Fluxo de benção, de Tainah Jorge (Foto: Lucivaldo Sena) |
Exposição reúne obras de artistas de terreiros
Quinta-Feira, 07/04/2016, 10:47:37 - Atualizado em
07/04/2016, 10:47:37
Em 1891, apenas três anos após a abolição da escravatura no
Brasil, dona Rosa Viveiros, também conhecida como Mãe Doca, inaugurou em Belém
o primeiro terreiro de tambor de mina. À época, a prática de religiões
africanas era proibida e a mãe de santo natural de Codó, no interior do
Maranhão, foi presa por diversas vezes por cultuar as divindades afros. Símbolo
da resistência negra e da luta pelo direito à manifestação religiosa, ela recebe
homenagem na exposição “Nós de Aruanda”, que abre hoje, às 19h, na Galeria
Theodoro Braga, do Centur, em Belém. A entrada é gratuita. Antes, às 17h,
haverá bate-papo com a pesquisadora Zélia Amador, da Universidade Federal do
Pará (UFPA) uma das fundadoras do Centro de Estudos de Defesa do Negro no Pará
(Cedenpa).
A mostra reúne artistas de diversos terreiros e apresenta
fotografia, videoarte, instalações, xilogravuras, entre outras linguagens.
Entre elas, Mãe Nalva, representada com um livro-objeto em que ela conta,
bordada em pano, a história dos iorubás. Também a artista Tainah Jorge e sua
interferências urbanas do “Fluxo de Bênção”, registradas em fotografias.
Tainah espalhou estênceis por vias movimentadas de Belém e
de Ananindeua, com desejos de saúde, justiça, amor e caminhos de sucesso a
partir das bênçãos trocadas por mães e pais de santos, agentes culturais e
membros de movimentos sociais em um grupo de mensagens instantâneas criado por
ela.
De acordo com o curador Jean Ribeiro, assim como Nalva e
Tainah, há muitos artistas nesses espaços, que mesclam a competência técnica à
temática religiosa e produzem arte de forma diversa. A intenção é abrir as
portas dos espaços expositivos para eles. “A arte, de uma forma geral, é
dominada por uma minoria. Essa é a oportunidade de mostrar como cada um
desenvolve sua pesquisa de acordo com a sua casa, como por exemplo as bonecas
de pano feitas de nó, sem costura”, explica Jean.
O livro-objeto criado por Mãe Nalva. (Foto: Lucivaldo Sena) |
O curador destaca ainda que apresentar as religiões
africanas por meio da arte busca sensibilizar o público em geral que ainda
carece de informações e desmistificar visões equivocadas sobre a religião. Nos
dias de hoje, a Constituição Brasileira garante que os adeptos da umbanda
possam realizar seus rituais de forma livre, mas o preconceito persiste.
“Algumas pessoas ainda acham que as casas afro são para fazer algum ritual de
maldade. É só uma religião como outra qualquer, com seus símbolos e rituais.
Queremos discutir sobre intolerância por meio da arte, que não está só nos
lugares conhecidos, mas nos terreiros também”, lamenta o curador.
A exposição é um desdobramento das pesquisas acadêmicas do
grupo Grupo de Estudos Afro-amazônicos (Geam-UFPA), e do Grupo de Estudos e
Pesquisa Roda de Axé/CNPq, que articula pesquisadores e comunidades
tradicionais de matriz africana. Ela comemora também o dia 18 de março,
dedicado aos umbandistas e aos afro-religiosos, através da Lei Municipal nº
8272, de 2003 e da Lei Estadual nº 6.639, de 2004, e foi selecionada no edital
Pauta Livre do Programa Seiva, da Fundação Cultural do Pará.
VISITE
Exposição Nós de Aruanda
Onde: Galeria Theodoro Braga (subsolo do Centur)
Abertura: hoje, com bate-papo com Zélia Amador, às 17h, e
coquetel às 19h
Visitação: 08 a 29/04, de segunda a sábado, das 9h às 19h
Informações: (91) 3202-4313
Quanto: entrada franca
(Publicação original no Diário do Pará)
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