(...)
Um movimento de artistas não deve
reduzir suas reivindicações à democratização dos recursos
públicos, mas questionar a própria estrutura de financiamento da
cultura, do contrário sairá das mãos dos marchands para a rede do
capital privado, sob o domínio da burocracia estatal.
Se a arte entra no jogo do mercado como
necessidade de sobrevivência dos artistas periféricos na selva do
capital, ela não deve se reduzir ao jogo da economia da cultura.
O jogo de selos, portfólios, logos,
tudo deve ser questionado quando se pensa em arte livre.
Denunciamos, portanto, este jogo
sórdido do campo cultural subordinado aos interesses e regras de
instituições governamentais, empresas, leis e organizações não
governamentais, cujas práticas não vão ao encontro das comunidades
excluídas dos processos culturais.
Uma arte livre deve ser autônoma, não
deve ser apenas resultado de uma oferta do Estado, de espaços para
sua exibição e fomento. Esse espaço também deve ser construído
por fora, de maneira autônoma a qualquer instituição.
Arte e cultura são conhecimentos
ancestrais constitutivos do humano, em especial na Amazônia, e não
ferramentas ou indicadores de ascensão econômica e social, e por
isso manifestamos latente preocupação quanto a esta abordagem.
(...)
Se nos perguntarmos qual o valor do
artista para a política cultural paraense, rápido chegaremos a um
consenso.
É consenso para todos nós que o valor
da cultura é simbólico.
Quanto a isso, não há o que divergir.
Mas não há dinheiro que pague um
poeta, muito menos a sua poesia, ainda que o mercado possa
comercializar seus livros, consequentemente, o (pseudo) jornalismo e
crítica acadêmico-mediáticos os reverberem nesta roda da fortuna
da indústria cultural.
Um poeta não tem valor, embora seja
simbólica a sua produção cultural e ainda mais real seja a sua
intervenção na comunidade, a qual é totalmente “invisível”
aos olhos dos lucros indústrias - que lhe condenam ao anonimato de
forma a privilegiar os interesses dos grupos culturais que traficam a
verdadeira arte do povo para o mercado.
(...)
Como diz Buscapé Blues, mas quando o
assunto é financeiro é cada um por si, cada um por si, cada um por
si.
Numa perspectiva econômica o Estado
não pode apenas privilegiar quem faz e/ou produz objetos/produtos
para o mercado.
O Estado até pode ajudá-lo, mas
mantê-lo e ignorar o artista da periferia, jamais.
O Estado como indutor da economia não
pode privar o artista popular e a arte que se cria na periferia dos
direitos ao acesso aos recursos, bens e às estruturas culturais, que
em tese deveriam ser disponibilizados a toda a sociedade.
O Estado não pode permitir que a arte
periférica fique à deriva do mercado.
E quando falamos MERCADO queremos dizer
a academia, a instituição, a mídia e todos os seus ecos nas redes
sociais.
O papel do Estado é o de distribuir
recursos à sociedade que afinal lhe paga tributos.
(...)
Os movimentos cultuais se articularam e
historicamente ampliaram as suas conquistas, algumas traduzidas nas
políticas de editais, que são na verdade resultados de demandas
populares.
Porque apenas com pressão é que
alcançamos os nossos objetivos, as nossas metas. Com pressão somos
capazes de ter mais força para negociar.
Mas hoje os editais estão dirigidos
para os grupos que atuam no mercado, deixando muito menos que
migalhas à periferia.
Há portanto um setor ainda excluído,
fartamente excluído, e o Estado tem de ser responsabilizado e
assumir este fato.
O que está excluído da política
cultural é a periferia.
Nesse sentido, propomos – á exemplo
do CUSTO AMAZÔNICO – o Custo Periférico, uma política específica
de editais e recursos para ações protagonizadas por artistas e
produtores culturais que são ou que agem nas periferias.
ASSINAM ESTE MANIFESTO *
Angelo Madson - Idade Medi@ Comunicação
para Cidadania...
Arthur Leandro, artista, professor e
militante
Andrea Scaff, cineclubista
Adilson Santos, poeta (BOI VAGALUME)
Alessandra Nunes, intérprete (Kem
Pariu Eutanázio)
Buscapé Blues, cantor, compositor
Bruna Suelen, artista
Clei de Sousa, poeta e professor
Caeté, poeta
Cuité, artista popular
Carpinteiro (Francisco Weyl), poeta,
realizador e jornalista
Gideon, intérprete (Kem Pariu
Eutanázio)
Fernando Pádua, artista
Flávio Gama, artista popular
João Lúcio Mazinni, professor e
ativista cultural
Luah Sampaio, ativista cultural
Manoel do Vale, escritor
Marco da Lama, poeta
Mateus Moura, realizador e cineclubista
Ronaldo Rony, cartunista
Priscila Duque, jornalista ativista
cultural
Sandro Bar Bosa, poeta popular
* ABERTO A MAIS ADEÕES NAS REDES
SOCIAIS (ASSINE TAMBÉM)
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