quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Ngomba d'Aruanda, mídia livre que combate ao racismo.

Projeto Ngomba d'Aruanda na Rádio Beco da Cota, é um projeto de mídia étnica e racial que difunde os valores civilizatórios da matriz africana na diáspora brasileira, e prima pelo combate ao racismo e pelo fortalecimento de redes solidárias das lutas sociais e das lutas pela valorização das culturas negras, com protagonismo negro, de povo tradicional de matriz africana (terreiro) e de juventude de terreiro.
Participação de Mãe Nalva de Oxum e Babá Tayando no programa Ngomba d'Aruanda na radio Beco da Cota em 15 de setembro de 2016

Funciona a partir da "Casa do Tempo", uma organização de base comunitária para a preservação das tradições de matriz africana que funciona provisoriamente no bairro da Cremação, em Belém do Pará, articulada com a REATA - Rede Amazônica de Tradições de Matriz Africana, com terreiros e organizações do Movimento Negro no Estado do Pará, e também articulada com organizações de outros estados brasileiros, como o Centro de Referência Pan-africanista Beco da Cota Cultural, de São Luís do Maranhão (mantenedor da rádio Beco da Cota), e com a Kizomba Nacional: Articulação pela vida das juventudes dos povos tradicionais de matriz africana e terreiro.
O programa que fazemos na webRádio BECO DA COTA transmite conteúdos de lutas sociais, difunde e divulga tanto os agentes, quanto as culturas negras amazônidas e brasileiras,  e esses programas são registrados em transmissões audiovisuais pelas redes sociais (Facebook, Instagram, Whatsapp e Twitter) que permitem a interatividade e a participação ativa na programação.
As entrevistas com autoridades e lideranças de matriz africana e do movimento negro,  buscam a reflexão da participação social na luta por direitos de cidadania e, em especial, investe em conteúdos para a implementação da Lei 10.639/03 . Todo o projeto de mídia do Ngomba d’Aruanda é utilizado como mecanismo de educação tradicional e pode ser utilizado no ensino formal, já que todo esse arquivo se constitui como um acervo de experiências do patrimônio cultural afro-amazônico que pode e deve ser utilizado pelas escolas.





Projeto Ngomba d'Aruanda - Comunicação social comunitária de povos tradicionais de matriz africana
Centro de Referência Pan-africanista Beco da Cota Cultural

Rádio Beco da Cota - https://ewe.branchable.com/

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Cinema e cultura para Cosme e Damião.

Uma programação diferente para celebrar uma tradição milenar. Dia 27 de setembro no CEDENPA - Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará, a partir das 10h, tem Cosme e Damião -  uma recriação da celebração para as divindades africanas Ibeji, nas tradições iorubá e jeje, e Nvunji, nas tradições bantu. 

A celebração é para a divindade da brincadeira, da alegria cuja regência está ligada à infância, e que está presente em todos os rituais de tradições africanas reconstruídas na diáspora brasileira. A divindade que rege a alegria, a inocência, a ingenuidade da criança, a divindade que cuida de cada ser humano desde bebê até a adolescência, independente do orixá que cada um carrega, divindade que representa tudo de bom, belo e puro que existe; uma criança pode nos mostrar seu sorriso, sua alegria, sua felicidade, seu engatinhar, falar, seus olhos brilhantes.
Para promover a celebração da felicidade e demarcar a tradição africana do culto divino para a felicidade infantil, é que várias organizações do movimento social negro se juntaram para realizar um evento cultural com cineclube em duas sessões de filmes de curtas metragens infanto-juvenis, informações e músicas afro-brasileiras em programa de rádio e contação de histórias e animação da garotada.

Programação:
Cineclube com filmes infantis, início as 10h (manhã) e as 15:30 (tarde)
Programa Ngomba d'Aruanda na Rádio Beco da Cota - das 12 as 15h (https://ewe.branchable.com/)
a partir das 17h contação de história, animação da garotada

CEDENPA - endereço: Rua dos Timbira, Passagem Paulo VI, 244 - Cremação, Cep 66.045-040 Belém-PA-Amazônia-Brasil, Fone-(091) 3223 1728.

