segunda-feira, 31 de março de 2014

Duda Souza - Um (en)canto de Oxum



Um (en)canto de Oxum, Performance de Duda Souza;
sexta-feira dia 28 de março de 2014. Parte da exposição "Nós de Aruanda, artistas de terreiro".

Nós de Aruanda - artistas de terreiro
7 de março a 11 de abril de 2014
Galeria Theodoro Braga | Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves | Av. Gentil Bittencourt, 650, Térreo. Belém (PA). | Telefone: (91) 3202-4313.

A homenageada: Nós de Aruanda é uma celebração para Mãe Doca, Nochê Navakoly, maranhense de Codó cujo nome de batismo civil era Rosa Viveiros, iniciada nas tradições afro-brasileiras pelo africano ManoelTeuSanto, seu Vodun era Nanã e Toi Jotin. Por cultuar divindades africanas e preservar as tradições de matriz afoamazônica, Mãe Doca foi presa diversas vezes na década de 1890, quando a abolição já havia sido declarada. E apesar de toda a violência sofrida, Nochê Navakoly jamais desistiu de manter aberto em Belém o Terreiro de Tambor de Mina, lugar sagrado onde mantinha preservadas as tradições de suas origens.

Corporeidade - vídeo-performance e conversa com Zezinho do Mocambo



Corporeidade - Vídeo performance de Zezinho do Mocambo (José Liberato)

Roda de conversa realizada na sexta-feira dia 14 de março de 2014. Parte da exposição "Nós de Aruanda, artistas de terreiro".

Nós de Aruanda - artistas de terreiro
7 de março a 11 de abril de 2014
Galeria Theodoro Braga | Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves | Av. Gentil Bittencourt, 650, Térreo. Belém (PA). | Telefone: (91) 3202-4313.

A homenageada: Nós de Aruanda é uma celebração para Mãe Doca, Nochê Navakoly, maranhense de Codó cujo nome de batismo civil era Rosa Viveiros, iniciada nas tradições afro-brasileiras pelo africano ManoelTeuSanto, seu Vodun era Nanã e Toi Jotin. Por cultuar divindades africanas e preservar as tradições de matriz afoamazônica, Mãe Doca foi presa diversas vezes na década de 1890, quando a abolição já havia sido declarada. E apesar de toda a violência sofrida, Nochê Navakoly jamais desistiu de manter aberto em Belém o Terreiro de Tambor de Mina, lugar sagrado onde mantinha preservadas as tradições de suas origens.

Abayomi, força e resistência da mulher negra


Sexta-feira 21 de março de 2014
Ekedy Janete Oliveira e Joyce Lima
Performance: Abayomi, força e resistência da Mulher Negra

Nós de Aruanda - artistas de terreiro
7 de março a 11 de abril de 2014
Galeria Theodoro Braga | Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves | Av. Gentil Bittencourt, 650, Térreo. Belém (PA). | Telefone: (91) 3202-4313.

A homenageada: Nós de Aruanda é uma celebração para Mãe Doca, Nochê Navakoly, maranhense de Codó cujo nome de batismo civil era Rosa Viveiros, iniciada nas tradições afro-brasileiras pelo africano ManoelTeuSanto, seu Vodun era Nanã e Toi Jotin. Por cultuar divindades africanas e preservar as tradições de matriz afoamazônica, Mãe Doca foi presa diversas vezes na década de 1890, quando a abolição já havia sido declarada. E apesar de toda a violência sofrida, Nochê Navakoly jamais desistiu de manter aberto em Belém o Terreiro de Tambor de Mina, lugar sagrado onde mantinha preservadas as tradições de suas origens.


domingo, 30 de março de 2014

Vereadora Sandra Batista solicitou à Câmara de Belém uma manifestação de solidariedade ao povo de terreiro.

Damos através deste ciência do Requerimento de autoria da VEREADORA SANDRA BATISTA, solicitando que a Câmara Municipal envie VOTOS DE SOLIDARIEDADE AO POVO DE TERREIRO PELA DESTRUIÇÃO DO MONUMENTO EM HOMENAGEM A MÃE DOCA ERGUIDO NO DIA 06 DE MARÇO DO CORRENTE, NA ESQUINA DA HUMAITA COM A DUQUE DE CAXIAS, NO BAIRRO DO MARCO.

