quarta-feira, 27 de abril de 2016

O que são poéticas de matriz africana, como pensam e agem os artistas de terreiro?

O que são poéticas de matriz africana, como pensam e agem os artistas de terreiro?

“Para nós, arte é campo de batalha na guerra simbólica”, Táta Kafungeji (Rodrigo Ethnos) –Rundembo Ngunzo ti Bamburucema.

Quem quer saber um pouco mais sobre a produção poética de resistência negra dos terreiros da zona metropolitana de Belém,  deve aproveitar a oportunidade que o projeto “Nós de Aruanda, artistas de terreiros”, oferece, e participar da Roda de conversa com os artistas nesta sexta-feira, dia 29 de abril, a partir das 17h na Galeria Theodoro Braga, no CENTUR.
“Nós de Aruanda – artistas de terreiro” dá título para um projeto e uma exposição que brinca com os sentidos que essa expressão pode ter: de quem, ou de quais de nós, nós estamos falando, quem somos nós? Talvez o desejo seja mesmo o de nos debruçar sobre esses enlaces emaranhados desses nós que, ao fim, é um desejo que se traduz na busca por conhecer esse rico universo numa perspectiva diferenciada: a produção poética e os estudos universitários como ferramentas para conhecer, descobrir, divulgar e defender a riqueza das culturas tradicionais de matrizes africana e suas correlações com as muitas Áfricas que (re)inventamos no Brasil.
A conversa circula em vários focos de percepção e interesse artístico, desde o contexto, e a  consequência, do racismo que resulta em violência cotidiana contra povos tradicionais de matriz africana, até as práticas poéticas que mantém viva na Amazônia, a cosmologia e os valores civilizatórios que vieram da África negra.



Roda de conversa com os artistas participantes
IV Exposição Nós de Aruanda - Artistas de Terreiro
Sexta-feira, 29/4, a partir das 17h

Galeria Theodoro Braga – subsolo do Centur,  av, Gentil Bittencourt, 650 - Belém.

Realização:
GEAM - Grupo de Estudos Afro-Amazônico (NEAB) UFPA
Grupo de Estudo e Pesquisa Roda de Axé CNPq.

FOTOS: ©Lucivaldo Sena / Projeto Griot Amazônida 

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Oficina: Estamparias com grafismos africanos em Block Printing.

Nesta quarta feira, 27 de abril, a partir das 14h, tem oficina de estamparia com grafismos africanos ministrada pelo artista e gravurista Jean Ribeiro na Galeria Theodoro Braga (CENTUR). A oficina faz parte das ações educativas do Projeto Nós de Aruanda, artistas de terreiro, em cartaz na galeria até a sexta, 29 de abril.

A proposta é compartilhar a experiência que Jean acumulou na produção de grafismos em Block Printing, uma técnica de manufatura que precedeu a produção de estamparia industrial. A oficina é uma ação de colaboração para a implantação da Lei 10.639/03, e atende professores e estudantes da rede de ensino básico e todos os interessados em conhecimentos sobre a visualidade africana na diáspora amazônica.


Block Printing
A estamparia por carimbos de madeira, ou blocos de madeira, conhecida como Wood Block Printing, foi o processo precursor da produção industrial em grande escala. O método de gravação da matriz de madeira é o mesmo da xilogravura, com algumas particularidades relacionadas aos materiais, como corantes e têxteis a serem utilizados. Tornou-se possível a reprodução de um desenho mais elaborado e com bons resultados formais, favorecendo a gravação de matrizes voltadas, exclusivamente, para a estamparia corrida.
A partir do século XVIII, no Ocidente, importantes empresas motivadas pelo ponto de vista econômico se interessaram na produção mais acelerada de estamparia dos tecidos. Com esse interesse, novos processos foram surgindo para o aprimoramento de desenhos cada vez mais detalhados.
Sendo assim, o desenvolvimento das técnicas das artes gráficas, as matrizes passaram a ser feitas com placas de metal, nas quais um instrumento de ponta afiada proporcionava a impressão de desenhos muito finos e delicados, uma vez que a tinta ficava depositada em menor quantidade nas incisões da placa de metal.
Este método de gravação, aliado à utilização de chapas flexíveis adaptadas a um cilindro impressor (prensa ou maquinário), representou a maneira mais prática e econômica da estamparia contínua em grandes metragens de tecidos.
O processo de impressão com cilindros rotativos, desde a 
gravação em madeira até os mais modernos processos fotoquímicos de gravação dessas matrizes, com o desenvolvimento da indústria química e têxtil, foi a invenção que acompanhou o enorme crescimento do mercado de estampados.

Oficina: Estamparias com grafismos africanos em Block Printing
Instrutor: Jean Ribeiro
Quarta-feira, dia 27 de abril, a partir das 14h.
IV Exposição NÓS DE ARUANDA – ARTISTAS DE TERREIRO.

Galeria Theodoro Braga, a galeria fica no subsolo do CENTUR - Av. Gentil Bittencourt, nº 650, Nazaré - Belém – PA.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Exposição reúne obras de artistas de terreiros.

Fluxo de benção, de Tainah Jorge (Foto: Lucivaldo Sena)

Exposição reúne obras de artistas de terreiros

Quinta-Feira, 07/04/2016, 10:47:37 - Atualizado em 07/04/2016, 10:47:37

Em 1891, apenas três anos após a abolição da escravatura no Brasil, dona Rosa Viveiros, também conhecida como Mãe Doca, inaugurou em Belém o primeiro terreiro de tambor de mina. À época, a prática de religiões africanas era proibida e a mãe de santo natural de Codó, no interior do Maranhão, foi presa por diversas vezes por cultuar as divindades afros. Símbolo da resistência negra e da luta pelo direito à manifestação religiosa, ela recebe homenagem na exposição “Nós de Aruanda”, que abre hoje, às 19h, na Galeria Theodoro Braga, do Centur, em Belém. A entrada é gratuita. Antes, às 17h, haverá bate-papo com a pesquisadora Zélia Amador, da Universidade Federal do Pará (UFPA) uma das fundadoras do Centro de Estudos de Defesa do Negro no Pará (Cedenpa).

