terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

"Nós de Aruanda" - laboratório de arte e culturas de terreiros abre a programação do projeto Artistas de Terreiros.

A exposição de artes visuais em homenagem à Mãe Doca foi o que motivou o encontro entre artistas de terreiros e pesquisadores da UFPA
Foi um dia inteiro de intenso debate sobre o pequeno recorte das poéticas, praticadas pelos artistas oriundos de comunidades de terreiros da zona metropolitana de Belém, que será exposto na Galeria Theodoro Braga do CENTUR à partir de 7 de março de 2013. A exposição faz parte da celebração da passagem do dia 18 de março em memória da luta de Mãe Doca pelo direito de consciência religiosa e de manutenção das tradições de matrizes africanas na Amazônia brasileira.
O laboratório aconteceu em rodas de conversa que proporcionaram o diálogo intercultural entre a universidade, o universo das artes visuais e as africanidades presentes nas diversas tradições afro-amazônicas dos terreiros de Belém. Nas rodas de conversa, os artistas e pesquisadores foram encontrando interesses comuns que motivaram a formação de parcerias para a construção da exposição que abre no CENTUR na quinta-feira 7 de março.

As propostas de trabalho apresentadas apontam para a pluralidade de entendimentos sobre a arte, mas em comum trazem a coletividade, o cotidiano dos terreiros, as lutas por cidadania, a política afirmativa, as práticas ritualisticas, a memória afetiva e a memória de vida como elementos essenciais para a construção de mundo que resulta na poética desses artistas, assim como para a compreensão teórica para a construção dos paradigmas estéticos afro-amazônicos, uma futura estética que ao mesmo tempo são várias e que tem a potência da estética diversificada e construída pela experiência plural afro-brasileira.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Denúncia de homofobia marca apuração das notas do carnaval de Belém.

Edson Neves, Porta-estandarte do Bole-bole, pode ter sido alvo de homofobia.

Circula pelas redes sociais denúncia de homofobia contra o sr. Éder Cristino, que julgou a apresentação dos Porta-Estandartes para o concurso do desfile das Escolas de Samba do grupo especial de Belém, concurso promovido pela FUMBEL/ Prefeitura Municipal de Belém.
Existe critério de julgamento para cada quesito, no caso do Porta-Estandarte os critérios determinados pela FUMBEL são: ser sambista nato; conduzir o estandarte de forma majestosa, sem deixar que ele se arraste, embole-se, etc.; apresentar a agremiação aos presentes, pois ele apresenta o título do enredo; sua adequação ao enredo quanto à indumentária, bem como sua colocação distribuída no contexto das alas. Constitui erro grave: quebra ou perda, mesmo que acidental, de partes da fantasia ou do próprio Porta-Estandarte; e a queda do sambista.
A jurada que deu 10 se baseou nesses critérios, mas a denúncia que está publicada nas redes sociais diz que o julgador Éder Cristino considerou que Edson Neves cometeu um erro grave de sexualidade. 
É inadimissível manifestações de homofobia por parte de qualquer cidadão, ainda mais quando registrado em comentários de jurado de carnaval. Sugiro aos carnavalescos (que tem a prova material expressa nos mapas de notas) que denunciem o fato na delegacia de crimes discriminatórios e que solicitem para a FUMBEL a anulação dos votos desse jurado homofóbico e a recontagem da apuração do concurso do desfile das escolas de samba de Belém.


segue cópia da denúncia no perfil de Margarida Gorda no facebook.


"EDSON NEVES peço desculpas à você pela exposição e, licença para revelar publicamente as notas que você tirou com os nomes dos jurados e suas justificativas.


Nota 10 - Jurada: Ludmila Mello - Justificativa: "apresentação bem executada, porta estandarte defendendo o tema da Escola enfatizando, em sua evolução, a elegância e alegria. Indumentária adequada ao enredo e ao contexto de distribuição das alas. Estandarte conduzido de modo que fora possível a comunicação que tratava o tema".

Nota 8 - Jurado: Éder Cristino - Justificativa: "bom o que tenho para falar do Porta Estandarte é muito bom, mas com trejeito feminino, isso não é bom, procurar melhorar a expressão, independente de qualquer coisa, não tenho nada contra a sexualidade de ninguém, só acho que não é cabível coreograficamente, é uma pena que um figurino lindíssimo não seja tão explorado como deve. Sr. coreógrafo fazer atenção, assim terão muitas melhorias neste quesito. Esta crítica não é detonando ninguém, mas sim para a melhoria da Agremiação".



Peço a todos que não compactuam com preconceito, seja ele de qualquer natureza, ordem, classe, etc., que não curtam mas, que compartilhem o que esse irresponsável e preconceituoso homofóbico assumido fez não só com um árduo trabalho feito para que a Bole-Bole fosse linda para a Aldeia, desrespeito com toda a comunidade guamaense e simpatizantes e brincantes dessa Escola espalhados por toda Belém e Pará inteiro mas, principalmente com um ser humano maravilhoso, competente em tudo o que faz e merecedor de muito respeito. O sr. Éder Cristino disse não querer detonar ninguém, mas vamos detonar com esse preconceito em pleno carnaval. Galera essa justificativa está disponível na Bole-Bole e na FUMBEL. Bjs Edson você é nota mil!!!!!"

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Resenha: FARFALHANDO A CARTOGRAFIA DA COR NEGREIRA.