A destruição do monumento erguido em homenagem a Mãe Doca significa um atentado contra a democracia e a liberdade religiosa e que traz no seu bojo uma clara manifestação do racismo mais despudorado, revelando um contexto ainda marcado pelas chagas do preconceito e da intolerância cega que impede parcela considerável da sociedade de conviver com as diferenças e reconhecer o outro como um ser humano portador de direitos. Mandela nos lembrava de que “o preconceito constitui uma das faces mais cruéis da violência”, pois significa uma desconstrução do outro como humano e uma subtração da espécie mais importante de liberdade – aquela que nos assegura o direito de ser o que realmente somos. O monumento destruído em menos de 24 horas após sua inauguração se configura como uma verdadeira violência contra o Povo de Terreiro e as religiões de matrizes africanas e motivo de grande indignação aos que lutam em defesa dos direitos humanos. A trajetória de resistência de Mãe Doca a transformou num símbolo de luta pela liberdade religiosa da população negra. Mãe Doca foi presa várias vezes por cultuar as divindades e preservar a religiosidade afro-amazônica, porém não desistiu de manter seu templo afro-religioso aberto. Seu terreiro se manteve aberto de 1891 até meados da década de 1960, mesmo após várias tentativas da polícia de tentar neutraliza-la. Enfrentando toda sorte de perseguições, sua perseverança altaneira, abnegação e luta explica a reverência do movimento afro-religioso à Mãe Doca, assim como a tristeza misturada à profunda indignação frente à destruição do monumento. Neste sentido, nos solidarizamos com todos os movimentos afro-religiosos. Temos a firme convicção da urgência no que se refere à políticas públicas que garantam a liberdade religiosa, reprima o preconceito e o racismo, além da implementação de políticas na área da educação em direitos humanos, que enraíze valores e princípios imprescindíveis ás relações humanas. Nesta conjuntura, o Estado não pode ser omisso. O amadurecimento de nossa ainda muito jovem democracia perpassa inexoravelmente pela priorização das políticas educacionais, não apenas do ponto de vista da preparação para o mercado de trabalho, mas também na formação da cidadania, na formação para a vida em sociedade. É importante ressaltar quanta falta nos faz em Belém uma Secretaria Municipal de Direitos Humanos, que articule políticas direcionadas aos seguimentos cujos direitos são sistematicamente violados. À cultura da violência, o poder público precisa responder com políticas que fomentem o espírito de comunhão, fraternidade, colaboração, respeito mútuo e tolerância. Mahatma Gandhi ressaltava que “a lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos” e completava lembrando: “Não existe um caminho para a PAZ. A paz é o caminho!”.
VEREADORA SANDRA BATISTA

quarta-feira, 26 de março de 2014

Exposição Nós de Aruanda - artistas de terreiro foi prorrogada até 11 de abril

Devido ao grande sucesso da exposição "Nós de Aruanda - artistas de terreiro", a Galeria Theodoro Braga da FCPTN e os organizadores da exposição resolveram prorrogar o prazo da mostra que agora ficará em cartaz até dia 11 de abril.


ATENÇÃO PROFESSORES, ESCOLAS DA REDE PÚBLICA E PARTICULAR, A EXPOSIÇÃO "NÓS DE ARUANDA" GANHOU MAIS DUAS SEMANAS (até 11 de Abril), E ESTAMOS COM A PROPOSTA PARA AS ESCOLAS DE VISITAÇÃO NA EXPOSIÇÃO. com base na Lei 10.639 que torna obrigatória a inserção da História e cultura dos Africanos e Afro-Brasileiros nos conteúdos dos currículos escolares. Galeria Theodoro Braga Horário de 9 às 19 HS. De Seg à Sex. Agendamento: Auri Ferreira 82601610 ou na Galeria: (91) 3202-4313

Duas ou três palavrinhas sobre a memória deste projeto pensado na universidade e compartilhado nas comunidades de terreiro:


Em uma sociedade fortemente marcada pela hierarquia de raça e de gênero, nem sempre se valoriza a luta das mulheres, sobretudo em se tratando da  mulher negra e afroreligiosa, sabemos o quanto ainda é preciso lutar para libertar essa história do silêncio.
Não podemos negar que muitos dos nossos direitos já conquistados (e ainda hoje amplamente reprimidos) tem a mancha do sangue e do suor de mulheres de muita garra e fé que dedicaram e dedicam até hoje, sua vida em nome da defesa  da liberdade de expressar sua religiosidade, por este motivo, este é um  projeto em homenagem à Mãe Doca, essa personagem cuja historiografia é importantíssima para a luta do povo afro-amazônida que pouquíssimas pessoas reconhecem .
Mãe Doca é Nochê Navakoly essa maranhense de Codó, chama-se Rosa Viveiros, iniciada nas tradições afro-brasileiras pelo africano Manoel-Teu-Santo. Seu Vodun era Nanã e Toi Jotin. Sabe-se que a partir do dia 18 de março de 1891, apenas três anos após a abolição da escravatura, Mãe Doca foi presa várias vezes porque cultuava as divindades africanas e preservava as tradições de matriz afro-amazônica, e apesar de toda violência sofrida, ela jamais desistiu de manter aberto o terreiro que dava lugar para a manutenção das tradições de suas origens negra africana em seu Terreiro de Tambor de Mina na capital paraense.
A necessidade de inserção dos artistas de terreiros no circuito de artes visuais surgiu no final de 2011 como um 'insigth' durante as aulas da disciplina "Poéticas Afro-amazônicas" para o curso de especialização em 'Saberes africanos a afro-brasileiros na Amazônia”, ofertado pelo Grupo de Estudos Afro- Amazônicos — GEAM/ UFPA. Foi nessas aulas, em que tínhamos o objetivo de subsidiar o ensino de arte e cultura afro-brasileiras e contribuir com a implantação da Lei 10.639/03, que percebemos que a maioria das obras que a história da arte registra como "arte afro-brasileira" são de artistas euro-descendentes que não fazem parte de comunidades de territórios tradicionais negros, e, ao fim, o que percebemos é a presença maciça de um olhar preconceituoso sobre as práticas tradicionais afro-brasileiras em obras produzida por artistas que apenas se valem da temática étnico-racial para usa-las sem nenhum envolvimento ou aprofundamento sobre as questões importantes para as africanidades na diáspora brasileira.
O problema talvez seja que as artes visuais parece ser de uso exclusivo das camadas mais abastadas da sociedade – um mundo restrito às elites (diferente do teatro, da dança e da música), e se configura como a mais restrita da ditas ‘linguagens artísticas’. Essa percepção estimulou o GEP Roda de Axé a iniciar o mapeamento da produção artística nas comunidades de terreiros, e nessa pesquisa encontramos vários artistas que estão em processo de inserção e legitimação no circuito das artes visuais.
A proposta é reunir todos eles/nós em um esforço coletivo de realização de uma exposição anual em homenagem à Mãe Doca para celebrar a resistência pelo direito à consciência do sagrado de Povos Tradicionais de Terreiros de Matriz Africana no Pará - em uma exposição que possamos apresentar a diversidade dessa produção "periférica" como um discurso afirmativo do protagonismo afro-amazônico na produção de poéticas visuais.
Neste esforço coletivo, em 2013 o Grupo de Estudos e Pesquisa Roda de Axé fez uma chamada pública para a seleção de artistas, seleção que primou pelo pertencimento a comunidades de terreiros e interesse em participação na ação artística coletiva.
A primeira versão da exposição inaugurou em 8 de março de 2013 na Galeria Theodoro Braga da Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, e dela partticipram: Alan Patrick Fonseca/ Pejigan Oba Gankona; Alex Leovan/ Táta Dianvula; Arthur Leandro/ Táta Kinamboji (e rede [aparelho]-:); Coletivo Abebê (Samantha Silva e Tatyane Silva); Dellean Cardoso/ Táta Kitauanje; Deyze Mello; Duda Souza; Edson Catendê e Grupo Bambarê; Élida Neves; Firmo Leite/ Táta Mukundemim; Jurema de Manezinho; Mametu Kátia Hadad; Mametu Nangetu; Maurício Franco; Rodrigo Ethnos/ Táta Kafungeji; Ya Rita Gedeunsu e Lucas Tungenan; Walcir Farias Torres (Juca de Ode); Ysa Motta; Alef Monteiro; Amadeu de Deus; Isabela do Lago; Jocimara Alves; Lorena Alves; Marilu Campelo; Raimundo Jorge de Jesus; Renata Silva da Costa; Shirley Muryel; Simone Araujo e Zélia Amador. Pesquisadores da UFPA e artistas pertencentes a comunidades de povos tradicionais de terreiros de Belém, Ananindeua, Marituba e Castanhal no Estado do Pará.

Grupo de Estudos e Pesquisa Roda de Axé/ CNPq-UFPA.





Nós de Aruanda – artistas de terreiro: Nossa segunda Edição:
  
Quando foi mesmo que ela chegou pela primeira vez a meus ouvidos, não sei. Era apenas uma palavra, mas trazia um cheiro violento de terra e de liberdade, gosto de fruta madura, uma palavra apenas, porém usando paladar e olfato. Por que me embalava tanto como se fossem os braços de minha mãe? Pés se arrastavam, corpos dançavam, vozes cantavam e ela vinha clara e sonora, não se explicando ou definindo, mas evocando lembranças, saudades, passado, distante país, tempos idos, mocidade, vida vivida... Aruanda é o país que sempre trazemos dentro de nós, país de Liberdade e de Paz, país sem desigualdades nem ódio, sem injustiças ou crueldades. (...) Aquele que carregamos como uma arma ou uma joia tão brilhante, pois foi por nós construído, vivido, criado, e por nós defendido. (...) Em Aruanda o lírio é mais lírio e as estrelas brilham com maior intensidade, porque tomamos parte direta na construção de toda a paisagem."
Eneida de Moraes (“Aruanda” [crônicas], Livraria José Olympio Editora – Rio de Janeiro, 1957)
  
