Participantes presenciais da Pré-jornada Nacional de Cinecubes, em Santa Maria/ RS - julho de 2012. |
A Prática e a Teoria no Cineclubismo
Brasileiro
por Gilvan Veiga Dockhorn
Escrevo de imediato que este texto é
um conjunto de pensamentos que me ocorreu após leitura atenta do
artigo Fique são ou A horizontalidade rasteira - Desinformação eilusão de Felipe Macedo publicizado na lista CNC Diálogo.
Escrevo também que ao contrário do
referido artigo não pretendo - por total ausência de competência
ou sapiência mesmo - “esclarecer os menos informados, sobre as
diversas ficções que estão prevalecendo neste momento praticamente
caótico do nosso movimento”. Um dia, quem sabe, chegarei lá…
Mas antes de tudo, saúdo a
possibilidade do debate e discussão oriundas do artigo provocativo
que Felipe Macedo postou. Sua farta produção tem feito avançar
questões importantes no estudo do cineclubismo como a adoção do
Dia do Público e temas como o Primeiro Cineclube e por consequencia
o Centenário do Cineclubismo. O esforço teórico deve ser
reconhecido e discutir essa produção é uma demonstração de
reconhecimento e respeito ao autor, mesmo que o conteúdo do artigo
não trate seus possíveis interlocutores de forma respeitosa.
Contudo, expor idéias e teses inclui
estar aberto à crítica e a refutação, mais ainda em se tratando o
artigo de um conjunto de análises e posições que podem ser
consideradas, no mínimo, polêmicas e não consensuais.
Discutindo a Tese do Catastrofismo
Cineclubista
Não me parece correta a afirmação
que dá argumento e sustenta uma das teses centrais do artigo de
Felipe Macedo, a saber, que o “movimento cineclubista brasileiro
está passando por uma crise bastante séria” muito menos que esta
suposta crise seja “talvez terminal”.
Talvez tomado pelas previções e
profecias de final do mundo muito em voga em 2012, Felipe Macedo
também tenha se empolgado à ponto de decretar o final do movimento
cineclubista brasileiro para os próximos tempos.
Porém devo fazer justiça, há muitos
anos Felipe Macedo vem decretando o final do movimento cineclubista
organizado, quem sabe um dia acerte, mas não será agora.
A tese de crise terminal é frágil.
Primeiro porque teria dificuldade, e creio que muitos com capacidade
intelectual mediana e sinapses normais assim o teriam, em identificar
e dar características uniformes à prática cineclubista e as
diversas formas de atuação e organização cineclubistas espalhadas
pelo país. E são muitas mesmo…
Como que para apontar os responsáveis
por essa suposta crise terminal, Felipe Macedo classifica os
cineclubistas em quatro grupos, e os listo abaixo conforme o artigo
define
1) “os isentos de
responsabilidade”;
2) “os dedicados a acabar com
o cineclubismo associativo e democrático”;
3) “os entusiasmados mas
ingênuos e inexperientes”,
4) “a maioria silenciosa”.
Me parece complexo, discutível e
superficial essa imposição classificatória, mas enfim, deve ser um
elemento democrático que me escapa.
Ainda tento me inserir e inserir meus
companheiros de Cineclube Abelin Nas Nuvens em uma destas categorias…
E perguntaria, em qual destas você está Felipe?
Obviamente, se me parece difícil dar
concretude monolítica ao “movimento cineclubista brasileiro”
mais difícil ainda identificar uma crise, e mais ainda determinar ou
sentenciar que esta é terminal no cineclubismo brasileiro. E mesmo
se crise houvesse, me parece que muito árdua é a tarefa de
encontrar os salvadores do cineclubismo brasileiro, mesmo que
candidatos não faltem.
Seria interessante ampliar o leque de
análise e perceber a conjuntura em que se insere não apenas o
cineclubismo organizado ou modalidades de expressão/interação
cultural e simbólica em contextos associativos, mas todos os
movimentos sociais desde o advento do verdadeiro “Estado de Bem
Estar Social Tardio” com os mandatos de Lula e de Dilma.
