizar a representação e a operacionalidade da entidade.


Equívocos intensionais

Passo a debater alguns temas tratados no artigo que, com a trajetória do autor, não podem ser observados como simples equívocos.

· Personalização e Omissão de personagens:
Se o artigo pretende informar a grande massa de desinformados retirando-os do verdadeiro limbo em que vivem, seria importante que as várias passagens onde acusações e ilações são feitas sejam credidatas aos responsáveis. Que informação é essa que ignora os agentes e os atores dos processos.
Assim perguntaria, quem são os que querem destruir o cineclubismo? Quem quer dar um golpe e ocupar ilegitimamente a direção do CNC? Porque querem dar um golpe nessa entidade? Quem são as duas pessoas que foram a direção do CNC durante todo processo de rearticulação do movimento (2004-2010) e que impediram a democratização da entidade? Por acaso o autor do artigo esqueceu-se, convenientemente, que também fez parte da direção do CNC nesse mesmo periodo e que durante um bom tempo acumulou a função de direção com a de presidente de federação estadual?
Algumas informações faço questão de desvelar, como quando menciona o fato de “houve quem, (os de sempre) sugerisse que se aproveitasse a oportunidade para mudar os estatutos do CNC”, poderia dizer explicitamente, eu, Gilvan Dockhorn, quem alertou para o fato de que qualquer mudança estatutária (especificamente tratávamos da alteração no prazo do mandato da nova diretoria, pois havia a sugestão nas listas de um mandato tampão) somente poderia ser feito em uma Assembléia Geral, maior instância decisória do CNC.
O artigo, ao não nominar ninguém, lança suspeitas e desconfiança sobre todos, jogando todos em um lixo de desonestidade.
Por outro lado, se o essencial em um artigo de elucidação dos ignorantes foi sonegado, minguando nomes, abunda o personalismo.
Vejamos: o marco politico da decadência do CNC e dependência em relação ao Estado foi “o afastamento do autor da coordenação das oficinas e do manual do cineclubismo”. Ao mencionar a Pré-Jornada Nacional de Cineclubes, realizada em 2012 em Santa Maria/RS, novamente o “eu que não fui convidado” surge. Em resposta à uma mensagem na lista “não sei se me convidarão para esta reunião” em referência à Assembléia Geral Extraordinária. Como se o autor fosse um neófito em questões estatutárias e não soubesse que todos os cineclubes filiados tem direito de participar das atividades do CNC (basta acionar o cineclube em que está vinculado e se habilitar a representá-lo).
Mas mesmo que o cineclube não esteja filiado ou em dia com suas anuidades, ou mesmo que o interessado sequer seja cineclubista, ainda assim todas as atividades do CNC são abertas à participação.
E eu me pergunto aqui sorvendo meu mate, se nossos meios de divulgação são mensagens via email para a lista CNC Diálogo e para as listas regionais convidando ou convocando todos os cineclubes, cineclubistas e interassados, por que UM cineclubista, deveria receber convite personalizado? Porque UM cineclubista mereceria um tratamento diferenciado. Obviamente esta deferência se justificaria se este UM fosse O elemento de salvação do cineclubismo brasileiro…
Desculpe-me Felipe, mas se esperas um convite especial, em papel timbrado e com o apelo de participação, sinto muito, isso não me parece condizer com a tua enfática defesa da democracia.

· Isolamento em listas:
Precisa ser dito que listas regionais foram criadas pela antiga equipe operacional da Ação Governamental Cine+Cultura.
Membros da direção do CNC fazem parte das listas dos seus respectivos estados de atuação e alguns membros da direção do CNC (presidente, vice presidente, secretário geral e diretor de comunicação) fazem parte de todas as lista.
Ninguém da direção do CNC tem acesso ou o poder de administração destas, somos membros apenas e não temos a possibilidade de incluir ou excluir ninguém. Assim, não há isolamento imposto pela direção do CNC que “emagrece” o debate sobre a situação política da entidade nacional.
Se vivemos a época da “cintura fina” dos debates não se pode creditar ao acesso – ou melhor, a falta dele – em listas que, segundo o próprio autor, dialogam com “cines” (ou “pontos de cultura com vocação digital”) criados pelo governo, despolitizados, que são meros exibibidores e que talvez nem mesmo “tenham uma atividade periódica”, ou seja, não estão à altura da tradição cineclubista.Sugiro pedir inclusão àqueles que podem realmente atendê-lo. Mas me parece incoerente solicitar inclusão em uma lista que apenas dialogo com estes “cines”. Como se diz aqui no Rio Grande do Sul, “pra que queimar pólvora em ximango?”.