Aruanda é uma referência ao porto de São Paulo de Luanda, lugar de onde partiam os negros sequestrados e trazidos ao Brasil na condição de escravos, e a referência ficou na memória coletiva como o lugar onde se encontraria novamente a liberdade que vinha com as lembranças do continente de origem. Aruanda chama, Aruanda acolhe, Aruandas dão-se as mãos!
Nós de Aruanda, nossas Aruandas, nosso passado, nosso presente e nosso futuro! E ao mesmo tempo um tempo-lugar-fantasia-documento de nós, sobre nós. Nós que somos filhos e filhas de tantos santos quanto são os tempos das Áfricas amazônidas. Espaços-tempo reunidos para superar concepções que separam a arte da religiosidade e das tradições afro-brasileiras. Arte-Aruanda deve ser entendida como território tradicional negro que tem uma vontade imensa de transpor esse muro gigantesco que separa comunidades tradicionais do mundo branco normatizado.
Na contracorrente da indústria cultural, nós de Aruanda caminhamos em qualquer lugar e transitamos por estrada trilhada entre folhas que não separam a vida da arte, caminhamos para a política da construção do nosso lugar em todos os lugares. Misturados ao solo que nos abriga, somos parte desta terra preta, terra fértil, que alimenta novos brotos em território/terreiro que gera a vida!
Vidas exuberantemente diversas, selvagens, fortes, mágicas, e, porque não, criativas...
Verás de tudo um pouco, de memórias, objetos do cotidiano, oferendas, práticas ritualísticas, enfrentamento político, afirmação de identidades a construir sonhos, narrativas e poéticas.... Práticas artísticas diversificadas, e se por aqui a arte te parecer mais viva, é porque revertemos a violência colonizadora para nos tornarmos paisagem de reconstrução do cosmos cultural sustentado em afetos.

Arthur Leandro, Isabela do Lago e Aurilene Ferreira
Belém, março de 2014.

Serviço:
Exposição Nós de Aruanda - Artistas de Terreiro
Galeria Theodoro Braga - FCPTN (Centur)
Abertura: 7 de março de 2014
Visitação: 10 de março a 11 de abril de 2014
de segunda a sexta, das 9h às 19h



quinta-feira, 20 de março de 2014

Polícia Civil vai apurar vandalismo contra monumento para Mãe Doca.

Na reuniao de hoje, 19 de março de 2014, do Conselho Estadual de Segurança Pública - CONSEP, e por requerimento da Conselheira Maria Luiza Carvalho Nunes representante do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará /CEDENPA, foi apresentada no 'Minuto do Cidadão' a denuncia da destruição do monumento erigido em homenagem a Mãe Doca - Simbolo da resistência contra o racismo por intolerância religiosa das tradições de matriz africana no Pará.
Mametu Muagile representou os povos tradicionais de terreiros de matriz africana.
Coube a Mametu Muagile a representação das comunidades de terreiro, ela relatou os fatos e  falou em nome do segmento, e destacou a importância da luta de Mae Doca e, toda sua história, para a manutenção dos terreiros em Belém do Pará. Por fim solicitou as providencias de apuração desse ato de vandalismo, de preconceito, racismo e intolerância religiosa. O Presidente do CONSEP, Dr. Luiz Fernandes, solidario a causa, determinou que a Policia Civil tome as providencias para apuração do ocorrido e que no CPC Renato Chaves, com seus técnicos, também contribua nos dados periciais.
Dr. Luiz Fernandes determinou a apuração dos fatos.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Nós de Aruanda exibiu o Velhos baionaras, tesouros vivos - de Stéfano Paixão.


Nós de Aruanda exibiu o Velhos baionaras, tesouros vivos - de Stéfano Paixão.


por Luah Sampaio
As dinâmicas de como devemos exibir obras cinematográficas, baseada em uma sala de cinema formal, acaba limitando vários grupos e comunidades a possibilidade de interação com essa linguagem artística, sensível e política. É com essa energia que o GT de Povos Tradicionais de Terreiros de Matriz Africana da PARACINE vem desenvolvendo suas ações, e é com essa perspectiva que desde 2009 constrói a Rede de Cineclubes de Terreiro, e agora, utilizando o espaço da galeria de arte, dentro da exposição ‘Nós de Aruanda – artistas de terreiro’ (link site da exposição) para exibir filmes feitos em comunidades ou dirigidos por membros de comunidades de terreiros afro-amazônicos. A galeria que abriga a produção artísticas dos terreiros de Belém, Ananindeua, Marituba e Castanhal abriga também sessões cineclubistas que normalmente acontecem em terreiros, praças, movimentos sociais, com o intuito de posicionar a importância da Resistência negra dos terreiros amazônidas.
A comissão organizadora desta mostra quis apresentar apenas fazedores de cinema locais que produzem mesmo sem recursos suficientes e não tem abertura nesse circuito fechado, para conseguir discutir e valorizar essa produção audiovisual.