Por certo a partir do primeiro governo
Lula (2003) avançou a participação do Estado na cultura em
contraposição ao Estado mínimo dos períodos Collor, Itamar e
Fernando Henrique. Se efetivou um novo modelo de gestão cultural com
o ministro Gilberto Gil através de canais de interlocução entre a
sociedade civil e o MinC (também época de rearticulação do
movimento cineclubista). Novas definições conceituais para a
cultura tendo por base sua dimensão antropológica acabaram por
instituír um conjunto de políticas públicas diferenciadas. Sem
mencionar o fato da criação efetiva de um Ministério da Cultura
até então inexistente.
Por outro lado, vários militantes da
cultura foram alçados à cargos governamentais e o governo criou
estratégias para envolver os movimentos pela cultura em sua
plataforma política. Isso acabou, no mínimo, engessando ou
cooptando os movimentos sociais.
Incrivelmente essa discussão não é
realizada ou é exposta ligeiramente, parecendo ao leitor que o
cineclubismo age de moto próprio, sem nenhuma relação com os
processos sociais, culturais, econômicos e politicos em curso. Ou
seja, o momento atual do cineclubismo, das ações dos cineclubes e
do CNC estão descontextualizados, logo, se as coisas não ocorrem,
ou não se desenvolvem como supostamente deveriam, o problema é
exclusivamente da enganosa direção da entidade nacional dos
cineclubes ou de sua despolitizada base, inerte e inoperante.
Uma leitura do velho Marx ajudaria,
pois à muito mencionou que os homens fazem sua própria história,
mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua
escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e
transmitidas pelo passado.
Creio que ao sentenciar o apocalipse de
uma atividade centenária e uma organização com mais de 50 anos
seria adequado ser feita menção ao processo que desarticulou grande
parte dos movimentos sociais, o neoliberalismo que chegou ao Brasil
nos anos de 1990, alterou as estruturas, o cenário e os movimentos
politicos (precarização das relações de trabalho, privatização
do patrimônio estatal, abertura dos mercados internos ao capital
internacional, recolonização imperialista, imposição do
pensamento único…), mudou não somente as formas de luta, mas
essencialmente a disposição para a luta.
No início do século XXI, as políticas
de redistribuição de renda e inversão de prioridades nas políticas
governamentais (assistencialistas para alguns) fizeram com que, salvo
raras exceções, os movimentos sociais passassem do embate à
adesão. A participação nos projetos governamentais e a
dependência econômica aos governos fez com que as críticas às
estruturas da sociedade capitalista cedessem lugar à um certo tipo
de pacto de silêncio, com isso adentramos em um período explícito
de acomodação, dependência e brados por um Estado burguês
honesto.
Mesmo assim as lutas não cessaram e o
ativismo seguiu.
A preocupação com a questão da
autonomia foi tamanha que criamos um grupo de trabalho na última
Jornada Nacional de Cineclubes em Moreno/PE para debatermos a
autosustentabilidade da prática cineclubista.
Nesse cenário generalizado de
desorientação política, estão inseridos o cineclubismo organizado
e sua entidade nacional.
A partir dessa contextualização
poderemos ter um panorama mais próximo do real a respeito da prática
e atuação política dos cineclubes nos últimos tempos.
Um exercício interessante seria
observar e realizar uma análise atenta os dados provenientes da
campanha de recadastramento do CNC (dados parciais apresentados na
Pré Jornada Nacional de 2012 em Santa Maria/RS e divulgados nas
listas) para perceber que muitos cineclubes são para além de “uma
atividade mais ou menos periódica de exibição”. Se configuram
como a única possibilidade de comunidades terem acesso à produção
audiovisual e ao mesmo tempo se constituem nos únicos locais de
socialização que não operam na lógica do mercado.
Entre os 455 cineclubes e entidades
regionais filiados, temos 70% na região historicamente mais
desfavorecida do país – em termos de projetos de desenvolvimento –
o norte/nordeste. Se tivesse observado os dados perceberia Felipe que
68% dos cineclubes se localizam no interior dos estados e que, em
números absolutos, o Pará tem 44% dos seus municípios com
cineclubes.