· Da Assembléia Geral Extraordinária:
Grave é a alegação que está sendo convocada uma “Jornada exclusivamente eleitoral”.
Tal afirmação não condiz com a trajetória e a dedicação à defesa da legalidade e lisura dos processos estatutários desempenhada pelo autor.
Sendo extraordinária já denota o caráter de urgência e como tal suas limitações em mobilizar ou garantir subsídios à todos os participantes. Vivemos um impasse e temos o compromisso de dar respostas à esse impasse; se fosse de simples resolução teríamos realizado a Jornada Nacional…
A Assembléia Geral Extraordinária foi a solução, última, senão única, para resolver o embrólio jurídico e politico.
E daí os equívocos intencionais, pois o mesmo Felipe Macedo que cobra legalidade agora, sugeriu lá do gélido Canadá – e teve sua proposta aceita – uma ação que agora afirma ser ilegal ou “pequena gambiarra legal” para resolver uma situação limite.
Diga-se ainda, estranho sugerir uma proposta via internet, esta ser debatida e aceita e ainda assim afirmar a falta de lisura e democracia no processo…

· Crise na direção do CNC:

Como dito anteriormente, Felipe Macedo não menciona o fato de ter sido dirigente do CNC até pouco tempo atrás (2010).
O mesmo que cobra entrega, dedicação e desprendimento no desempenho das atividades da direção omite o fato de ter sido convidado, e não ter aceito, o cargo para assessorar a atual gestão. Possivelmente, se tivesse aceito, seguramente muitos de nossos erros teriam sido evitados e hoje a situação da entidade estaria muito melhor...
E é bom lembrar que um pouco do que é a direção e a base do movimento se deve também à direções e bases anteriores, o que somos é em parte o que nos legaram. Cortar a perspectiva histórica às vezes é bem conveniente.
Historicamente a direção do CNC se desintegra ao longo dos seus dois anos de gestão, isso é explicável primeiro pelo número de integrantes, depois pelo fato de que não há nenhum tipo de subsídios, temos de contar com festivais parceiros, por isso os raros encontros presenciais.
Isso explica a grande inovação que foram os encontros via web.
Sempre é bom lembrar que o cineclubismo é uma parte de nossas vidas, importante, fundamental, contudo, não é nossas vidas; para além do cineclube que atuamos e da condição provisória de dirigentes da entidade representativa dos cineclubes, temos questões de trabalho, relações afetivas, de saúde, mudanças drásticas e tal. Não condeno quem não pode cumprir seu mandato e suas designações, cada um tem suas razões e contribuíram na medida do possível.

A Necessidade da Assembléia Geral Extraordinária em Vitória
Não vou adentrar aqui na acusação de incapacidade do CNC de organizar Jornadas e Encontros presenciais, seria um desrespeito aos colegas da Bahia que tanto se esforçam ainda para a realização da Jornada Nacional de Cineclubes, ou dos organizadores da Pré Jornada Nacional de Cineclubes de 2012 em Santa Maria/RS.
Considero a tual composição do Conselho de Representantes como a mais representativa de todos os tempos e original em sua forma de escolha, basta lembrar-mos das questões envolvendo os representantes do Pará, impossibilitado de realizar um único encontro presencial ou uma única reunião virtual.
Se definimos que seria possível organizar a Jornada Nacional até março de 2013, foi exatamente porque acreditamos na possibilidade e nas negociações que estavam (e estão) em curso.
A realização da Jornada Nacional na Bahia (no interior como consta no projeto) será uma enorme conquista, como também o serão a proposta da Distribuidora Cineclubista e a operacionalização da Filmoteca Carlos Vieira, contudo, até a concretização destes projetos temos de resolver a questão jurídico/política do CNC.
O que me parece razoável é que seria mais adequado uma direção com representatividade limitada (em que situação uma direção representaria a totalidade de seus quadros?) do que uma direção sem representatividade alguma.
Se, como defende Felipe Macedo, para não cair na ilegalidade, a direção do CNC deveria realizar eleições até dezembro de 2012, esta somente seria possível – dado a impossibilidade de realização da Jornada Nacional – em uma Assembléia Geral Extraordinária. Então pergunto, se fosse em dezembro, a convocação seria menos “frágil”?
O fato é que os cartórios não aceitam e não reconhecem a atual diretoria do CNC como legal após março de 2013. Esperamos até o limite para que a organização da Jornada Nacional definisse a situação. O limite estatutário foi janeiro de 2013, respeitando os 60 dias prévios para exatamente termos tempo hábil de convocarmos uma Assembléia Geral Extraordinária. Não havia outra solução, a não ser atitude ilegais e imorais.
Mas pergunto, onde se afirma a convocação de uma JORNADA exclusivamente eleitoral? E onde está a defesa de uma eleição indireta?
A convocação por parte da diretoria de uma Assembléia Geral Extraordinária não consta nos estatutos do CNC? Desde quando essa ação é um ato antidemocrático?
A polêmica decisão de adiar a Jornada e, ato contínuo extender o mandato da gestão atual, somente são casos únicos (e não tenho certeza disso) por conta do processo de consulta às bases, tudo foi tratado abertamente.
Se formos adentrar nas questões de falta de representatividade, perguntaria, quantos delegados de cineclubes participaram ativamente das decisões nas Jornadas de Santa Maria (2006), Belo Horizonte (2008) e Moreno (2010)?
E a nova gestão que assumirá em 29 de março em Vitória terá seu mandato curto ou longo conforme decisão da plenária.
Deve-se ser dito que o CNC está inteiramente regularizado, com as contas em dia apesar da quase completa ausência de recursos públicos.