O filme que abriu a mostra foi “Velhos Baionaras, Tesouros Vivos” de Stéfano Paixão, a sessão aconteceu nesta última terça-feira, na galeria Theodoro Braga no CENTUR. Stéfano, nascido e criado em Baião, cidade ao lado de Tucuruí no rio Tocantins, tem uma bagagem nata de experiências de sua terra, dos mitos e tudo o que acerca esse mundo maravilhoso que são as comunidades de beira de rio na Amazônia. Por conta dessa ligação o filme é muito denso e percebe-se o real interesse e encanto das pessoas com suas histórias.
Exibimos duas sessões em uma tarde muito agradável e contamos com a participação do produtor executivo do filme, Dário Jaime, o roteirista Carlos Cruz e do diretor Stéfano Paixão, falando e comentando o processo e os próximos projetos que parecem ser bem promissores. O filme está na integra no site Youtube.
Até o final de março as sessões acontecerão na Galeria, toda terça feira, com as seguinte programação:
Rede de Cineclubes de Terreiros/ PARACINE especialmente na Galeria Theodoro Braga/ FCPTN. CENTUR, Av. Gentil Bittencourt, 650. Nazaré. Belém/PA. Comissão editorial: Isabela do Lago, Arthur Leandro, Luah Sampaio e Eduarda Canto.
18 de março, 15h - O sagrado é ecológico no Candomblé Angola. (Educativo, filme coletivo: Alessandro Ricardo Campos, Anderson Johnny dos S. Nunes, Arthur Leandro, Kátia Simone Alves Araújo, Renato Trindade, Mametu Nangetu, Mametu Deumbanda, Táta Kinamboji, Táta Kamelemba, Muzenza Vanjulê. Pará/ BR, 22 min, 2012). Sinopse: Ação educativa e prática de saberes culturais na construção da educação ambiental na comunidade do Terreiro Mansu Nangetu.
23 de março, 15h - Terreiro de Iyá. (Documentário, direção: Artur Arias Dutra, Yasmin Alves e Cristiane Salgado. Pará/ BR, 24 mim, 2013). Sinopse: Após a passagem da centenária Mãe Etelvina, líder espiritual da Tenda São Jorge e Jarina na Ilha de Cotijuba (PA), acompanhamos o ritual onde os filhos mais velhos, Seu Manoel e Dona Roberta, assumem os trabalhos no terreiro. Um registro raro que compõe o documentário sobre esta comunidade religiosa.

15:30 -  Terreiro de Mina. (Documentário, direção Edvaldo Moura, Pará/BR, 2013). Sinopse: documentário sobre o Terreiro de Mina Nanã Buruquê, que completou 30 anos em 2013, na cidade de Castanhal/PA. Através das imagens do terreiro e do depoimento de Mãe Ana Rita, o curta mostra a beleza da Umbanda e da religiosidade afrobrasileira. Vencedor do V Festival de Curta Metragens Curta Castanhal, em 2013, na categoria geral.

sábado, 8 de março de 2014

Pelo direito à memória de Mãe Doca, pelo direito à existências das tradições negras.

Um memorial para Mãe Doca, um memorial para todos nós.


Em 2003 e 2004 a Câmara de Vereadores do Município de Belém e a Assembléia Legislativa do Estado do Pará reconheceram a luta de Nochê Navakoly (Rosa Viveiros, ou Mãe Doca) como um importante foco de resistência para a manutenção das tradições de terreiros afro-amazônicos, e é em nome da luta de Mãe Doca que o dia 18 de março foi dedicado aos umbandistas e aos afro-religiosos através da Lei Municipal nº 8272, de 14 de outubro de 2003 (autoria do vereador Ildo Terra/PT) e da Lei Estadual nº 6.639, de 14 de abril de 2004 (autoria da deputada Araceli Lemos/ PSoL), e em 2009 a ALEPA ampliou a homenagem através do Decreto Legislativo nº 05/2009 (proposição da Deputada Bernadete Tem Caten/ PT) que instituiu na Assembleia Legislativa do Estado do Pará a Comenda "Mãe Doca" de mérito afro-religioso.
Mas ao mesmo tempo em que Município e Estado reconhecem a importância da luta dos povos tradicionais de terreiros de matriz aricana, e até nos instituem duas leis, o racismo institucional faz com que os gestores nada façam para promover o 18 de março e a memória das lutas contra o racismo, esse mesmo racismo que ataca o sagrado das tradições africanas presentes na diáspora amazônica.
Mas já que o poder público não faz, na manhã do dia 6 de março de 2014 nós instalamos um memorial para Mãe Doca na esquina da Av. Duque de Caxias com a Tv. Humaitá, um memorial que resgatou a história de seu terreiro e a sua presença naquela territorialidade dos bairros do Marco e Pedreira. Uma  base de mármore com uma placa de vidro com fotografias e textos explicando à população a importância de Mãe Doca, e através dela  a importância de toda a luta das mulheres negras amazônidas por uma vida digna com direitos de cidadão.

