segunda-feira, 5 de setembro de 2016

O camburão, por Érika Estérika.



Texto de AmÉrika EstÉrika publicado no Fcaebook logo após a demedida repressão polícial contra as manifestações #foraTemer #diretasJÁ.


O camburão

Em instantes voltei há séculos atrás, vários capitães do mato para conter uma jovem de menos de 50k e um metro e meio da altura... Lá dentro é o navio negreiro do século XXI, eu, que reagi de forma pacífica, em nenhum momento alterei a voz, e eu tinha muitos motivos pra altera-la, tentei dialogar, e praticamente fui arrastada pelo choque até a viatura... Fui humilhada e agredida verbalmente, naquele cubículo, onde eu nem podia sentar direito, sendo jogada de um lado a outro no andar daquela “carruagem”.
Os caras fardados:
É pela sua farda, não é exatamente por você...
Eu fazendo a diplomata com um cara que queria “ordem” e mais o batalhão dele que queria quebrar vagabundo... a frase mais recorrentes entre eles “bando de vagabundo” “eles merecem uns tapas valendo” “não vai adiantar otários, ela não vai voltar”
Tudo que eu tive que ouvir daqueles pol, tudo que eu tive que ver deles, armando táticas de repressão...
Agradeçamos por estarmos no centro da cidade! Na quebrada não é bem assim que eles agem, na quebrada só o que vemos e o sangue preto, já derramado! Na perifa não podemos contar ate dez...
Um sonrisal, dois sonrisal, e pronto. Um novo pol. De fato, os pol tem família, amigos e inimigos, eles não são monstros, são gente como a gente! Mas uma farda muda tudo! Um batalhão muda tudo, o militarismo muda tudo, e o machismo, os macho querendo bater. Saibam todos o alvo da PM nas manifestações é as preta! Somos nós manas.
No meio do barulho, bala de borracha, a acidez do espray de pimenta, um silêncio me invadia, um silêncio que muitas mulheres negras entenderam, o silêncio da minha solidão, o vazio, o enjoo no estomago de estar em um carro, cujo referencia que tenho desde pequena e de medo, terror... Toda PRETA já foi ou viu um parente, amigo, vizinho entrar num veiculo desses... Os que voltaram tiveram sorte! Tenham certeza que tinham milhões naquele carro comigo, muitos, muitos... Aquele camburão prefere levar preto, preta!
A força veio da COR, veio do Útero, do cú. As manas trocando msg, e tentando me proteger, todas as que estavam la fisicamente, e as que estavam espiritualmente! Aí eu entendi o que eles tanto temem, eles temem as pretas na rua, eles temem xs guerreirxs em combate, eles temem a nossa força! Eles temem!
Não é pela Dilma, não é elo PT, é por nós! É PELA REALIDADE da minha família, dos meus amigos, a minha realidade! sem heroísmos! Somos um povo de luta, e todos somos capazes! Sem heroísmos!
Não esquecerei o AMOR, não esquecerei de AMAR, mas NUNCA deixarei de guerrear pelo que acredito! O vomito não é so meu, o vomito e de tantas dores que me constroem. Uma preta não é apenas uma preta, ela é as varais caras de mucamas,ela é cada mulher preta escravizada, abusada, humilhada. Essa força que contagia o meu ser é ancestral, é matriarcal, e a força da minha COR!
Novos dias virão, difíceis, pesados, mas como eu aprendi, JAMAIS TEMEREI!
Gratidão a todos xs amigxs. Os de perto, os de longe. Muito amor nessa guerra!
Acho que ainda chego aos 25 anos...
#Foratemer!
#Foratodos!

#desmilitarizaçãojá

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