FARFALHANDO A CARTOGRAFIA DA COR NEGREIRA
Por Socorro Patelo
Resenha do livro Cartografia social dos afrorreligiosos em Belém do Pará.
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VALLE, Camila do (Org.) et all. 
Ed: Rio de Janeiro, Belém: Casa 8, IPHAN, 2012. 190p .
        De início pensei em encontrar mapas, pensando em cartografia como arte de compor mapas, no caso mapeamento social dos afrorreligiosos de Belém. Mas me deparei com um quadro social descritivo das diversas comunidades religiosas de origem africana, que, de uma forma anti literária, traduzem suas experiências místicas e o conflito entre o mundo de seus deuses e o mundo político dos brasileiros, onde estão inseridos.
Reunidos em terreiros – palavra portuguesa para área de terra – que em yoruba é egbe; ou casa (ilé, ou ilé axé, casa de axé), ou como dizem os pertencentes à nação Angola (manso, Abassá, inso ou cazuá Ngunzo-Ngunzo); ou o chamado barracão, onde eles colocam em xeque os discursos historicamente estabelecidos como lógicos, que se pretende fixar e explicar objetivamente.
Quando os povos africanos vieram para o Brasil, a intenção é que perdessem tudo: liberdade, família, língua, nação, tribo a que pertenciam e tudo o mais que poderia identifica-los como pessoas. A tragédia social que viveram teve a fé em suas divindades, como único sustentáculo e força de preservação de humanidade e valores civilizatórios. Foi a fé que manteve (e mantém) suas identidades, ainda que, com o decorrer do tempo tenha havido sincretismo, mudanças em suas práticas, através da mútua influência das várias nações, dos vários dialetos que falavam, assim como de outros povos oprimidos, como os povos indígenas.
A desconstrução de suas identidades levou-os à construção de uma identidade religiosa e cultural (africana) formada das diversas nações (Umbanda, Mina Jeje Nagô, Angola, Keto Jeje Savatu e a Pajelança). Eles se reconstroem nos terreiros, dando significados às suas próprias vidas, na cena de seus signos sagrados, sua música e sua dança (uma espécie de dança de roda de Angola, que em banto era semba, ou samba, na língua quicongo e na língua umbundu, significava "agitado"),assim como em seus adereços (colares, pulseiras, tiaras etc.).
Em cada detalhe, esses povos também se reconstroem em uma África brasileira e amazônida. A terra de origem tem o caráter mágico no papel de um elemento crítico e valorativo. O mágico é a dimensão da origem. Eles são africanos, ainda que tanto tempo tenha se passado. Sua origem não foi perdida com a tentativa de desconstrução social. No interior dos terreiros, eles detêm um conhecimento que não lhes pertencem e que é passado às gerações posteriores através da oralidade e da memória. É Ifá (o oráculo) quem profetiza e dá as orientações e desejos dos orixás (entre os Yorubas) ou Jinkisis (entre os de Angola), pois tudo tem um segredo divino. “Tudo tem fundamento e tudo tem um tempo.” Nada há de natural na natureza. Ela é ao mesmo tempo cultural, natural e divina.
Mas para a socierdade brasileira o caráter de suas comunidades foi lapidado nos preconceitos, na intolerância social, na repressão, na incompreensão e nas violências que sofreram e que ainda hoje sofrem como demonstram seus depoimentos. Ainda assim, preservam suas tradições. Mesmo que a complexidade de suas relações e diferenças ritualísticas manifestados nas várias nações e segmentos, eles se adequam às circunstâncias políticosociais, buscando cidadania, liberdade de expressão, liberdade religiosa, o direito de oferecer suas oferendas aos seus orixás, de confortar doentes em hospitais, de cultuar os ancestrais nos cemitérios.
O mapeamento tem por base a visualização dessas diversas nações e seu fortalecimento como religião, buscando minimizar os distanciamentos que impedem a aceitação de culturas diferentes, combatendo a discriminação religiosa, melhorando a relação entre suas próprias comunidades e ainda, buscando interação com população. Na visibilidade social e política, eles tem procurado sair do anonimato a que foram relegados para mostrar que, como toda religião verdadeira, também buscam a paz, a harmonia social, promovem trabalhos sociais, inclusive filantrópicos e merecem o respeito dos demais.
Os depoimentos contidos no livro são importantes como objeto de estudos, seja na área de direitos humanos, posto que seus personagens clamem serem justiçados e verdadeiramente legalizados; seja na área da política democrática, sinônimo de igualdade; seja nas dimensões culturais da antropologia, pesquisando-se a relação identidade e alteridade; seja porque contém rico material para o campo de pesquisa da psicologia social e os fenômenos de grupos – algozes e/ou vítimas – de racismo, fanatismo, linchamentos, perseguições, etc., podendo abranger estudos da sociologia, da ciência política, da pedagogia (vide Paulo Freire, Pedagogia do Oprimido) e da filosofia, que reflete sobre toda atividade humana, na busca de seu significado.
O grupo de afrorreligiosos é como “Macunaíma” de Mário de Andrade, que nasceu “preto retinto e filho do medo e da noite”. Na atualidade, o medo que os acuava está se expondo à sociedade, para que esta possa conhecer a riqueza desse grupo que manifesta sua visibilidade. Para compreendê-los é preciso imergir em sua cultura, desfazendo o ofuscamento social secular.
Com essa cartografia, eles esperam que Marx tenha razão, e que “tudo que é sólido se desmanche no ar”, fazendo ruir o sólido império do preconceito e da discriminação que os situa na exclusão social prejudicial aos seus direitos humanos mais fundamentais de igualdade e de liberdade.
São Paulo/SP, fevereiro de 2013.

Socorro Patello
Profa. de Filosofia aposentada/ UFPA

A Prática e a Teoria no Cineclubismo Brasileiro

Participantes presenciais da Pré-jornada Nacional de Cinecubes, em Santa Maria/ RS - julho de 2012.

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A Prática e a Teoria no Cineclubismo Brasileiro
por Gilvan Veiga Dockhorn

Escrevo de imediato que este texto é um conjunto de pensamentos que me ocorreu após leitura atenta do artigo Fique são ou A horizontalidade rasteira - Desinformação eilusão de Felipe Macedo publicizado na lista CNC Diálogo.
Escrevo também que ao contrário do referido artigo não pretendo - por total ausência de competência ou sapiência mesmo - “esclarecer os menos informados, sobre as diversas ficções que estão prevalecendo neste momento praticamente caótico do nosso movimento”. Um dia, quem sabe, chegarei lá…
Mas antes de tudo, saúdo a possibilidade do debate e discussão oriundas do artigo provocativo que Felipe Macedo postou. Sua farta produção tem feito avançar questões importantes no estudo do cineclubismo como a adoção do Dia do Público e temas como o Primeiro Cineclube e por consequencia o Centenário do Cineclubismo. O esforço teórico deve ser reconhecido e discutir essa produção é uma demonstração de reconhecimento e respeito ao autor, mesmo que o conteúdo do artigo não trate seus possíveis interlocutores de forma respeitosa.
Contudo, expor idéias e teses inclui estar aberto à crítica e a refutação, mais ainda em se tratando o artigo de um conjunto de análises e posições que podem ser consideradas, no mínimo, polêmicas e não consensuais.

Discutindo a Tese do Catastrofismo Cineclubista
Não me parece correta a afirmação que dá argumento e sustenta uma das teses centrais do artigo de Felipe Macedo, a saber, que o “movimento cineclubista brasileiro está passando por uma crise bastante séria” muito menos que esta suposta crise seja “talvez terminal”.
Talvez tomado pelas previções e profecias de final do mundo muito em voga em 2012, Felipe Macedo também tenha se empolgado à ponto de decretar o final do movimento cineclubista brasileiro para os próximos tempos.
Porém devo fazer justiça, há muitos anos Felipe Macedo vem decretando o final do movimento cineclubista organizado, quem sabe um dia acerte, mas não será agora.
A tese de crise terminal é frágil. Primeiro porque teria dificuldade, e creio que muitos com capacidade intelectual mediana e sinapses normais assim o teriam, em identificar e dar características uniformes à prática cineclubista e as diversas formas de atuação e organização cineclubistas espalhadas pelo país. E são muitas mesmo…
Como que para apontar os responsáveis por essa suposta crise terminal, Felipe Macedo classifica os cineclubistas em quatro grupos, e os listo abaixo conforme o artigo define

1) “os isentos de responsabilidade”;
2) “os dedicados a acabar com o cineclubismo associativo e democrático”;
3) “os entusiasmados mas ingênuos e inexperientes”,
4) “a maioria silenciosa”.