A miopia do olhar externo
É bom lembrar, que se historicamente o CNC estabeleceu, senão uma estrutura, posturas centralizadores, tal modelo foi definido em gestões que tiveram a participação direta de Felipe Macedo. Creio que avançamos muito nesse sentido e o CNC se renovou.
Percebo a horizontalidade ou como queiram definir nas formas de encaminhamento dos debates, embates e decisões, questões que foram abertamente tratadas demonstrando inclusive dissensos internos.
Lembro que assim que a atual gestão assumiu, tivemos um entrevero com a representação da região Centro-Oeste, logo depois, uma grande discussão com o Coletivo Fora do Eixo, na etapa seguinte embates sucessivos com a Secretária do Audiovisual, depois as formas de encaminhamento da composição do Conselho de Representantes.
Todas foram publicizadas assim como os resumos das reuniões da diretoria, todas as correspondências oficiais do CNC, os relatórios da gestão, o parecer do Conselho de Representantes e as definições da Pré-Jornada Nacional de 2012.
Foram realizados os Seminários Cineclubismo, Cinema e Educação, e já mencionada Pré-Jornada Nacional de Cineclubes, histórica por conta da transmissão integral pela web.
Alegar que “é ficcional a contagem de membros do CNC” é demonstração de olhar míope.
Certamente a maioria dos cineclubes estão inadimplentes, afrontando o art.13 do estatuto do CNC, contudo, em todas as Assembléias Gerais das últimas Jornadas (e aqui me refiro à Santa Maria em 2006, Belo Horizonte em 2008 e Moreno em 2010) se decretou a isenção de tal taxa na medida em que se reconhecia as dificuldades enfrentadas pelos cineclubes.
O CNC conta atualmente com 455 cineclubes e entidades regionais filiadas e somente por desconhecimento ou má fé é possível alegar que estes reconhecidos apenas pelos “e-mails recebidos”, temos um cadastro completo com informações que poderiam alterar os argumentos descritos por Felipe Macedo.
Alternativa Sem Perspectiva: Como Realizar uma ampla Jornada Nacional de Cineclubes?
Se a situação do movimento cineclubista é definitiva e terminal, não há o que ser feito,o que não tem solução, solucionado está! Basta agir como a ONU: apontar culpados e contar os mortos!
Não creio nisso. O suposto paciente moribundo está melhor do que desenhado no artigo de Felipe Macedo.
Concretamente, sem auxílio de recursos públicos qualquer iniciativa de Jornada Nacional nos moldes propostos no artigo de Felipe Macedo é inviável.
Mais de um delegado por cineclube, chegaríamos à 1.000 delegados. Mais dias de debates (cinco seria o ideal) com os deslocamentos teríamos uma semana de encontro. A criação de uma comissão não resolveria a questão de recursos para o deslocamento, volto a perguntar, sem auxílio público, de onde sairia o recurso?
Alimentação e hospedagem: em outra mensagem Felipe Macedo sugere a utilização de sacos de dormir e a o uso de merenda escolar. Com o verdeiro temor que a Lei de Responsabilidade Fiscal impõe, qual prefeitura, secretário de educação ou cultura aceitaria isso? Quem está produzindo peças de ficção?
Devemos nos mobilizar para a Assembléia Geral Extraordinária em Vitória/ES. Nela poderemos pensar juntos formas de garantir, e aí concordo com o artigo, uma Comissão Nacional de Apoio para a organização da Jornada concomitante à uma nova nominata para o CNC.
Te convido Felipe Macedo, a participar da organização dos eventos.
Assim, entendo que a grande contradição do artigo de Felipe Macedo é esperar que esta mesma base cineclubista dividida em “isentos de responsabilidade”;“dedicados a acabar com o cineclubismo associativo e democrático”; “entusiasmados e ingênuos inexperientes” e “maioria silenciosa” possa organizar um evento nacional, com representatividade, com compromisso politico com a organização do público e dinamizar o movimento. Como diria o velho bolchevique “Que Fazer?”.

Gilvan Veiga Dockhorn
Cineclube Abelin Nas Nuvens
Silveira Martins/Santa Maria, fevereiro, 2013

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