O evento é uma articulação de diversas organizações negras:
Casa de Tempo
Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará - CEDENPA
rede [aparelho]-:
Rede Amazônica de Tradições de Matriz Africana - REATA
Fórum Permanente Afro-religioso - Pará/ FOPAFRO
Fórum da Juventude Afro-Amazônica
Kizomba Nacional - Articulação pela vida das juventudes dos povos tradicionais de matriz africana e terreiro
Projeto Ngomba d'Aruanda - Comunicação social comunitária de povos tradicionais de matriz africana
Centro de Referência Pan-africanista Beco da Cota Cultural
Rádio Beco da Cota - https://ewe.branchable.com/



quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Receita de farofa ou Para que serve papai?, de Pedro Neto.

Dedico esta receita especialmente para Iyagbase Olasedele, Eloi Goes, Iya Ilayeomin Pati Neves, Asoju Oba Alaketu Aulo Barretti Filho, Iya Sessu, Baba Paulo Ifatide Ifamoroti, Koota Regina NogueiraSilvany Euclênio,Vilma Piedade, Taata Arthur Leandro, Mãe Beth de Oxum e Sandra Camposs
Receita de farofa ou Para que serve papai?
Pedro Neto
Um dia, chamei Bilajaiye e seus irmãos Kobiola, Omolade e Abayomi, para todos juntos prepararmos uma farofa para Èsù. Todos aceitaram o meu convite com alegria e entusiasmo. Fomos então, pegar os apetrechos para ritualizar nossa origem de matriz africana yorùbá.
Ingredientes necessários ou princípios civilizatórios:
Circularidade
Ancestralidade
Continuidade
Èsù
Movimento
Força
Em alguns casos: Paciência
Na cozinha de nossa comunidade tradicional, reunimos todos os ingredientes. O fogão a lenha estava a toda quentura. Bilajaiye logo pergunta a que horas colocaríamos a farofa sobre as chamas do fogão. Explicamos que aquela farofa não ia ao fogo, pois ela era o próprio fogo, e neste caso, fogo cru e não cozido.
Modo de preparo ou como ritualizar nossa origem:
Pegamos a Circularidade [alguidar], princípio e relação de poder tradicional de matriz africana horizontal, onde todos podem ver, falar, fazer e pensar em círculo, e despejamos nossa Ancestralidade [farinha de mandioca], grãos díspares e dispersos, multidão de pontos que compõem nosso corpo e nossa noção de ser. Feito isso, colocamos na Circularidade um pouco de Continuidade [sal], elemento que preserva por meio de tempos imemoriáveis nossa imortalidade. Jogamos então Èsù [azeite de dendê], nosso indivisível líquido masculino e feminino, o elemento que transforma as partes no todo. Colocamos em seguida um pouco de Movimento [aguardente ou gin], ninguém fica triste ou parado quando quer conquistar um objetivo. Em alguns casos, podemos colocar Paciência [água], ingrediente que acalma e da vida, mas em excesso, morre afogado, por isso, caso queiram colocar Paciência, façam com parcimônia.
Em seguida, todos nós colocamos as mãos e fizemos destes ingredientes uma massa, um ser, um pedido e agradecimento comunitário.
Mascamos um pouco de Força [pimenta da costa], o que fortalece a palavra e faz acontecer, e despejamos na cheirosa e úmida farofa.
Colocamos a farofa novamente na Circularidade [alguidar], que vai dar a forma final deste predicado, atenção, sem apertar a massa. Logo depois, com o dedo maior fazemos a marca do espiral endógeno òkotó, o principal símbolo de crescimento continuo do povo yorùbá.
Terminamos, a dinâmica estava pronta! Bilajaiye pergunta: Para que serve Papai?
Filho! Serve para ritualizar nossa origem. Donde viemos e para onde queremos ir. Serve para lembrar aos iniciados na tradição yorùbá, que tudo tem sentido e motivo. Vale muito mais saber o que e porque se faz, do que fazer por fazer.
Sabem de uma coisa, ainda tem muita gente que acha a receita simples demais.

sábado, 10 de setembro de 2016

Arte é lugar de protesto? Alguns dados para fomentar o debate.


via GIPHY





Textos meus, Arthur Leandro  em postagens diferentes: 
Naufrágio parece ser uma referencia ao acidente com 5 mil cabeças de gado no porto de Barcarena. intervenção artística na obra de arte, talvez a melhor reação de público... essa aí reagiu e deixou de ser espectadora passiva. MARAVILHA DE INTERVENÇÃO!!!! viva o Pixo!!!
e
ela escreveu "Naufrágio", referência ao desastre ambiental em Barcarena/PA.... intervenção artística na obra de arte, talvez a melhor reação de público... essa aí reagiu e deixou de ser espectadora passiva.