Me parece complexo, discutível e superficial essa imposição classificatória, mas enfim, deve ser um elemento democrático que me escapa.
Ainda tento me inserir e inserir meus companheiros de Cineclube Abelin Nas Nuvens em uma destas categorias… E perguntaria, em qual destas você está Felipe?
Obviamente, se me parece difícil dar concretude monolítica ao “movimento cineclubista brasileiro” mais difícil ainda identificar uma crise, e mais ainda determinar ou sentenciar que esta é terminal no cineclubismo brasileiro. E mesmo se crise houvesse, me parece que muito árdua é a tarefa de encontrar os salvadores do cineclubismo brasileiro, mesmo que candidatos não faltem.
Seria interessante ampliar o leque de análise e perceber a conjuntura em que se insere não apenas o cineclubismo organizado ou modalidades de expressão/interação cultural e simbólica em contextos associativos, mas todos os movimentos sociais desde o advento do verdadeiro “Estado de Bem Estar Social Tardio” com os mandatos de Lula e de Dilma.
Por certo a partir do primeiro governo Lula (2003) avançou a participação do Estado na cultura em contraposição ao Estado mínimo dos períodos Collor, Itamar e Fernando Henrique. Se efetivou um novo modelo de gestão cultural com o ministro Gilberto Gil através de canais de interlocução entre a sociedade civil e o MinC (também época de rearticulação do movimento cineclubista). Novas definições conceituais para a cultura tendo por base sua dimensão antropológica acabaram por instituír um conjunto de políticas públicas diferenciadas. Sem mencionar o fato da criação efetiva de um Ministério da Cultura até então inexistente.
Por outro lado, vários militantes da cultura foram alçados à cargos governamentais e o governo criou estratégias para envolver os movimentos pela cultura em sua plataforma política. Isso acabou, no mínimo, engessando ou cooptando os movimentos sociais.
Incrivelmente essa discussão não é realizada ou é exposta ligeiramente, parecendo ao leitor que o cineclubismo age de moto próprio, sem nenhuma relação com os processos sociais, culturais, econômicos e politicos em curso. Ou seja, o momento atual do cineclubismo, das ações dos cineclubes e do CNC estão descontextualizados, logo, se as coisas não ocorrem, ou não se desenvolvem como supostamente deveriam, o problema é exclusivamente da enganosa direção da entidade nacional dos cineclubes ou de sua despolitizada base, inerte e inoperante.
Uma leitura do velho Marx ajudaria, pois à muito mencionou que os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.
Creio que ao sentenciar o apocalipse de uma atividade centenária e uma organização com mais de 50 anos seria adequado ser feita menção ao processo que desarticulou grande parte dos movimentos sociais, o neoliberalismo que chegou ao Brasil nos anos de 1990, alterou as estruturas, o cenário e os movimentos politicos (precarização das relações de trabalho, privatização do patrimônio estatal, abertura dos mercados internos ao capital internacional, recolonização imperialista, imposição do pensamento único…), mudou não somente as formas de luta, mas essencialmente a disposição para a luta.
No início do século XXI, as políticas de redistribuição de renda e inversão de prioridades nas políticas governamentais (assistencialistas para alguns) fizeram com que, salvo raras exceções, os movimentos sociais passassem do embate à adesão. A participação nos projetos governamentais e a dependência econômica aos governos fez com que as críticas às estruturas da sociedade capitalista cedessem lugar à um certo tipo de pacto de silêncio, com isso adentramos em um período explícito de acomodação, dependência e brados por um Estado burguês honesto.
Mesmo assim as lutas não cessaram e o ativismo seguiu.
A preocupação com a questão da autonomia foi tamanha que criamos um grupo de trabalho na última Jornada Nacional de Cineclubes em Moreno/PE para debatermos a autosustentabilidade da prática cineclubista.
Nesse cenário generalizado de desorientação política, estão inseridos o cineclubismo organizado e sua entidade nacional.