Possivelmente o interesse destes
cineclubes estejam distantes da idealização política que se
pretende. Possivelmente, os cineclubes dialoguem mais com questões
práticas de sua atvidade, como a questão de acervo, garantia de
espaço de exibição, equipamento, manutenção das sessões, debate
sobre direitos autorais, organização em rede, formação de público
e apropriação da linguagem cinematográfica.
Esses temas povoam as necessidades
imediatas dos cineclubes, antes da tarefa histórica (segundo os
teóricos) que os cineclubes deveriam desempenhar, ou seja, ainda se
luta pela sobrevivência da própria atividade e isso são formas de
luta e manifestação da politização dos cineclubes em tempos onde
prevalecem os projetos individuais e o entretenimento estéril.
Isso só sabe quem está na luta, quem
arruma salas (em sua maioria improvisadas), organiza ciclos, debates,
oficinas de formação, mostras, busca mecanismos de divulgação, se
preocupa com os caixas de som estouradas, cabos rompidos e dvds que
travam, corre atrás de verbas e passa um boa parte de seus dias
ligado à efetivação das sessões.
Pode parecer pouco ou prática alienada
para quem espera que os cineclubes assumam a vanguarda revolucionária
e invertam o desigual modelo audiovisual brasileiro (coisa que até
aqui não foi realizado nem mesmo em etapas exuberantes do
cineclubismo organizado), mas é muito para quem historicamente foi
excluído de todos os processos de acesso, fruição e produção de
bens culturais imateriais.
O público destes cineclubes não se
constitui apenas como platéia ou massa ignorante a ser alfabetizada,
é muita presunção desqualificar o processo em curso ou as
atividades que não chegam às listas, blogs ou não sirvam de base
para trabalhos acadêmicos.
Concomitante à tarefa de pensar a
dinamização da entidade representativa dos cineclubes (o CNC),
temos de refletir sobre as formas de existência dos cineclubes e as
imensas dificuldades que se apresentam em garantir a periodicidade de
suas ações.
Basta ver que são raros, menos de 2%,
os cineclubes que mantém a prática de cobrança de taxa de
manutenção pois em sua maioria o público não tem condições para
tal. Com todas as limitações que possam ser creditadas, os
programas governamentais e as parcerias com instituições
(universidades, escolas, associações comunitárias e sindicatos)
garantem o funcionamento da quase totalidade dos cineclubes no país.
Também é presunçosa a observação
do cineclubismo brasileiro da estrita (e estreita) perspectiva de uma
lista de debates e informação; o cineclubismo brasileiro não se
resume à participações na lista CNC Diálogo mesmo que esta tenha
1260 assinantes (sendo que nem todos estão vinculados à cineclubes
em atividade).
Tão limitada quanto à participação
nas listas (uma das críticas feitas no artigo) é se basear nela
para cravar que o cineclubismo nada produz à altura dos teóricos
cineclubistas (ou cineclubistas de caneta e papel).
Estas posições nos mostram uma
prepotência digna das vetustas intelectualidades esquerdistas
brasileiras que não percebem luta quando não são protagonistas
desta ou mesmo quando não são chamadas à liderar tais lutas.
Felipe Macedo afirma em seu artigo que
temos um movimento desorganizado que é ignorado pelo Estado e
sociedade. Não chego a discordar de todo, mas ousaria dizer que
talvez o cineclubismo contemporâneo tenha mudado ao longo dos anos e
que possivelmente, o Estado e a sociedade tenham se alterado o
suficiente para que contextos associativos não tenham a menor
influência em políticas públicas ou programas governamentais.
Não apenas o cineclubismo, mas
sindicatos (vide a greve dos professores e técnicos administrativos
das universidades federais), associações e movimentos sociais
diversos (como o MST) pouco tem influenciado nas decisões de Estado.
Não percebo o cineclubismo isolado,
atomizado ou muito menos que esteja vivendo uma das “entresafras
históricas em que o cineclubismo some para o opinião pública e a
sociedade, mantendo-se apenas como atividades singulares e
irregulares”.
Não teria a pretensão de afirmar para
onde caminha o cineclubismo, mas posso garantir que o CNC, como
entidade representativa dos cineclubes organizados, irá para onde
sua base assim desejar, para o bem e para o mal.