Menos de 10 horas para a memória de Mãe Doca.

O memorial para uma mulher negra, a história da sacerdotisa das tradições negras amazônidas que enfrentou o racismo e a polícia paraense, não durou nem 10 horas, e antes de anoitecer a placa estava em pedacinhos na encruzilhada mais próxima do lugar onde por aproximadamente 80 anos se manteve o terreiros de nagô Cacheu de Nochê Navakoly.
O monumento foi quebrado durante a forte chuva que caiu na tarde desse mesmo dia da inauguração. Uma das especulações foi de que o vento haveria quebrado o vidro, mas colocamos essa hipótese em dúvida por um detalhe, a base de mármore foi arrancada!

Uma chuva que não destelhou casas naquela área, nem tampouco derrubou as árvores do canteiro teria força suficiente para virar uma base de mármore fixada com cimento? Se apenas o vidro tivesse sido quebrado seria possível acreditar na hipótese de foi causado pelas intempéries de Tempo, mas como vento não vira pedra.... A hipótese que acreditamos é que foi ação humana motivada por racismo religioso.


segunda-feira, 3 de março de 2014

Holofote Virtual: Nós de Aruanda, em 2ª edição na Theodoro Braga

Holofote Virtual: Nós de Aruanda, em 2ª edição na Theodoro Braga: Obra "Zé Pilintra", de Bia Cabral Em 2013, a exposição que reuniu a produção artística dos Terreiros, foi uma das mais visita...

ATENÇÃO PROFESSORES, ESCOLAS DA REDE PÚBLICA E PARTICULAR, A EXPOSIÇÃO "NÓS DE ARUANDA" GANHOU MAIS DUAS SEMANAS (até 11 de Abril), E ESTAMOS COM A PROPOSTA PARA AS ESCOLAS DE VISITAÇÃO NA EXPOSIÇÃO. com base na Lei 10.639 que torna obrigatória a inserção da História e cultura dos Africanos e Afro-Brasileiros nos conteúdos dos currículos escolares. Galeria Theodoro Braga Horário de 9 às 19 HS. De Seg à Sex. Agendamento: Auri Ferreira 82601610 ou na Galeria: (91) 3202-4313

Nós de Aruanda, em 2ª edição na Theodoro Braga

Obra "Zé Pilintra", de Bia Cabral
Em 2013, a exposição que reuniu a produção artística dos Terreiros, foi uma das mais visitadas na galeria situada no Centur - Fundação Tancredo Neves (CENTUR). Visando a inserção e legitimação desses artistas no circuito artístico de Belém e de todo o Estado do Pará, a segunda edição abre no dia 7 de março, às 19h, trazendo 50 artistas e uma programação com performance, sempre a partir das 18h e Rodas de conversa nos dias 14, 21 e 28 de março, às 15h. Entrada franca.

A mostra traz um leque diverso e atuante da arte e cultura afro. Além da exposição e rodas de conversa, o evento conta com  a participação de Bruno B.O. (Hiphop), Carlos Cruz (performance de rua), Nazaré Cruz (tranças e moda afro), com o Coletivo Corpo Sincrético (O corpo trai), Zezinho do Mocambo (Corporeidade), Alan Fonseca e Sttefane Trindade (A cabaça de Anansy) e Ekedy Janete. 

Haverá exibições da Rede de Cineclubes de Terreiro/PARACINE nos dias 11, 18 e 25 de março, a partir de 16h e no encerramento, dia 28, marcam presença o coletivo AFAIA, Grupo Bambarê (Griot) e Duda Souza (Um (en) canto de Oxum), a partir das 18h. 

“Nós de Aruanda” rende homenagens à Mãe Doca, que é a Nochê Navakoly, iniciada nas tradições afro-brasileiras pelo africano ManoelTeuSanto, seu Vodun era Nanã e Toi Jotin e os artistas reunidos na exposição, são oriundos de vinte terreiros, incluindo coletivos como o AFAIA, Grupo Bambaré e o Coletivo Corpo Sincrético. 