A partir dessa contextualização poderemos ter um panorama mais próximo do real a respeito da prática e atuação política dos cineclubes nos últimos tempos.
Um exercício interessante seria observar e realizar uma análise atenta os dados provenientes da campanha de recadastramento do CNC (dados parciais apresentados na Pré Jornada Nacional de 2012 em Santa Maria/RS e divulgados nas listas) para perceber que muitos cineclubes são para além de “uma atividade mais ou menos periódica de exibição”. Se configuram como a única possibilidade de comunidades terem acesso à produção audiovisual e ao mesmo tempo se constituem nos únicos locais de socialização que não operam na lógica do mercado.
Entre os 455 cineclubes e entidades regionais filiados, temos 70% na região historicamente mais desfavorecida do país – em termos de projetos de desenvolvimento – o norte/nordeste. Se tivesse observado os dados perceberia Felipe que 68% dos cineclubes se localizam no interior dos estados e que, em números absolutos, o Pará tem 44% dos seus municípios com cineclubes.
Possivelmente o interesse destes cineclubes estejam distantes da idealização política que se pretende. Possivelmente, os cineclubes dialoguem mais com questões práticas de sua atvidade, como a questão de acervo, garantia de espaço de exibição, equipamento, manutenção das sessões, debate sobre direitos autorais, organização em rede, formação de público e apropriação da linguagem cinematográfica.
Esses temas povoam as necessidades imediatas dos cineclubes, antes da tarefa histórica (segundo os teóricos) que os cineclubes deveriam desempenhar, ou seja, ainda se luta pela sobrevivência da própria atividade e isso são formas de luta e manifestação da politização dos cineclubes em tempos onde prevalecem os projetos individuais e o entretenimento estéril.
Isso só sabe quem está na luta, quem arruma salas (em sua maioria improvisadas), organiza ciclos, debates, oficinas de formação, mostras, busca mecanismos de divulgação, se preocupa com os caixas de som estouradas, cabos rompidos e dvds que travam, corre atrás de verbas e passa um boa parte de seus dias ligado à efetivação das sessões.
Pode parecer pouco ou prática alienada para quem espera que os cineclubes assumam a vanguarda revolucionária e invertam o desigual modelo audiovisual brasileiro (coisa que até aqui não foi realizado nem mesmo em etapas exuberantes do cineclubismo organizado), mas é muito para quem historicamente foi excluído de todos os processos de acesso, fruição e produção de bens culturais imateriais.
O público destes cineclubes não se constitui apenas como platéia ou massa ignorante a ser alfabetizada, é muita presunção desqualificar o processo em curso ou as atividades que não chegam às listas, blogs ou não sirvam de base para trabalhos acadêmicos.
Concomitante à tarefa de pensar a dinamização da entidade representativa dos cineclubes (o CNC), temos de refletir sobre as formas de existência dos cineclubes e as imensas dificuldades que se apresentam em garantir a periodicidade de suas ações.
Basta ver que são raros, menos de 2%, os cineclubes que mantém a prática de cobrança de taxa de manutenção pois em sua maioria o público não tem condições para tal. Com todas as limitações que possam ser creditadas, os programas governamentais e as parcerias com instituições (universidades, escolas, associações comunitárias e sindicatos) garantem o funcionamento da quase totalidade dos cineclubes no país.
Também é presunçosa a observação do cineclubismo brasileiro da estrita (e estreita) perspectiva de uma lista de debates e informação; o cineclubismo brasileiro não se resume à participações na lista CNC Diálogo mesmo que esta tenha 1260 assinantes (sendo que nem todos estão vinculados à cineclubes em atividade).
Tão limitada quanto à participação nas listas (uma das críticas feitas no artigo) é se basear nela para cravar que o cineclubismo nada produz à altura dos teóricos cineclubistas (ou cineclubistas de caneta e papel).
Estas posições nos mostram uma prepotência digna das vetustas intelectualidades esquerdistas brasileiras que não percebem luta quando não são protagonistas desta ou mesmo quando não são chamadas à liderar tais lutas.
Felipe Macedo afirma em seu artigo que temos um movimento desorganizado que é ignorado pelo Estado e sociedade. Não chego a discordar de todo, mas ousaria dizer que talvez o cineclubismo contemporâneo tenha mudado ao longo dos anos e que possivelmente, o Estado e a sociedade tenham se alterado o suficiente para que contextos associativos não tenham a menor influência em políticas públicas ou programas governamentais.
Não apenas o cineclubismo, mas sindicatos (vide a greve dos professores e técnicos administrativos das universidades federais), associações e movimentos sociais diversos (como o MST) pouco tem influenciado nas decisões de Estado.
Não percebo o cineclubismo isolado, atomizado ou muito menos que esteja vivendo uma das “entresafras históricas em que o cineclubismo some para o opinião pública e a sociedade, mantendo-se apenas como atividades singulares e irregulares”.
Não teria a pretensão de afirmar para onde caminha o cineclubismo, mas posso garantir que o CNC, como entidade representativa dos cineclubes organizados, irá para onde sua base assim desejar, para o bem e para o mal.
Em que pese algumas tendências, acredito que a palavra cineclube ainda seja suficientemente ampla para designar o conjunto de atividades que vão desde uma sessão de exibição de conteúdo audiovisual até os espaços que se pretendem devolver ao público suas condições de apropriação dos sentidos da produção cultural. Aqui lembro das acaloradas discussões na Jornada Nacional de Santa Maria em 2006 quando da possibilidade de definição de um conceito único de cineclube para fins de regulamentação da atividade pela Ancine.
E se se identifica que a entidade nacional dos cineclubes está com dificuldades (o que não seria novidade pois já esteve em outros momentos e em outras décadas, chegando mesmo a acabar) o mesmo não se pode dizer dos cineclubes, estes estão à pleno. A entidade em nenhum momento pode estar acima da prática e da atividade cineclubista.
Creio que uma análise construtiva e propositiva teria de identificar as peculiaridades do cineclubismo no Brasil que não apenas o distinguem de outras experiências no mundo como não cabem em uma designação única; seria possível falar em cineclubismo do Brasil? Ou o correto seria mencionar as mais diversas experiências do cineclubismo brasileiro.
Possivelmente estas caracterísiticas multiculturais dos cineclubes definam um tanto das dificuldades de uma instituição nacional que pretenda representá-los. Basta ver que a direção do CNC é composta de 26 membros de 16 estados diferentes e o Conselho de Representantes do CNC por 13 membros de 10 estados diferentes.
Ao todo, 39 membros de todas as regiões do país, do Acre ao Rio Grande do Sul, de Pernambuco à Goiânia, ou seja, para garantir a necessária representatividade e legitimidade, a estrutura do CNC deixou de ser funcional. Temos de pensar em como equalizar a representação e a operacionalidade da entidade.


Equívocos intensionais

Passo a debater alguns temas tratados no artigo que, com a trajetória do autor, não podem ser observados como simples equívocos.

· Personalização e Omissão de personagens:
Se o artigo pretende informar a grande massa de desinformados retirando-os do verdadeiro limbo em que vivem, seria importante que as várias passagens onde acusações e ilações são feitas sejam credidatas aos responsáveis. Que informação é essa que ignora os agentes e os atores dos processos.
Assim perguntaria, quem são os que querem destruir o cineclubismo? Quem quer dar um golpe e ocupar ilegitimamente a direção do CNC? Porque querem dar um golpe nessa entidade? Quem são as duas pessoas que foram a direção do CNC durante todo processo de rearticulação do movimento (2004-2010) e que impediram a democratização da entidade? Por acaso o autor do artigo esqueceu-se, convenientemente, que também fez parte da direção do CNC nesse mesmo periodo e que durante um bom tempo acumulou a função de direção com a de presidente de federação estadual?
Algumas informações faço questão de desvelar, como quando menciona o fato de “houve quem, (os de sempre) sugerisse que se aproveitasse a oportunidade para mudar os estatutos do CNC”, poderia dizer explicitamente, eu, Gilvan Dockhorn, quem alertou para o fato de que qualquer mudança estatutária (especificamente tratávamos da alteração no prazo do mandato da nova diretoria, pois havia a sugestão nas listas de um mandato tampão) somente poderia ser feito em uma Assembléia Geral, maior instância decisória do CNC.
O artigo, ao não nominar ninguém, lança suspeitas e desconfiança sobre todos, jogando todos em um lixo de desonestidade.
Por outro lado, se o essencial em um artigo de elucidação dos ignorantes foi sonegado, minguando nomes, abunda o personalismo.
Vejamos: o marco politico da decadência do CNC e dependência em relação ao Estado foi “o afastamento do autor da coordenação das oficinas e do manual do cineclubismo”. Ao mencionar a Pré-Jornada Nacional de Cineclubes, realizada em 2012 em Santa Maria/RS, novamente o “eu que não fui convidado” surge. Em resposta à uma mensagem na lista “não sei se me convidarão para esta reunião” em referência à Assembléia Geral Extraordinária. Como se o autor fosse um neófito em questões estatutárias e não soubesse que todos os cineclubes filiados tem direito de participar das atividades do CNC (basta acionar o cineclube em que está vinculado e se habilitar a representá-lo).
Mas mesmo que o cineclube não esteja filiado ou em dia com suas anuidades, ou mesmo que o interessado sequer seja cineclubista, ainda assim todas as atividades do CNC são abertas à participação.
E eu me pergunto aqui sorvendo meu mate, se nossos meios de divulgação são mensagens via email para a lista CNC Diálogo e para as listas regionais convidando ou convocando todos os cineclubes, cineclubistas e interassados, por que UM cineclubista, deveria receber convite personalizado? Porque UM cineclubista mereceria um tratamento diferenciado. Obviamente esta deferência se justificaria se este UM fosse O elemento de salvação do cineclubismo brasileiro…
Desculpe-me Felipe, mas se esperas um convite especial, em papel timbrado e com o apelo de participação, sinto muito, isso não me parece condizer com a tua enfática defesa da democracia.