Texto da  Bianca Levy
ANTES QUE A VACA VÁ PRO BREJO
Em resposta aos ataques de desconhecidos na minha postagem, segue a minha posição em relação ao caso das vacas. Pixo é arte sim, arte de rua. Questiona e releva questões sociais por meio da intervenção urbana. A prática de "desenhar" o cotidiano em paredes é milenar, diga-se de passagem, e super importante para entender o contexto histórico e social de um povo. O pixo é a expressão artística que as classes desfavorecidas criaram para gritar o silenciamento imposto a elas historicamente pela elite. Mesmo o grafite, que é mais "palatável", surgiu dessa premissa. Penso que a proposta da Cow Parade dialoga em um ponto com a arte de rua que é a intervenção urbana. E dentro desse contexto, as próprias intervenções urbanas estão sujeitas a outras intervenções também. E foi isso o que ocorreu com a obra em exposição. Eu ainda não ouvi pronunciamento do artista que fez a obra original e sinceramente, gostaria de saber qual o posicionamento dele. Mas posso dizer que como cidadã eu me sinto sim representada por essa intervenção e vou mais além; pra mim essa nova obra (aniquilada pela organização asséptica do evento) tem mais potência do que todas as outras juntas, pois revela um desastre ocorrido aqui do nosso lado há pouco tempo. Como jornalista eu acompanhei a situação do naufrágio de Barcarena e reconheço a tamanha violência e sofrimento a qual foram submetidos esses cinco mil animais, assim como o descaso com que os moradores do entorno são tratados. E nenhuma das cinquenta vacas de presépio da Cow Parade lembraram disso, portanto, sacada genial da artista (lembrando também nesse ponto que, além de questionar, arte é isso, é chocar, seja pro bem o pro mal. É despertar sensações, e com certeza essa artista conseguiu realizar isso com êxito). Não quero nem entrar no mérito da curadoria desse concurso, das corporações por trás disso, da origem da verba, do processo e critérios de seleção, invariavelmente excludentes em grandes projetos como esse. O fato é que jamais um jovem artista (principalmente de rua) com portfólio reduzido, sem prêmio de edital nas costas vai ter preferência numa hora dessas. Esses são os artistas que mantém a sua arte na resistência, na guerrilha. E pra eles o meu salva sempre. E pra quem acha que isso é mania de perseguição com a ordem ou implicância com o evento, me limito apenas a citar uma vaca que foi "doada" pela organização do Cow Parede ao Curro Velho, por debaixo dos panos, alheia ao processo de seleção. Eu estive lá como jornalista e vi/ soube, e inclusive a minha matéria foi vetada por isso. No mais, o único recado que eu posso dar para a organização do evento é: Quem não sabe brincar, não desce pro play. Quem vai trabalhar com arte de rua deve estar preparado para todas as intervenções externas. Um bom artista sabe disso.
Publicado no Facebook


Texto da Byxa Do Matto (em dois posts diferentes)
O q esperar das estruturas de poder hegemônico além desse cinismo castrador disfarçado de susto e preocupação com a depredação de sinalizadores ditos arte, disposto nas vacas cowparade belem? Aff, afff, o pixo #naufragio reintera a discussão dos paradoxos e das coisas invisibilizadas nesse lugar, tão vivo de reexistências quanto de números de mortes no qual a direita tenta na base do sangue derramado fazer seu rancho. Dizer amem?
As vacas estão todas por ae, no mapa do dinheiro e da paisagem supostament cosmopolita estão com a marca de seus donos, tatuadas no corpo, longe só um pokinho dos mais d 2 mil bois q morreram afogados no porto de vila do conde com o #naufragio do navio, deixando a população d barcarena numa situ q nem sei o q dizer sobre, mas minimamente, sem condições de fazer self...
As vacas estão longe do mapa onde o carro que passa matando nas perifas faz seu show de horror, e não me admiro que os jornais, alguns intelectuais e umas pessoas alienadas, tanto por escolherem a idiotice e o facismo, quanto por estaram com um fardo gigante, dêem mais atenção a “”depredação’’ de uma obra d arte na rua do q vidas q somem com tiros e mais tiros e com a fumaça de um carro preto , q ninguem sabe, ninguém viu, ,, aaaaaaaaafffffffff, o q mais me deixa loca, é ver a gente repetir discursos, modos de olhar as coisas, e quanto isso uma serie de atrocidades vão passando como se fossem carros alegóricos,