A mostra reúne artistas de diversos terreiros e apresenta fotografia, videoarte, instalações, xilogravuras, entre outras linguagens. Entre elas, Mãe Nalva, representada com um livro-objeto em que ela conta, bordada em pano, a história dos iorubás. Também a artista Tainah Jorge e sua interferências urbanas do “Fluxo de Bênção”, registradas em fotografias.

Tainah espalhou estênceis por vias movimentadas de Belém e de Ananindeua, com desejos de saúde, justiça, amor e caminhos de sucesso a partir das bênçãos trocadas por mães e pais de santos, agentes culturais e membros de movimentos sociais em um grupo de mensagens instantâneas criado por ela.

De acordo com o curador Jean Ribeiro, assim como Nalva e Tainah, há muitos artistas nesses espaços, que mesclam a competência técnica à temática religiosa e produzem arte de forma diversa. A intenção é abrir as portas dos espaços expositivos para eles. “A arte, de uma forma geral, é dominada por uma minoria. Essa é a oportunidade de mostrar como cada um desenvolve sua pesquisa de acordo com a sua casa, como por exemplo as bonecas de pano feitas de nó, sem costura”, explica Jean.

O livro-objeto criado por Mãe Nalva. (Foto: Lucivaldo Sena)


O curador destaca ainda que apresentar as religiões africanas por meio da arte busca sensibilizar o público em geral que ainda carece de informações e desmistificar visões equivocadas sobre a religião. Nos dias de hoje, a Constituição Brasileira garante que os adeptos da umbanda possam realizar seus rituais de forma livre, mas o preconceito persiste. “Algumas pessoas ainda acham que as casas afro são para fazer algum ritual de maldade. É só uma religião como outra qualquer, com seus símbolos e rituais. Queremos discutir sobre intolerância por meio da arte, que não está só nos lugares conhecidos, mas nos terreiros também”, lamenta o curador.

A exposição é um desdobramento das pesquisas acadêmicas do grupo Grupo de Estudos Afro-amazônicos (Geam-UFPA), e do Grupo de Estudos e Pesquisa Roda de Axé/CNPq, que articula pesquisadores e comunidades tradicionais de matriz africana. Ela comemora também o dia 18 de março, dedicado aos umbandistas e aos afro-religiosos, através da Lei Municipal nº 8272, de 2003 e da Lei Estadual nº 6.639, de 2004, e foi selecionada no edital Pauta Livre do Programa Seiva, da Fundação Cultural do Pará.

VISITE

Exposição Nós de Aruanda
Onde: Galeria Theodoro Braga (subsolo do Centur)
Abertura: hoje, com bate-papo com Zélia Amador, às 17h, e coquetel às 19h
Visitação: 08 a 29/04, de segunda a sábado, das 9h às 19h
Informações: (91) 3202-4313
Quanto: entrada franca


(Publicação original no Diário do Pará)

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Processos Artísticos em Nós de Aruanda. Por Glauce Santos.

Processos Artísticos em Nós de Aruanda

O convite para integrar o projeto Nós de Aruanda, veio a três anos atrás, em 2013, para participar com meu trabalho artístico, enquanto artista confesso que fiquei um pouco apreensiva e atraída pela proposta, por perceber o grande desafio, eloquência e beleza do projeto, no entanto só aceitei o convite em 2015, ano em que participei como artista e também na organização, curadoria, e montagem da exposição.
O desafio contido nesta tarefa mesmo para uma pessoa do culto Afro-brasileiro, é algo realmente inovador e envolvente, e solicitou-me uma disponibilidade interior bem diferente dos trabalhos em grupo já realizados anteriormente.
Mas existe um detalhe muito importante no projeto Nós de Aruanda, é o fato de existir uma mostra coletiva, uma exposição de arte específica de artistas de terreiros na cidade de Belém do Pará, chegando a sua 4ª versão, realmente é algo determinante para que tudo aconteça. Iniciativa essa muito sensível por parte de seus criadores, que originou-se de muita pesquisa e discursões em grupo, a qual traz a missão de expor a arte dos artistas de terreiro, fomentar diálogos, trazer ações didáticas que vão interagir com o público visitante da exposição.
São intervenções urbanas, instalações de objetos, de paramentos, bonecas, esculturas, fotografias, pinturas, gravuras, performance, vídeos, bate-papo, contação de histórias, oficinas, vivências que se estendem durante todo o período de permanência da exposição, oferecendo uma programação intensa e educativa, a qual é fruto de muita dedicação de todos os envolvidos no projeto.
O processo artístico, o amadurecimento dos artistas desde a 1ª versão, é algo essencial, que cativa e dá motivação para os curadores continuarem este trabalho.
Pois o trabalho de um curador é buscar artistas, mostrar suas obras, articular diálogos, pensamentos, propostas, servir de intermediário entre pessoas ou grupos, mediando e intervindo.
Os artistas aqui lançam-se na pesquisa sem medo!!! mergulham fundo em suas vivencias artístico-religiosas, revelando a importância de suas obras, desafiando pontos de vista, convenções já estabelecidas, enfrentando os cânones da arte, os valores dominantes, e seguem em frente, para que juntos possam trilhar um caminho que marca um estilo próprio, de uma identidade artística Afro-Amazônica.
Texto e fotos: Glauce Santos