· Isolamento em listas:
Precisa ser dito que listas regionais foram criadas pela antiga equipe operacional da Ação Governamental Cine+Cultura.
Membros da direção do CNC fazem parte das listas dos seus respectivos estados de atuação e alguns membros da direção do CNC (presidente, vice presidente, secretário geral e diretor de comunicação) fazem parte de todas as lista.
Ninguém da direção do CNC tem acesso ou o poder de administração destas, somos membros apenas e não temos a possibilidade de incluir ou excluir ninguém. Assim, não há isolamento imposto pela direção do CNC que “emagrece” o debate sobre a situação política da entidade nacional.
Se vivemos a época da “cintura fina” dos debates não se pode creditar ao acesso – ou melhor, a falta dele – em listas que, segundo o próprio autor, dialogam com “cines” (ou “pontos de cultura com vocação digital”) criados pelo governo, despolitizados, que são meros exibibidores e que talvez nem mesmo “tenham uma atividade periódica”, ou seja, não estão à altura da tradição cineclubista.Sugiro pedir inclusão àqueles que podem realmente atendê-lo. Mas me parece incoerente solicitar inclusão em uma lista que apenas dialogo com estes “cines”. Como se diz aqui no Rio Grande do Sul, “pra que queimar pólvora em ximango?”.

· Da Assembléia Geral Extraordinária:
Grave é a alegação que está sendo convocada uma “Jornada exclusivamente eleitoral”.
Tal afirmação não condiz com a trajetória e a dedicação à defesa da legalidade e lisura dos processos estatutários desempenhada pelo autor.
Sendo extraordinária já denota o caráter de urgência e como tal suas limitações em mobilizar ou garantir subsídios à todos os participantes. Vivemos um impasse e temos o compromisso de dar respostas à esse impasse; se fosse de simples resolução teríamos realizado a Jornada Nacional…
A Assembléia Geral Extraordinária foi a solução, última, senão única, para resolver o embrólio jurídico e politico.
E daí os equívocos intencionais, pois o mesmo Felipe Macedo que cobra legalidade agora, sugeriu lá do gélido Canadá – e teve sua proposta aceita – uma ação que agora afirma ser ilegal ou “pequena gambiarra legal” para resolver uma situação limite.
Diga-se ainda, estranho sugerir uma proposta via internet, esta ser debatida e aceita e ainda assim afirmar a falta de lisura e democracia no processo…

· Crise na direção do CNC:

Como dito anteriormente, Felipe Macedo não menciona o fato de ter sido dirigente do CNC até pouco tempo atrás (2010).
O mesmo que cobra entrega, dedicação e desprendimento no desempenho das atividades da direção omite o fato de ter sido convidado, e não ter aceito, o cargo para assessorar a atual gestão. Possivelmente, se tivesse aceito, seguramente muitos de nossos erros teriam sido evitados e hoje a situação da entidade estaria muito melhor...
E é bom lembrar que um pouco do que é a direção e a base do movimento se deve também à direções e bases anteriores, o que somos é em parte o que nos legaram. Cortar a perspectiva histórica às vezes é bem conveniente.
Historicamente a direção do CNC se desintegra ao longo dos seus dois anos de gestão, isso é explicável primeiro pelo número de integrantes, depois pelo fato de que não há nenhum tipo de subsídios, temos de contar com festivais parceiros, por isso os raros encontros presenciais.
Isso explica a grande inovação que foram os encontros via web.
Sempre é bom lembrar que o cineclubismo é uma parte de nossas vidas, importante, fundamental, contudo, não é nossas vidas; para além do cineclube que atuamos e da condição provisória de dirigentes da entidade representativa dos cineclubes, temos questões de trabalho, relações afetivas, de saúde, mudanças drásticas e tal. Não condeno quem não pode cumprir seu mandato e suas designações, cada um tem suas razões e contribuíram na medida do possível.

A Necessidade da Assembléia Geral Extraordinária em Vitória
Não vou adentrar aqui na acusação de incapacidade do CNC de organizar Jornadas e Encontros presenciais, seria um desrespeito aos colegas da Bahia que tanto se esforçam ainda para a realização da Jornada Nacional de Cineclubes, ou dos organizadores da Pré Jornada Nacional de Cineclubes de 2012 em Santa Maria/RS.
Considero a tual composição do Conselho de Representantes como a mais representativa de todos os tempos e original em sua forma de escolha, basta lembrar-mos das questões envolvendo os representantes do Pará, impossibilitado de realizar um único encontro presencial ou uma única reunião virtual.
Se definimos que seria possível organizar a Jornada Nacional até março de 2013, foi exatamente porque acreditamos na possibilidade e nas negociações que estavam (e estão) em curso.
A realização da Jornada Nacional na Bahia (no interior como consta no projeto) será uma enorme conquista, como também o serão a proposta da Distribuidora Cineclubista e a operacionalização da Filmoteca Carlos Vieira, contudo, até a concretização destes projetos temos de resolver a questão jurídico/política do CNC.
O que me parece razoável é que seria mais adequado uma direção com representatividade limitada (em que situação uma direção representaria a totalidade de seus quadros?) do que uma direção sem representatividade alguma.
Se, como defende Felipe Macedo, para não cair na ilegalidade, a direção do CNC deveria realizar eleições até dezembro de 2012, esta somente seria possível – dado a impossibilidade de realização da Jornada Nacional – em uma Assembléia Geral Extraordinária. Então pergunto, se fosse em dezembro, a convocação seria menos “frágil”?
O fato é que os cartórios não aceitam e não reconhecem a atual diretoria do CNC como legal após março de 2013. Esperamos até o limite para que a organização da Jornada Nacional definisse a situação. O limite estatutário foi janeiro de 2013, respeitando os 60 dias prévios para exatamente termos tempo hábil de convocarmos uma Assembléia Geral Extraordinária. Não havia outra solução, a não ser atitude ilegais e imorais.
Mas pergunto, onde se afirma a convocação de uma JORNADA exclusivamente eleitoral? E onde está a defesa de uma eleição indireta?
A convocação por parte da diretoria de uma Assembléia Geral Extraordinária não consta nos estatutos do CNC? Desde quando essa ação é um ato antidemocrático?
A polêmica decisão de adiar a Jornada e, ato contínuo extender o mandato da gestão atual, somente são casos únicos (e não tenho certeza disso) por conta do processo de consulta às bases, tudo foi tratado abertamente.
Se formos adentrar nas questões de falta de representatividade, perguntaria, quantos delegados de cineclubes participaram ativamente das decisões nas Jornadas de Santa Maria (2006), Belo Horizonte (2008) e Moreno (2010)?
E a nova gestão que assumirá em 29 de março em Vitória terá seu mandato curto ou longo conforme decisão da plenária.
Deve-se ser dito que o CNC está inteiramente regularizado, com as contas em dia apesar da quase completa ausência de recursos públicos.