Não vou dar a volta no trio,
x-x-x-x
outra coisa me deixa nervosa é a comoção por de repente legitimarem o pixo #naufragio na vaca do #cowpared como uma intervenção d arte ou como uma intervenção politizada e assim, engolida pois entra nos tramites de uma discussão mais ampla do que é arte ou não..., supostamente,,,, axo curioso termos a superficie de discussão ainda pautada no >>> aah o artista gostou,,, e tudo bem,,,O q me incomoda profundamente é a voz dizendo como são as coisas ou devem de ser, , implicita nas entre linhas de muitos, inclusive eu



Texto de Glauce Santos
"Manifestações artísticas em espaço público"
Podemos considerar que as gravuras e pinturas rupestres da pré-história foram os primeiros grafismos do mundo, e sabemos também da prática dos pixos entre os antigos romanos, que escreviam mensagens de protesto nas paredes das construções da cidade, e ambos são encontrados até hoje em seus respectivos sítios arqueológicos. Vários estudiosos afirmam isso !!!!
A Pichação pode ser definida como escritas, rabiscos em muros, edifícios, ruas e monumentos urbanos com tinta em spray aerossol, estêncil ou rolo de tinta, a pichação normalmente é associada como ato de vandalismo e não a arte urbana, mas alguns consideram como arte de protesto !!! O grafite como conhecemos hoje, tem seu início na década de 60, na contracultura, nas minorias excluídas, nos jovens da periferia, como forma também de protesto, de gritar suas dores.
A arte urbana, pública nos apresenta formas do fazer artístico, que vai abrangendo várias modalidades de grafismos, que vão do grafite, estêncil, passando por cartazes lambe-lambe, intervenções, instalações, e entre outras. São formas de pessoas sozinhas ou em grupo, expressarem os seus sentimentos através de desenhos e escritas.
Fiz toda essa introdução didática para dizer que considero Pixo como arte de protesto, sim estou falando da intervenção-protesto que a garota fez na tal vaca !!!!!
Algumas pessoas não entendem que nós artistas queremos políticas públicas para as artes em nosso Estado, e não apenas editais excludentes, elitistas, que só beneficiam poucos artistas, acabamos de perder um museu de arte, assim como muitos bois e vacas morreram naquele naufrágio em Barcarena, onde imperava a estupidez humana, causando danos ao meio ambiente, e ainda temos que aguentar uma "mídia burguesa" chamando de vandalismo a intervenção que a garota fez na vaca, quanta hipocrisia !!!!!!
A arte pública é assim mesmo, o próprio nome já diz, pública !!!!!!

Para os artistas elitizados e higienizados de museu, para uma população desinformada e adestrada, o pixo é um crime. haha Faça-me um favor, não ponha a tua arte na rua, caso vc não queira que ela venha sofrer intervenções pungentes. Todo o "artista" deveria saber, que qualquer "arte" que caia na boca da rua, deixa de ser sua. Torna-se rua! Muito cansativo lidar com a ignorância alheia. Viva o pixo!

Texto da Angélica Lopes Arcasi
A rua sempre aponta o caminho!
#NAUFÁGIO me representa! Intervenção crítica e acertada que aproveita oportunamente o suporte e retoma o naufrágio do navio Haidar que afundou em 2015 com cinco mil bois vivos no porto de Vila do Conde, em Barcarena/Pa.
O que teve de mais interessante e potente na exposição foi também o mais efêmero. Aprendam: Pixo é denúncia, é grito, é arte.

E vandalismo é exclusivamente o que o Estado faz. #ForaTemer!  

Arte é atividade ideológica, 

como todas as ações humanos.... logo...

É arte sim!


SOBRE VACAS EM BARCARENA/PA.



Em 6 de outubro de 2015 um navio que transportava carga de cinco mil bois vivos afundou na no cais do porto de Vila do Conde, em Barcarena, nordeste do Pará. O naufrágio aconteceu duas horas depois da embarcação ter tombado. Imagens mostram os animais saindo de dentro da embarcação e subindo na lateral do navio, parcialmente submerso. Um vídeo feito pelo estivador Renato Pereira registrou a correria no porto logo no início da manhã.
Em 12 de outubro de 2015 a imprensa noticiou que “Praia do PA é tomada por bois mortos após naufrágio; moradores protestam” - Bois mortos em naufrágio em Barcarena acumulam-se na orla de praias tomadas pelo óleo diesel que vazou de embarcação no último dia 6. Moradores de Vila do Conde realizaram um protesto na manhã desta segunda-feira (12) em frente ao principal portão de acesso da Companhia Docas do Pará (CDP), em Barcarena, no nordeste do Pará. Eles cobraram providências imediatas para os problemas decorrentes do naufrágio de uma embarcação que transportava cinco mil bois, em Barcarena, no último dia 6.