Baseado no respeito à coletividade e na valorização da diversidade, esta iniciativa representa o esforço em tirar do anonimato e do silenciamento, a luta de mulheres negras e afro-religiosas, como a história de Mãe Doca, a homenageada da exposição.

Para saber mais sobre esta atitude que exige organização e preserverança (palavra que significa o ato de preservar e também dá nome a uma aldeia em São Tomé e Príncípe - África) em prol da diversidade afirmativa do protagonismo afro-amazônico, o blog conversou com o professor e pesquisador Arthur Leandro (Instituto de Ciências da Arte da Universidade Federal do Pará), também titular no colegiado setorial de culturas afro-brasileiras, o representando no Conselho Nacional de Política Cultural. Para mais informações sobre a programação, acesse aqui.

Holofote Virtual: Arthur, vocês estão no segundo ano desta ação. O que vem motivando a realização da exposição "Nós de Aruanda"?

Arthur Leandro: No Pará nós temos 5 conselheiros nacionais de culturas afro-brasileiras atuando junto ao MinC. Eu, Mametu Nangetu, Mametu Muagilê, Baba Omioryan (Emanuel Souza do Grupo Bambarê) e Ekedy Janete, de Castanhal. 

Os cinco estão na exposição. Posso te dizer que nacionalmente a gente tenta ocupar os espaços da institucionalidade da cultura. O Pará é referência nessa luta de visibilidade de artistas negros, e em especial os artistas de terreiro, e essa luta se reflete aqui também. 

Holofote Virtual: Da mesma forma que se quer trazer à visibilidade, a produção artísticas dos Terreiros, com este movimento, também se pretende romper barreiras que possam vir de dentro destes próprios, em relação aos locais de exposição?

Arthur Leandro: Nas artes visuais (diferente do teatro, da dança e da música), enfrentamos o campo mais restrito das ditas linguagens artísticas, e o que percebemos é que esse universo parece um campo fechado de uso restrito das camadas mais abastadas da sociedade – um mundo restrito às elites. 

Essa percepção estimulou o GEP Roda de Axé a iniciar o mapeamento da produção artística nas comunidades de terreiros, e nessa pesquisa - que consideramos em estágio embrionário - encontramos vários artistas que estão nesse processo de inserção e legitimação no circuito das artes visuais (muitos formados em faculdades de artes visuais).

Cena do documentário "Os velhos Baionaras" 
Direção de Stéfano Paixão
Holofote Virtual: Como se tem travado este diálogo?

Arthur Leandro: A proposta que o grupo apresentou aos artistas foi de reunir todos eles/nós em um esforço coletivo de realização de uma exposição em homenagem à Mãe Doca - ícone da resistência pelo direito à consciência de Povos Tradicionais de Terreiros de Matriz Africana no Pará - em que pudéssemos apresentar a diversidade dessa produção "periférica" como um discurso afirmativo do protagonismo afro-amazônico na produção de poéticas visuais.

A grande maioria não se sente (ou não se sentia) artista, e se somos um país multicultural, isso acontece porque essa multiculturalidade não chegou nos espaços de legitimação de arte... e boa parte de nós ainda não compreende o choque cultural entre os dois universos - de um lado nós, os de Aruanda, que fazemos arte no dia-a-dia sem a preocupação com o mercado de arte; e de outro o circuito de artes visuais a valorizar conquistas individuais e "destacar" os "grandes artistas" com interesse em valorização de mercado, esses (preconceituosamente) chamam a nossa produção de arte étnica...

Baba Luis Tayandô
De todo jeito, quando disputamos esses espaços de legitimação das artes visuais nós balançamos a estrutura que sustenta esse circuito até então unicamente voltado ao mercado - e veja bem que a nossa exposição obteve excelente pontuação de todos os avaliadores do edital de pauta da galeria, e nós ficamos em 1º lugar entre os projetos aprovados, ou seja: o próprio mercado percebeu a potência da produção dos artistas de terreiros.

Holofote Virtual: A produção artística dos terreiros é tradição, no entanto talvez não venha sendo compreendida/reconhecida como tal nem lá, nem cá. Trazer isso à tona, fora dos terreiros, além de reconhecimento, também é uma forma de sustentabilidade aos próprios terreiros? 

Arthur Leandro: A SEPPIR - Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial lançou, em 2013, o Plano Nacional de Sustentabilidade de Povos Tradicionais de Matrizes Africanas, e este plano em seu primeiro objetivo, diz: “Promover a valorização da ancestralidade africana e divulgar informações sobre os povos e comunidades tradicionais de matriz africana”, em iniciativas como “Realizar Campanha Nacional de informação e valorização da ancestralidade africana no Brasil”. 