A miopia do olhar externo
É bom lembrar, que se historicamente o CNC estabeleceu, senão uma estrutura, posturas centralizadores, tal modelo foi definido em gestões que tiveram a participação direta de Felipe Macedo. Creio que avançamos muito nesse sentido e o CNC se renovou.
Percebo a horizontalidade ou como queiram definir nas formas de encaminhamento dos debates, embates e decisões, questões que foram abertamente tratadas demonstrando inclusive dissensos internos.
Lembro que assim que a atual gestão assumiu, tivemos um entrevero com a representação da região Centro-Oeste, logo depois, uma grande discussão com o Coletivo Fora do Eixo, na etapa seguinte embates sucessivos com a Secretária do Audiovisual, depois as formas de encaminhamento da composição do Conselho de Representantes.
Todas foram publicizadas assim como os resumos das reuniões da diretoria, todas as correspondências oficiais do CNC, os relatórios da gestão, o parecer do Conselho de Representantes e as definições da Pré-Jornada Nacional de 2012.
Foram realizados os Seminários Cineclubismo, Cinema e Educação, e já mencionada Pré-Jornada Nacional de Cineclubes, histórica por conta da transmissão integral pela web.
Alegar que “é ficcional a contagem de membros do CNC” é demonstração de olhar míope.
Certamente a maioria dos cineclubes estão inadimplentes, afrontando o art.13 do estatuto do CNC, contudo, em todas as Assembléias Gerais das últimas Jornadas (e aqui me refiro à Santa Maria em 2006, Belo Horizonte em 2008 e Moreno em 2010) se decretou a isenção de tal taxa na medida em que se reconhecia as dificuldades enfrentadas pelos cineclubes.
O CNC conta atualmente com 455 cineclubes e entidades regionais filiadas e somente por desconhecimento ou má fé é possível alegar que estes reconhecidos apenas pelos “e-mails recebidos”, temos um cadastro completo com informações que poderiam alterar os argumentos descritos por Felipe Macedo.
Alternativa Sem Perspectiva: Como Realizar uma ampla Jornada Nacional de Cineclubes?
Se a situação do movimento cineclubista é definitiva e terminal, não há o que ser feito,o que não tem solução, solucionado está! Basta agir como a ONU: apontar culpados e contar os mortos!
Não creio nisso. O suposto paciente moribundo está melhor do que desenhado no artigo de Felipe Macedo.
Concretamente, sem auxílio de recursos públicos qualquer iniciativa de Jornada Nacional nos moldes propostos no artigo de Felipe Macedo é inviável.
Mais de um delegado por cineclube, chegaríamos à 1.000 delegados. Mais dias de debates (cinco seria o ideal) com os deslocamentos teríamos uma semana de encontro. A criação de uma comissão não resolveria a questão de recursos para o deslocamento, volto a perguntar, sem auxílio público, de onde sairia o recurso?
Alimentação e hospedagem: em outra mensagem Felipe Macedo sugere a utilização de sacos de dormir e a o uso de merenda escolar. Com o verdeiro temor que a Lei de Responsabilidade Fiscal impõe, qual prefeitura, secretário de educação ou cultura aceitaria isso? Quem está produzindo peças de ficção?
Devemos nos mobilizar para a Assembléia Geral Extraordinária em Vitória/ES. Nela poderemos pensar juntos formas de garantir, e aí concordo com o artigo, uma Comissão Nacional de Apoio para a organização da Jornada concomitante à uma nova nominata para o CNC.
Te convido Felipe Macedo, a participar da organização dos eventos.
Assim, entendo que a grande contradição do artigo de Felipe Macedo é esperar que esta mesma base cineclubista dividida em “isentos de responsabilidade”;“dedicados a acabar com o cineclubismo associativo e democrático”; “entusiasmados e ingênuos inexperientes” e “maioria silenciosa” possa organizar um evento nacional, com representatividade, com compromisso politico com a organização do público e dinamizar o movimento. Como diria o velho bolchevique “Que Fazer?”.

Gilvan Veiga Dockhorn
Cineclube Abelin Nas Nuvens
Silveira Martins/Santa Maria, fevereiro, 2013

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Quem cria filhos dos outros é japiim....

Texto construído a partir das perguntas de Diogenes Brandão para uma entrevista para o blog "As falas da polis", uma entrevista em que ele me pediu para comentar o financiamento do enredo da a imperatriz Leopoldinense por parte do governo do Estado do Pará.

 

Quem cria filhos dos outros é japiim....