Em que pese algumas tendências,
acredito que a palavra cineclube ainda seja suficientemente ampla
para designar o conjunto de atividades que vão desde uma sessão de
exibição de conteúdo audiovisual até os espaços que se pretendem
devolver ao público suas condições de apropriação dos sentidos
da produção cultural. Aqui lembro das acaloradas discussões na
Jornada Nacional de Santa Maria em 2006 quando da possibilidade de
definição de um conceito único de cineclube para fins de
regulamentação da atividade pela Ancine.
E se se identifica que a entidade
nacional dos cineclubes está com dificuldades (o que não seria
novidade pois já esteve em outros momentos e em outras décadas,
chegando mesmo a acabar) o mesmo não se pode dizer dos cineclubes,
estes estão à pleno. A entidade em nenhum momento pode estar acima
da prática e da atividade cineclubista.
Creio que uma análise construtiva e
propositiva teria de identificar as peculiaridades do cineclubismo no
Brasil que não apenas o distinguem de outras experiências no mundo
como não cabem em uma designação única; seria possível falar em
cineclubismo do Brasil? Ou o correto seria mencionar as mais diversas
experiências do cineclubismo brasileiro.
Possivelmente estas caracterísiticas
multiculturais dos cineclubes definam um tanto das dificuldades de
uma instituição nacional que pretenda representá-los. Basta ver
que a direção do CNC é composta de 26 membros de 16 estados
diferentes e o Conselho de Representantes do CNC por 13 membros de 10
estados diferentes.
Ao todo, 39 membros de todas as regiões
do país, do Acre ao Rio Grande do Sul, de Pernambuco à Goiânia, ou
seja, para garantir a necessária representatividade e legitimidade,
a estrutura do CNC deixou de ser funcional. Temos de pensar em como
equalizar a representação e a operacionalidade da entidade.
Equívocos intensionais
Passo a debater alguns temas tratados
no artigo que, com a trajetória do autor, não podem ser observados
como simples equívocos.
· Personalização e Omissão de
personagens:
Se o artigo pretende informar a grande
massa de desinformados retirando-os do verdadeiro limbo em que vivem,
seria importante que as várias passagens onde acusações e ilações
são feitas sejam credidatas aos responsáveis. Que informação é
essa que ignora os agentes e os atores dos processos.
Assim perguntaria, quem são os que
querem destruir o cineclubismo? Quem quer dar um golpe e ocupar
ilegitimamente a direção do CNC? Porque querem dar um golpe nessa
entidade? Quem são as duas pessoas que foram a direção do CNC
durante todo processo de rearticulação do movimento (2004-2010) e
que impediram a democratização da entidade? Por acaso o autor do
artigo esqueceu-se, convenientemente, que também fez parte da
direção do CNC nesse mesmo periodo e que durante um bom tempo
acumulou a função de direção com a de presidente de federação
estadual?
Algumas informações faço questão de
desvelar, como quando menciona o fato de “houve quem, (os de
sempre) sugerisse que se aproveitasse a oportunidade para mudar os
estatutos do CNC”, poderia dizer explicitamente, eu, Gilvan
Dockhorn, quem alertou para o fato de que qualquer mudança
estatutária (especificamente tratávamos da alteração no prazo do
mandato da nova diretoria, pois havia a sugestão nas listas de um
mandato tampão) somente poderia ser feito em uma Assembléia Geral,
maior instância decisória do CNC.
O artigo, ao não nominar ninguém,
lança suspeitas e desconfiança sobre todos, jogando todos em um
lixo de desonestidade.
Por outro lado, se o essencial em um
artigo de elucidação dos ignorantes foi sonegado, minguando nomes,
abunda o personalismo.
Vejamos: o marco politico da decadência
do CNC e dependência em relação ao Estado foi “o afastamento do
autor da coordenação das oficinas e do manual do cineclubismo”.
Ao mencionar a Pré-Jornada Nacional de Cineclubes, realizada em 2012
em Santa Maria/RS, novamente o “eu que não fui convidado” surge.
Em resposta à uma mensagem na lista “não sei se me convidarão
para esta reunião” em referência à Assembléia Geral
Extraordinária. Como se o autor fosse um neófito em questões
estatutárias e não soubesse que todos os cineclubes filiados tem
direito de participar das atividades do CNC (basta acionar o
cineclube em que está vinculado e se habilitar a representá-lo).