O projeto coloca, como questão, a visibilidade das comunidades através da divulgação respeitosa das tradições com o protagonismo dos povos tradicionais de terreiros de matriz africana. E isso para nós é sustentabilidade (ver o PDF)

Peça exposta em 2013
Holofote Virtual: Tudo vai estar á venda? Como foi feita a curadoria para o que estará exposto?

Arthur Leandro: Tem uma lei que impede comercialização em galeria de instituição pública, mas os contatos para futuras negociações estarão disponíveis. 

Holofote Virtual: O que foi apresentado, em 2013?

Arthur Leandro: O que apresentamos nesta coletiva foram práticas artísticas do cotidiano das culturas da diáspora africana na Amazônia, ou algumas práticas poéticas que recriam algumas dessas diversas Áfricas amazônicas.

O conjunto das obras aponta para a pluralidade de entendimentos sobre o que é a arte, e que em comum trazem um forte viés emotivo baseado na coletividade, no cotidiano dos terreiros, nas lutas políticas por direitos de cidadania, na política afirmativa, nas práticas ritualísticas, na memória afetiva e na memória de vida como elementos essenciais para a construção de mundo que resulta na poética desses artistas. 

Assim como para a compreensão teórica para a construção dos paradigmas estéticos afro-amazônicos – ou os apontamentos para uma futura estética que tem a potência da estética diversificada e construída pela experiência plural negra e brasileira nesta região, e que indica vínculos a elementos socioculturais africanos e amazônidas.

Munanga (Zaire), professor de Antropologia 
da Universidade de  São Paulo, presente em 2013
Holofote Virtual: Quais foram os pontos positivos?

Arthur Leandro: Tivemos uma visitação de mais de 350 pessoas em 15 dias de exposição, e se considerarmos que a galeria não abre nos finais de semana, podemos dizer que a exposição durou 10 dias e que a média foi de 35 pessoas ao dia, o que para nós se configura como um sucesso. E se aqui em Belém tivemos grande repercussão expressa no público visitante da galeria, nas páginas de jornais, programas de rádio e de TV, e mesmo entre o meio artístico local. 

Os ecos dessa exposição também extrapolaram os limites do estado do Pará e ganharam as páginas de jornais e blogs especializados em nível nacional, assim como povoaram rodas de conversas e debates acadêmicos sobre a produção artística de afirmação dos valores civilizatórios afro-brasileiros. Na nossa percepção, essa ação foi uma experiência inovadora que conquistou o interesse da sociedade em seus mais variados setores. 

Mametu Nangetu, na abertura da exposição em 2013
Foto: Isabela do Lago
Holofote Virtual:  Vocês vão homenagear a Mãe Doca. Qual a importância dela para o “Nós de Aruanda”?

Arthur Leandro: A homenagem é uma celebração à memória da luta dessa mulher, sacerdotisa e liderança de Tambor de Mina, imigrante maranhense vinda da cidade de Codó, e que apenas três anos após a abolição da escravatura enfrentou o racismo luso-brasileiro e inaugurou seu Terreiro na capital paraense.

A luta pela liberdade religiosa no estado do Pará tem nome, e o nome dessa luta por liberdade é “Mãe Doca”. O Decreto Legislativo nº 05/2009 (proposição da Deputada Bernadete Tem Caten/ PT) instituiu na Assembleia Legislativa do Estado do Pará a Comenda "Mãe Doca" em homenagem aos Cultos Afro-Brasileiros.

O dia 18 de março foi dedicado aos umbandistas e aos afro-religiosos através da Lei Municipal nº 8272, de 14 de outubro de 2003 (autoria do vereador Ildo Terra/PT) e da Lei Estadual nº 6.639, de 14 de abril de 2004 (autoria da deputada Araceli Lemos/ PT e hoje no PSoL) e registra a luta de de dona Rosa Viveiros, Também conhecida como Nochê Navanakoly e como “Mãe Doca”.

Bruno B.O. que faz parte da edição em 2014
Holofote Virtual: Falamos da repercussão do ano passado. E com tudo o que foi, quais as expectativas de vocês para esta segunda edição?

Arthur Leandro: Este ano a gente quer consolidar a proposta e firmar esses artistas no cenário das artes visuais paraenses para pensar em alçar outros voos, pensamos em uma versão reduzida (talvez com painéis com imagens de cada trabalho e artista) para circular em escolas. E já temos convite para ir a outros Estados. Aguardamos somente a manifestação de patrocinadores para atravessarmos as fronteiras do município de Belém.