Esse 'negócio' de patrocinar escolas de samba do Rio de Janerio me parece muito mais uma forma de corrupção – desvio de dinheiro público que perversamente sai dos cofres paraenses como financiamento cultural –, do que política cultural eficiente, e eu concordo plenamente com a opinião dos carnavalescos de Belém de que há equívocos na política  que se utiliza de dinheiro dos contribuintes de estados e municípios amazônidas para financiar a industria cultural carioca.
Vamos pensar um pouco, em 1970 a Portela desfilou com o enredo “Lendas e mistérios da Amazônia”, em 1974 Joãozinho Trinta veio com o Salgueiro apresentando o enredo “O rei de França na ilha da assombração” (falando de São Luís),  no mesmo ano o Império Serrano fez a “Aquarela do Brasil” e fez um passeio pelos estados de norte a sul do país, em 1975 a Estácio de Sá apresentou o enredo “Festa do Círio de Nazaré”. São exemplos de carnavais memoráveis que tiveram todo o apoio na colaboração dos intelectuais e artistas de cada um dos lugares homenageados, mas que não precisaram de financiamento público vindo dos paupérrimos estados amazônicos e nordestinos e foram realizados apenas com a subvenção anual do Município e do Estado do Rio de Janeiro.
Então o que mudou de lá pra cá?
Houve uma época em que as escolas de samba cariocas representavam a voz do morro e a voz do povo oprimido,  e nessa época o que a gente via no carnaval? A gente via crítica à política e aos governantes, via o deboche com a situação financeira, via a afirmação de identidade negra, e via esses enredos sobre as diversas regiões brasileiras como uma demonstração de multiplas identidades. Esses eram enredos que eram provocadas pro grupos migrantes dessas regiões que se tornavam parte das comunidades de samba cariocas e acabavam por despertar a curiosidade sobre seus lugares de origem e provocar enredos sobre eles.
A presença do sambista paraense 'Dominguinhos do Estácio' foi fundamental para que a escola apresentasse o Círio de Nazaré no desfile do Rio, assim como a presença do carnavalesco maranhense Joãozinho Trinta no Salgueiro gerou o enredo sobre São Luís, e usar esses lugares de origem era uma forma de homenageá-los também.
E o que se vê hoje? Ao invés dessa integração personalidade/comunidade/enredo, nós assistimos ano-após-ano pelo menos uma escola de samba que apresenta apenas uma propaganda política, por um lado justificada pelo financiamento, e por outro justificada pela provável visibilidade que o estado/município terá com uma hora e pouco ininterruptas de transmissão televisiva na apresentação do enredo...
Para as comunidades das escolas de samba esse processo também se tornou sofrível. A diretoria das escolas passam longe das personalidades que construíram cada uma delas, da mesma forma como passam longe das comunidades que defendem as bandeiras das escolas, e não se vê personalidades das comunidades a propor enredos com ressonância social, mas “produtores culturais” e “lobbystas políticos” a negociar montantes de dinheiro com articulação de financiamento de corporações econômicas ou de verba pública de estados distantes. É visivel que as pessoas que desfilam nessas escolas não tem envolvimento nenhum com a defesa do discurso que o enredo apresenta....
Enquanto escrevo aqui minhas considerações escutei o também paraense Milton Cunha comentar que uma alegoria do Salgueiro só existe por imposição do patrocinador, e me veio uma outra questão.... Mesmo que não venhamos a fazer isso aqui, num espaço pequeno para respostas, mas não podemos desvincular esse processo de venda de enredos do processo de desterritorialização das escolas de samba como espaço resistência negra e resistência popular – e a perda do território chegou com a absorção da manifestação popular pela indústria cultural. Em 1982 com o enredo “Bumbum paticumbum prugurundum” o Império Serrano cantou num refrão a denúncia do que acontece hoje, “Super Escolas de Samba S/A/ Super-alegorias/  Escondendo gente bamba/ Que covardia!” Enfim, é isso – atualmente vivemos uma covardia! Tanto covardia com as comunidades das escolas de samba quanto com o desejo dos povos amazônidas de se verem em transmissão de televisão – mas um desejo que não se concretiza...
E essa propaganda dá certo?
Eu me lembro quando Macapá fez 250 anos e, seguindo essa mesma linha que eu considero equivocada, de propaganda e visibilidade através do carnaval carioca, o prefeito João Henrique (eleito pelo PSB e que depois migrou pro PT), e o ex-governador do Amapá Waldez Góes (PDT), também enviaram zilhões do povo amapaense pra financiar o desfile da Beija-Flor em troca de hora e meia de visibilidade na globo (ou era isso que diziam), e a primeira coisa que o comentarista dessa emissora disse quando a escola entrou na avenida foi algo como "é importante esse trabalho que as escolas de samba fazem de trazer a história dessas cidades pra gente conhecer. É! Porque pra nós Macapá é mais longe que marte....
Ou seja, a primeira propaganda foi negativa e pagar pra falarem bem da gente não diminui o preconceito que o "sul maravilha" dispensa pra Amazônia e vemos os comentaristas dizerem essas pérolas.
Porém, dando créditos pra esse equivoco, acho que para mensurar os efeitos disso precisaria de uma pesquisa mais aprofundada do que o empirismo da minha análise. Penso assim, se o governo é sério no tratamento do dinheiro público, e financiou uma escola de samba de outro estado como forma de propaganda turística, esse mesmo governo tem por obrigação apresentar para a população o resultado desse investimento e nos mostrar como foi que o desfile da Beija-flor em 98, da Viradouro em 2004, e da Imperatriz em 2013, influenciou positivamente o turismo em Belém e no Estado do Pará.
Mas, pra termos dados para fazer comparações sobre a relação custo benefício e dissipar qualquer dúvida de desvio de dinheiro público para interesses particulares que possa pairar sobre esses negócios, faço coro com a proposta dos carnavalescos e digo ao governo do Estado do Pará que em 2014 invista no carnaval de Belém o mesmo valor que em 2013 foi desviado para financiar uma escola carioca. Proponho que o façam como uma experiência, que usem a mesma quantidade de verba pública para estruturar a Aldeia Cabana de Cultura Popular David Miguel para que a população tenha mais conforto para assistir o espetáculo, e que também financie o espetáculo que cada uma das oito escolas do grupo especial apresenta, assim como as oito escolas do grupo de acesso, e, mais, que se faça propaganda do desfile das escolas de samba de Belém nos estados vizinhos e até nos países do Caribe e naqueles que nos fazem fronteira no platô das Guianas, pois na minha opinião, e creio que na dos carnavalescos também, isso sim será uma política cultural que trará dividendos turísticos para o estado do Pará.... Isso sim trará turistas para Belém, turistas que virão para ver um espetáculo de 5 dias (que envolve quase cem mil pessoas) e que depois poderão circular para conhecer as cidades paraenses que guardam tesouros culturais/naturais.

Arthur Leandro
Artista ou coisa parecida.
Benemérito (e brincante) da Embaixada de Samba do Império Pedreirense
Professor da Faculdade de Artes Visuais e Museologia/UFPA.
Membro do Colegiado Setorial de Culturas Afro-brasileiras/ Ministério da Cultura
Representante titular das culturas afro-brasileiras no Conselho Nacional de Políticas Culturais/ Ministério da Cultura.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Chamada para participar do projeto “Artistas de Terreiro"

 
Chamada para participar do projeto “Artistas de Terreiro
O Grupo de Estudos e Pesquisa “Rodas de Axé”, com apoio do Grupo de Estudos Afro-Amazônicos e da Casa Brasil África da UFPA, convida você, membro de Comunidades dos Povos Tradicionais de Terreiros da zona metropolitana de Belém e cidades vizinhas para participar do Projeto “Artistas de Terreiro”, e para produzir arte, sentidos e sentimentos afro-amazônicos que falem da cosmologia dos Orixás, Inkisses, Voduns, Cabocos, Espíritos e Encantados, e dos valores preservados pelas tradições afro-brasileiras na Amazônia.