Mas mesmo que o cineclube não esteja
filiado ou em dia com suas anuidades, ou mesmo que o interessado
sequer seja cineclubista, ainda assim todas as atividades do CNC são
abertas à participação.
E eu me pergunto aqui sorvendo meu
mate, se nossos meios de divulgação são mensagens via email para a
lista CNC Diálogo e para as listas regionais convidando ou
convocando todos os cineclubes, cineclubistas e interassados, por que
UM cineclubista, deveria receber convite personalizado? Porque UM
cineclubista mereceria um tratamento diferenciado. Obviamente esta
deferência se justificaria se este UM fosse O elemento de salvação
do cineclubismo brasileiro…
Desculpe-me Felipe, mas se esperas um
convite especial, em papel timbrado e com o apelo de participação,
sinto muito, isso não me parece condizer com a tua enfática defesa
da democracia.
· Isolamento em listas:
Precisa ser dito que listas regionais
foram criadas pela antiga equipe operacional da Ação Governamental
Cine+Cultura.
Membros da direção do CNC fazem parte
das listas dos seus respectivos estados de atuação e alguns membros
da direção do CNC (presidente, vice presidente, secretário geral e
diretor de comunicação) fazem parte de todas as lista.
Ninguém da direção do CNC tem acesso
ou o poder de administração destas, somos membros apenas e não
temos a possibilidade de incluir ou excluir ninguém. Assim, não há
isolamento imposto pela direção do CNC que “emagrece” o debate
sobre a situação política da entidade nacional.
Se vivemos a época da “cintura fina”
dos debates não se pode creditar ao acesso – ou melhor, a falta
dele – em listas que, segundo o próprio autor, dialogam com
“cines” (ou “pontos de cultura com vocação digital”)
criados pelo governo, despolitizados, que são meros exibibidores e
que talvez nem mesmo “tenham uma atividade periódica”, ou seja,
não estão à altura da tradição cineclubista.Sugiro pedir
inclusão àqueles que podem realmente atendê-lo. Mas me parece
incoerente solicitar inclusão em uma lista que apenas dialogo com
estes “cines”. Como se diz aqui no Rio Grande do Sul, “pra que
queimar pólvora em ximango?”.
· Da Assembléia Geral
Extraordinária:
Grave é a alegação que está sendo
convocada uma “Jornada exclusivamente eleitoral”.
Tal afirmação não condiz com a
trajetória e a dedicação à defesa da legalidade e lisura dos
processos estatutários desempenhada pelo autor.
Sendo extraordinária já denota o
caráter de urgência e como tal suas limitações em mobilizar ou
garantir subsídios à todos os participantes. Vivemos um impasse e
temos o compromisso de dar respostas à esse impasse; se fosse de
simples resolução teríamos realizado a Jornada Nacional…
A Assembléia Geral Extraordinária foi
a solução, última, senão única, para resolver o embrólio
jurídico e politico.
E daí os equívocos intencionais, pois
o mesmo Felipe Macedo que cobra legalidade agora, sugeriu lá do
gélido Canadá – e teve sua proposta aceita – uma ação que
agora afirma ser ilegal ou “pequena gambiarra legal” para
resolver uma situação limite.
Diga-se ainda, estranho sugerir uma
proposta via internet, esta ser debatida e aceita e ainda assim
afirmar a falta de lisura e democracia no processo…
· Crise na direção do CNC:
Como dito anteriormente, Felipe Macedo
não menciona o fato de ter sido dirigente do CNC até pouco tempo
atrás (2010).
O mesmo que cobra entrega, dedicação
e desprendimento no desempenho das atividades da direção omite o
fato de ter sido convidado, e não ter aceito, o cargo para
assessorar a atual gestão. Possivelmente, se tivesse aceito,
seguramente muitos de nossos erros teriam sido evitados e hoje a
situação da entidade estaria muito melhor...
E é bom lembrar que um pouco do que é
a direção e a base do movimento se deve também à direções e
bases anteriores, o que somos é em parte o que nos legaram. Cortar a
perspectiva histórica às vezes é bem conveniente.