Distância entre o porto de Belém – PA e o Porto de Vila do Conde – PA é de 31 31 Km ou 17 Milhas Náuticas, para se deslocar nadando nesse percurso leva-se aproximadamente 7h e 45 minutos, se for num navio, desses mesmo e igualzinho ao que naufragou em Barcarena, leva-se de 48 minutos a 1h e 15 minutos, e de lancha, cerca de 30 minutos

REFERENCIAS NA HISTÓRIA DA ARTE
"Inserções em circuitos ideológicos" – de Cildo Meireles (1975), é uma operação provocadora da ordem pública ao interferir nas estruturas que simbolizam e garantem o poder estabelecido.

Nós somos mais pretensiosos: se a nossa civilização está apodrecida, voltemos à barbárie. Somos os bárbaros de uma nova raça. Os imperadores da velha ordem que se guardem. Nosso material não é o acrílico, bem comportado. (...) Nosso instrumento é o próprio corpo – contra os computers. Nosso artesanato é mental - ver em BITTENCOURT, Francisco. A geração tranca-ruas. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, Caderno B, p.2, 9 mai.1970

“O artista hoje é uma espécie de guerrilheiro. A arte uma forma de emboscada. Atuando imprevistamente, onde e quando é menos esperado, de maneira inusitada, o artista cria um estado permanente de tensão, uma espectativa constante. Tudo pode transformar-se em arte, mesmo o mais banal evento cotidiano. Vitima constante da guerrilha artistica, o espectador vê-se obrigado a aguçar e ativar seus sentidos (o olho, o ouvido, o tato, o olfato, agora também mobilizados pelos artistas plásticos), sobretudo necessita tomar iniciativas. A tarefa do artista-guerrilheiro é criar para o espectador (que pode ser qualquer um e nao somente quem frequenta exposições) situações nebulosas, incomuns, indefinidas, provocando nele, mais do que o estranhamento ou a repulsa, o medo. E so diante do medo, quando todos os sentidos são mobilizados, ha iniciativa, isto é, criação.” MORAIS, Frederico Contra a arte afluente: o corpo é o motor da obra. Revista VOZES “Vanguarda brasileira: caminhos e situações. Jan./Fev.: 1970.


Artur Barrio lançou em 1969 seu "manifesto contra as categorias de arte, contra os salões, contra as premiações, contra os júris, contra a crítica de arte (Manifesto Estética do Terceiro Mundo)", contra, portanto, o sistema de arte e suas categorias, considerando-as uma imposição aos artistas latino-americanos. Para ele a utilização de materiais caros e convencionais em trabalhos artísticos representava a continuidade dos "serviços" da arte ao gosto das elites, e em contraponto propõe materiais baratos e perecíveis para problematizar a questão econômica na arte. Fernando Cochiarale explica que "a partir da crítica a essa realidade socioeconômica, étnico-política e estética Barrio deduz, com uma clareza rara na arte brasileira, o eixo fundamental de sua singular poética: conspirar contra o gosto das classes dominantes - no campo em que essas exercem seu poder cultural e operatório (poder assentado na crença da existência de um campo verdadeiro e puro da arte) - pela utilização de materiais precários e perecíveis, colhidos nos rejeitos de nossos trânsito no fluxo da vida". Para sua conspiração, Barrio vai às ruas e intervém no cotidiano das cidades sem perguntar às pessoas se é isso que queriam. E usando os rejeitos da sociedade de consumo faz seu trabalho de forma direta com o espectador e para a sua percepção da realidade, inclusive a econômica, Paulo Herkenhoff diz que a atitude de Barrio sustentou dois debates: o primeiro pela liberdade de expressão na ditadura e o segundo contra a desigualdade de expressão no capitalismo. As relações de poder, a partir da consciência dos efeitos da economia mundial na economia latino-americana, é força motriz de seus trabalhos.