Critérios:
Ser de comunidade de terreiro iniciado ou não, e trazer uma declaração de pertencimento de comunidade de terreiro (de preferência assinada pelo/pai ou pela mãe de santo)
Apresentar um Pequeno Porta-folio (de 3 a 5 imagens/ textos/ Clipping ou Catálogos sobre a sua produção artística)
Assinar a carta de aceite declarando que conhece e aceita participar do projeto "Artistas de terreiro"

Programação:
15/02/2013 – Reunião de Preparação: Apresentação do Projeto e Seminário: Arte e estética na brasilidade afro-amazônica
04/03 a 06/03 - Montagem da exposição na Galeria Teodoro Braga
07/03/2013 – Abertura da Exposição na Galeria Theodoro Braga
14, 21 e 22/03 – “Rodas de conversa na galeria”
01/04 a 02/04 - Desmontagem

Telefone: (91) 3201-8365
Local: Laboratório de Antropologia Arthur Napoleão Figueiredo – UFPA

1ª atividade 
 
laboratório de discussão e produção 

em artes visuais
no dia 15 de fevereiro das 9 as 17h no Laboratório de Antropologia da UFPA, Campus José da Silveira no Guamá , Belém/PA.
Apresentação do Projeto “Nós de Aruanda – Artistas de terreiro”, de exposição na Galeria Theodoro Braga das produções artísticas e produções culturais de pessoas que estejam ligadas às comunidades de terreiro.
A proposta é fazer um laboratório de discussão e produção em artes visuais e articulação de artistas de terreiro, que serão expostas em galeria de arte no mês de março/2013, para promover e divulgar o simbolismo imagético produzido dentro dos terreiros. Vamos fazer uma exposição poética afro-brasileira com enfoque na cosmologia religiosa em comemoração pela passagem do dia 18 de março e em homenagem à Mãe Doca. No passado homens e mulheres, como Mãe Doca, que no início do século XX, lutaram para poder realizar seus cultos e manter viva a memória de orixás, inkisses, voduns, espíritos, encantados e entidades. E foi Mãe Doca, que em Belém, realizou o primeiro toque e por isso foi presa, e por não ter abdicado da sua fé, tornou-se símbolo do dia de hoje, 18 de março, que celebra os cultos e religiões afro-brasileiras existentes no Pará. (obs: o laboratório acontecerá de manhã e de tarde e teremos almoço ao preço de 3 reais no restaurante universitário)

Exposição 
“Nós de Aruanda – artistas de terreiro” 
Resumo: Exposição coletiva com curadoria coletiva na Galeria Theodoro Braga do CENTUR. Publicação de catálogo virtual disponível para download pela internet. Articulação entre pesquisadores de religiões Afro-amazônicas com artistas pertencentes à comunidades de povos tradicionais de terreiros.
Aruanda”é uma palavra que permanece no imaginário afro-brasileiro como uma espécie de Paraíso. A palavra habita cantigas de brincadeiras de roda, em jogos de capoeira, em rezas e cantos religiosos, em manifestações de cultura popular e outras situações em que os povos negros têm importância na construção da cosmologia do lugar e seu povo.
Nós de Aruanda – artistas de terreiro” brinca com os sentidos que essa expressão pode ter: de quem, ou de quais nós, nós estamos falando? Talvez o que queiramos seja nos debruçar sobre esses enlaces emaranhados desses nós que, ao fim, significa a busca por conhecer esse rico universo numa perspectiva diferenciada: a pesquisa e o estudo como ferramentas para conhecer,descobrir, divulgar e defender a riqueza das culturas e religiões de matriz africana e suas correlações com as muitas Áfricas que inventamos no Brasil.
Convidamos a todos para juntos tocarem os tambores de Aruanda, de Ilu Ayê, dos Quilombos, das Comunidades Tradicionais de Terreiros, das Capoeiras, do Jongo, do Lundu, do Carimbo e do Caxambu.

Instituto Nangetu: Chamada para participar do projeto “Artistas de Te...: O Instituto Nangetu apoia a realização deste projeto e tem o maior interesse em inserir os artistas do Mansu Nangetu nas articulações entre ...

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Ver-o-peso da Pedreira do samba e do amor!





Mais um ano se passa e as escolas de samba de Belém vão desfilar novamente sem que a prefeitura garanta a infra-estrutura e o suporte financeiro para o carnaval. mas se os gestores pensam que acabam com as manifestações das culturas populares estão mais enganados que seus eleitores, afinal quem faz cultura é o povo, o estado apenas fomenta. E viva a cultura do povo da Pedreira.
Enquanto dias melhores não vem, os dias em que esperamos, da gestão pública e dos formadores de opinião, o reconhecimento e a valorização de um espetáculo que envolve mais de trêss mil artistas anônimos em cada uma das escolas de samba que vão para a Aldeia Cabana de Cultura Popular David Miguel contar as estórias de suas comunidades e da sua cidade, é no envolvimento e na disposição decada brincante que cada uma das agremiações vão buscar a força necessária para colocar o carnaval na rua.
É madrugada de segunda-feira e eu aqui na ansiedade da espera do sábado gordo e do desfile das escolas de samba do grupo especial de Belém do Grão-Pará. Passamos o janeiro inteiro movimentando o bairro da Pedreira e a cada domingo arrastando multidões num desfile de alegrias contidas que, por si só, já vale às duras pemas da sobrevivência das manifestações das culturas populares no Pará, mas to falando é desse Pará dos amarelos anos do início da segunda década do século XXI.
E ai eu me pergunto o por quê da minha ansiedade?
É verdade, eu quero ser campeão com o Ver-o-peso na Embaixada de Samba do Império Pedreirense, mas eu também sei que jurados obedecem a um jogo de interesses econômicos e políticos que nem sempre resulta no campenato para o melhor desfile. Ano passado mesmo a Embaixada fez o desfile campeão e a nota maldosa de uma jurada que julgava samba de enredo a rebaixou para o quarto lugar, uma nota desonesta que não conseguiu desqualificar o melhor samba do ano, mas que tirou nossa escola da disputa do campeonato oficial.  
Mas nas ruas e fora dessa oficialidade todos sabem que o titulo não foi de quem levou a taça, e povo que faz a cultura da Pedreira já demonstrou que a Embaixada já é bi-campeã e que também tem o melhor samba de 2013.