Historicamente a direção do CNC se
desintegra ao longo dos seus dois anos de gestão, isso é explicável
primeiro pelo número de integrantes, depois pelo fato de que não há
nenhum tipo de subsídios, temos de contar com festivais parceiros,
por isso os raros encontros presenciais.
Isso explica a grande inovação que
foram os encontros via web.
Sempre é bom lembrar que o
cineclubismo é uma parte de nossas vidas, importante, fundamental,
contudo, não é nossas vidas; para além do cineclube que atuamos e
da condição provisória de dirigentes da entidade representativa
dos cineclubes, temos questões de trabalho, relações afetivas, de
saúde, mudanças drásticas e tal. Não condeno quem não pode
cumprir seu mandato e suas designações, cada um tem suas razões e
contribuíram na medida do possível.
A Necessidade da Assembléia Geral
Extraordinária em Vitória
Não vou adentrar aqui na acusação de
incapacidade do CNC de organizar Jornadas e Encontros presenciais,
seria um desrespeito aos colegas da Bahia que tanto se esforçam
ainda para a realização da Jornada Nacional de Cineclubes, ou dos
organizadores da Pré Jornada Nacional de Cineclubes de 2012 em Santa
Maria/RS.
Considero a tual composição do
Conselho de Representantes como a mais representativa de todos os
tempos e original em sua forma de escolha, basta lembrar-mos das
questões envolvendo os representantes do Pará, impossibilitado de
realizar um único encontro presencial ou uma única reunião
virtual.
Se definimos que seria possível
organizar a Jornada Nacional até março de 2013, foi exatamente
porque acreditamos na possibilidade e nas negociações que estavam
(e estão) em curso.
A realização da Jornada Nacional na
Bahia (no interior como consta no projeto) será uma enorme
conquista, como também o serão a proposta da Distribuidora
Cineclubista e a operacionalização da Filmoteca Carlos Vieira,
contudo, até a concretização destes projetos temos de resolver a
questão jurídico/política do CNC.
O que me parece razoável é que seria
mais adequado uma direção com representatividade limitada (em que
situação uma direção representaria a totalidade de seus quadros?)
do que uma direção sem representatividade alguma.
Se, como defende Felipe Macedo, para
não cair na ilegalidade, a direção do CNC deveria realizar
eleições até dezembro de 2012, esta somente seria possível –
dado a impossibilidade de realização da Jornada Nacional – em uma
Assembléia Geral Extraordinária. Então pergunto, se fosse em
dezembro, a convocação seria menos “frágil”?
O fato é que os cartórios não
aceitam e não reconhecem a atual diretoria do CNC como legal após
março de 2013. Esperamos até o limite para que a organização da
Jornada Nacional definisse a situação. O limite estatutário foi
janeiro de 2013, respeitando os 60 dias prévios para exatamente
termos tempo hábil de convocarmos uma Assembléia Geral
Extraordinária. Não havia outra solução, a não ser atitude
ilegais e imorais.
Mas pergunto, onde se afirma a
convocação de uma JORNADA exclusivamente eleitoral? E onde está a
defesa de uma eleição indireta?
A convocação por parte da diretoria
de uma Assembléia Geral Extraordinária não consta nos estatutos do
CNC? Desde quando essa ação é um ato antidemocrático?
A polêmica decisão de adiar a Jornada
e, ato contínuo extender o mandato da gestão atual, somente são
casos únicos (e não tenho certeza disso) por conta do processo de
consulta às bases, tudo foi tratado abertamente.
Se formos adentrar nas questões de
falta de representatividade, perguntaria, quantos delegados de
cineclubes participaram ativamente das decisões nas Jornadas de
Santa Maria (2006), Belo Horizonte (2008) e Moreno (2010)?
E a nova gestão que assumirá em 29 de
março em Vitória terá seu mandato curto ou longo conforme decisão
da plenária.
Deve-se ser dito que o CNC está
inteiramente regularizado, com as contas em dia apesar da quase
completa ausência de recursos públicos.