Richard Huelsenbeck, no manifesto Dada de 1918, apontava para uma prática cultural de caráter libertária no seio da sociedade, ao afirmar que “a arte, para sua execução e desenvolvimento, depende do tempo no qual vive”, e que a arte maior será aquela que apresentar conteúdos conscientes dos múltiplos problemas de seu tempo, “aquela que se fará sentir como sendo sacudida pelas explosões da semana precedente, aquela que tenta se recompor depois das vacilações da noite anterior”, pois pra ele os artistas são um produto de sua época, e “os melhores e mais insólitos artistas são aqueles que a qualquer momento arrancam pedaços do próprio corpo, do caos da catarata da vida e os recompõe”;

No item 4 do “Esquema geral da Nova Objetividade”, (texo de 1967) Hélio Oiticica diz que: há atualmente no Brasil a necessidade de tomada de posição em relação a problemas políticos, sociais e éticos (...) sendo o ponto crucial da propria abordagem no campo criativo: artes ditas plasticas, literatura etc. (publicado por Cecília Cotrim & Glória Ferreira em “Escritos de artistas: anos 60/70” Rio de Janeiro: Jorge Zahar: 2006)




x-x-x-x-x
O QUE É A COWPARADE?
É O MAIOR E MAIS BEM SUCEDIDO EVENTO DE ARTE PÚBLICA NO MUNDO.
As esculturas de vacas em fibra de vidro são decoradas por artistas locais e distribuídas pelas cidades, em locais públicos como estações de metrô, avenidas e parques. Após a exposição, as vacas são leiloadas e o dinheiro é arrecado e revertido para instituições beneficentes.
O evento tem 17 anos, e acontece desde 1999, já já passou pelo menos por 84 cidades de 36 países em todo o mundo, incluindo Chicago (1999), New York City (2000), Londres (2002), Tóquio (2003) e Bruxelas (2003). Dublin (2003), Praga (2004) e Estocolmo (2004), Cidade do México (2005), São Paulo (2005 e 2010), Curitiba (2006), Belo Horizonte, (2006), Boston(2006) Paris (2006), Rio de Janeiro (2007 e 2011), Milão (2007) e Istambul ( 2007), Madrid (2008), Taipei (2009); com a participação de 10000 artistas, arrecadando aproximadamente U$ 35 milhões que foram doados para entidades beneficentes
POR QUE VACAS?
Há algo de mágico com a vaca. Ela representa coisas diferentes para pessoas diferentes ao redor do mundo: é sagrada, é histórica, mas o sentimento comum é de carinho. Ela simplesmente faz todos sorrirem.
A escultura de vaca da CowParade forma uma tela tri dimensional que agrada a todos os artistas e não existe nenhum outro animal ou objeto que fornece uma forma com a mesma flexibilidade e amplitude.
QUEM SÃO OS ARTISTAS?
As vacas são pintadas por artistas locais. Pintores, escultores, artesãos, arquitetos, designers e outras pessoas criativas e artísticas são bem-vindas para apresentarem um projeto para a seleção, desde amadores e desconhecidos até profissionais e famosos.
PARA ONDE AS VACAS VÃO APÓS O EVENTO?
As vacas são leiloadas e a renda é revertida para entidades beneficentes. Os leilões da CowParade são realizados como leilões de arte tradicional com os lances ao vivo e através da internet.
QUEM ESCOLHEU OS ARTISTAS
Juri formado por Paulo Chaves Fernandes, Secretário de Estado da Cultura; Dina Oliveira, Presidente da Fundação Cultural do Pará; Jussara Derenji, Diretora do Museu da UFPA; Eduardo Klautau, Coordenador do Comitê Belém 400 anos; Rodrigo Pizzinatto, Diretor Comercial e Marketing da Extra-Farma, e Alan Rodrigues, Diretor Executivo da Agência Inova. E Fafá de Belém foi escolhida madrinha do evento.

Na imprensa:

“A CowParade contempla as comemorações pelos quatro séculos de Belém, além de ser uma iniciativa de responsabilidade social, pois as peças serão leiloadas após as exposições e o dinheiro arrecadado será doado para a Associação Voluntariado de Apoio à Oncologia (Avao), para a Associação de Pia União do Pão de Santo Antônio e para as Obras Sociais da Paróquia de Nazaré.” De acordo com o coordenador do Comitê Belém 400 Anos, Eduardo Klautau, “o que mais nos entusiasmou para receber esse evento e inseri-lo na agenda do aniversario da cidade foi esse caráter artístico e inclusivo de solidariedade. Motivos regionais para inspirar os mais de 300 projetos que recebemos não faltaram, até chegarmos à escolha final, que agora vai embelezar nossa cidade”, disse Klautau”.

