sábado, 8 de março de 2014

Pelo direito à memória de Mãe Doca, pelo direito à existências das tradições negras.

Um memorial para Mãe Doca, um memorial para todos nós.


Em 2003 e 2004 a Câmara de Vereadores do Município de Belém e a Assembléia Legislativa do Estado do Pará reconheceram a luta de Nochê Navakoly (Rosa Viveiros, ou Mãe Doca) como um importante foco de resistência para a manutenção das tradições de terreiros afro-amazônicos, e é em nome da luta de Mãe Doca que o dia 18 de março foi dedicado aos umbandistas e aos afro-religiosos através da Lei Municipal nº 8272, de 14 de outubro de 2003 (autoria do vereador Ildo Terra/PT) e da Lei Estadual nº 6.639, de 14 de abril de 2004 (autoria da deputada Araceli Lemos/ PSoL), e em 2009 a ALEPA ampliou a homenagem através do Decreto Legislativo nº 05/2009 (proposição da Deputada Bernadete Tem Caten/ PT) que instituiu na Assembleia Legislativa do Estado do Pará a Comenda "Mãe Doca" de mérito afro-religioso.
Mas ao mesmo tempo em que Município e Estado reconhecem a importância da luta dos povos tradicionais de terreiros de matriz aricana, e até nos instituem duas leis, o racismo institucional faz com que os gestores nada façam para promover o 18 de março e a memória das lutas contra o racismo, esse mesmo racismo que ataca o sagrado das tradições africanas presentes na diáspora amazônica.
Mas já que o poder público não faz, na manhã do dia 6 de março de 2014 nós instalamos um memorial para Mãe Doca na esquina da Av. Duque de Caxias com a Tv. Humaitá, um memorial que resgatou a história de seu terreiro e a sua presença naquela territorialidade dos bairros do Marco e Pedreira. Uma  base de mármore com uma placa de vidro com fotografias e textos explicando à população a importância de Mãe Doca, e através dela  a importância de toda a luta das mulheres negras amazônidas por uma vida digna com direitos de cidadão.

Menos de 10 horas para a memória de Mãe Doca.

O memorial para uma mulher negra, a história da sacerdotisa das tradições negras amazônidas que enfrentou o racismo e a polícia paraense, não durou nem 10 horas, e antes de anoitecer a placa estava em pedacinhos na encruzilhada mais próxima do lugar onde por aproximadamente 80 anos se manteve o terreiros de nagô Cacheu de Nochê Navakoly.
O monumento foi quebrado durante a forte chuva que caiu na tarde desse mesmo dia da inauguração. Uma das especulações foi de que o vento haveria quebrado o vidro, mas colocamos essa hipótese em dúvida por um detalhe, a base de mármore foi arrancada!

Uma chuva que não destelhou casas naquela área, nem tampouco derrubou as árvores do canteiro teria força suficiente para virar uma base de mármore fixada com cimento? Se apenas o vidro tivesse sido quebrado seria possível acreditar na hipótese de foi causado pelas intempéries de Tempo, mas como vento não vira pedra.... A hipótese que acreditamos é que foi ação humana motivada por racismo religioso.


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