A miopia do olhar externo
É bom lembrar, que se historicamente o
CNC estabeleceu, senão uma estrutura, posturas centralizadores, tal
modelo foi definido em gestões que tiveram a participação direta
de Felipe Macedo. Creio que avançamos muito nesse sentido e o CNC se
renovou.
Percebo a horizontalidade ou como
queiram definir nas formas de encaminhamento dos debates, embates e
decisões, questões que foram abertamente tratadas demonstrando
inclusive dissensos internos.
Lembro que assim que a atual gestão
assumiu, tivemos um entrevero com a representação da região
Centro-Oeste, logo depois, uma grande discussão com o Coletivo Fora
do Eixo, na etapa seguinte embates sucessivos com a Secretária do
Audiovisual, depois as formas de encaminhamento da composição do
Conselho de Representantes.
Todas foram publicizadas assim como os
resumos das reuniões da diretoria, todas as correspondências
oficiais do CNC, os relatórios da gestão, o parecer do Conselho de
Representantes e as definições da Pré-Jornada Nacional de 2012.
Foram realizados os Seminários
Cineclubismo, Cinema e Educação, e já mencionada Pré-Jornada
Nacional de Cineclubes, histórica por conta da transmissão integral
pela web.
Alegar que “é ficcional a contagem
de membros do CNC” é demonstração de olhar míope.
Certamente a maioria dos cineclubes
estão inadimplentes, afrontando o art.13 do estatuto do CNC,
contudo, em todas as Assembléias Gerais das últimas Jornadas (e
aqui me refiro à Santa Maria em 2006, Belo Horizonte em 2008 e
Moreno em 2010) se decretou a isenção de tal taxa na medida em que
se reconhecia as dificuldades enfrentadas pelos cineclubes.
O CNC conta atualmente com 455
cineclubes e entidades regionais filiadas e somente por
desconhecimento ou má fé é possível alegar que estes reconhecidos
apenas pelos “e-mails recebidos”, temos um cadastro completo com
informações que poderiam alterar os argumentos descritos por Felipe
Macedo.
Alternativa Sem Perspectiva: Como
Realizar uma ampla Jornada Nacional de Cineclubes?
Se a situação do movimento
cineclubista é definitiva e terminal, não há o que ser feito,o que
não tem solução, solucionado está! Basta agir como a ONU: apontar
culpados e contar os mortos!
Não creio nisso. O suposto paciente
moribundo está melhor do que desenhado no artigo de Felipe Macedo.
Concretamente, sem auxílio de recursos
públicos qualquer iniciativa de Jornada Nacional nos moldes
propostos no artigo de Felipe Macedo é inviável.
Mais de um delegado por cineclube,
chegaríamos à 1.000 delegados. Mais dias de debates (cinco seria o
ideal) com os deslocamentos teríamos uma semana de encontro. A
criação de uma comissão não resolveria a questão de recursos
para o deslocamento, volto a perguntar, sem auxílio público, de
onde sairia o recurso?
Alimentação e hospedagem: em outra
mensagem Felipe Macedo sugere a utilização de sacos de dormir e a o
uso de merenda escolar. Com o verdeiro temor que a Lei de
Responsabilidade Fiscal impõe, qual prefeitura, secretário de
educação ou cultura aceitaria isso? Quem está produzindo peças de
ficção?
Devemos nos mobilizar para a Assembléia
Geral Extraordinária em Vitória/ES. Nela poderemos pensar juntos
formas de garantir, e aí concordo com o artigo, uma Comissão
Nacional de Apoio para a organização da Jornada concomitante à uma
nova nominata para o CNC.
Te convido Felipe Macedo, a participar
da organização dos eventos.
Assim, entendo que a grande contradição
do artigo de Felipe Macedo é esperar que esta mesma base
cineclubista dividida em “isentos de responsabilidade”;“dedicados
a acabar com o cineclubismo associativo e democrático”;
“entusiasmados e ingênuos inexperientes” e “maioria
silenciosa” possa organizar um evento nacional, com
representatividade, com compromisso politico com a organização do
público e dinamizar o movimento. Como diria o velho bolchevique “Que
Fazer?”.
Gilvan Veiga Dockhorn
Cineclube Abelin Nas Nuvens
Silveira Martins/Santa Maria,
fevereiro, 2013
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