“Para a sócia-diretora da TopTrends, o desejo de trazer a mostra para o Norte do Brasil já era grande e coincidiu de chegar a Belém neste período. “Conseguimos trazer as nossas ‘vacas do bem’ para Belém em um momento histórico para a cidade, além disso, por meio dessas obras conseguimos sentir o regionalismo por meio das artes, retratando o açaí, as mangas, a própria cultura indígena. Isso está sendo maravilhoso”, explicou a responsável pelo evento”.


segunda-feira, 5 de setembro de 2016

O camburão, por Érika Estérika.



Texto de AmÉrika EstÉrika publicado no Fcaebook logo após a demedida repressão polícial contra as manifestações #foraTemer #diretasJÁ.


O camburão

Em instantes voltei há séculos atrás, vários capitães do mato para conter uma jovem de menos de 50k e um metro e meio da altura... Lá dentro é o navio negreiro do século XXI, eu, que reagi de forma pacífica, em nenhum momento alterei a voz, e eu tinha muitos motivos pra altera-la, tentei dialogar, e praticamente fui arrastada pelo choque até a viatura... Fui humilhada e agredida verbalmente, naquele cubículo, onde eu nem podia sentar direito, sendo jogada de um lado a outro no andar daquela “carruagem”.
Os caras fardados:
É pela sua farda, não é exatamente por você...
Eu fazendo a diplomata com um cara que queria “ordem” e mais o batalhão dele que queria quebrar vagabundo... a frase mais recorrentes entre eles “bando de vagabundo” “eles merecem uns tapas valendo” “não vai adiantar otários, ela não vai voltar”
Tudo que eu tive que ouvir daqueles pol, tudo que eu tive que ver deles, armando táticas de repressão...
Agradeçamos por estarmos no centro da cidade! Na quebrada não é bem assim que eles agem, na quebrada só o que vemos e o sangue preto, já derramado! Na perifa não podemos contar ate dez...
Um sonrisal, dois sonrisal, e pronto. Um novo pol. De fato, os pol tem família, amigos e inimigos, eles não são monstros, são gente como a gente! Mas uma farda muda tudo! Um batalhão muda tudo, o militarismo muda tudo, e o machismo, os macho querendo bater. Saibam todos o alvo da PM nas manifestações é as preta! Somos nós manas.
No meio do barulho, bala de borracha, a acidez do espray de pimenta, um silêncio me invadia, um silêncio que muitas mulheres negras entenderam, o silêncio da minha solidão, o vazio, o enjoo no estomago de estar em um carro, cujo referencia que tenho desde pequena e de medo, terror... Toda PRETA já foi ou viu um parente, amigo, vizinho entrar num veiculo desses... Os que voltaram tiveram sorte! Tenham certeza que tinham milhões naquele carro comigo, muitos, muitos... Aquele camburão prefere levar preto, preta!
A força veio da COR, veio do Útero, do cú. As manas trocando msg, e tentando me proteger, todas as que estavam la fisicamente, e as que estavam espiritualmente! Aí eu entendi o que eles tanto temem, eles temem as pretas na rua, eles temem xs guerreirxs em combate, eles temem a nossa força! Eles temem!
Não é pela Dilma, não é elo PT, é por nós! É PELA REALIDADE da minha família, dos meus amigos, a minha realidade! sem heroísmos! Somos um povo de luta, e todos somos capazes! Sem heroísmos!
Não esquecerei o AMOR, não esquecerei de AMAR, mas NUNCA deixarei de guerrear pelo que acredito! O vomito não é so meu, o vomito e de tantas dores que me constroem. Uma preta não é apenas uma preta, ela é as varais caras de mucamas,ela é cada mulher preta escravizada, abusada, humilhada. Essa força que contagia o meu ser é ancestral, é matriarcal, e a força da minha COR!
Novos dias virão, difíceis, pesados, mas como eu aprendi, JAMAIS TEMEREI!
Gratidão a todos xs amigxs. Os de perto, os de longe. Muito amor nessa guerra!
Acho que ainda chego aos 25 anos...
#Foratemer!
#Foratodos!

#desmilitarizaçãojá