sábado, 30 de maio de 2015

Texto de Andrey Rodrigues sobre mídia, violência e juventude negra.


Texto  de Andrey Rodrigues publicado no facebook, neste link.


Amigos jornalistas, do direito e membros da sociedade civil organizada. Temos outras duas vítimas do assalto que resultou na morte do estudante de fisioterapia Lucas da Costa. São eles, o Paulo Martins e o Mateus de Moraes, os dois primeiros suspeitos capturados no sábado. Eu disse SUSPEITOS e não CULPADOS.
A defesa e suas famílias apresentaram provas técnicas suficientes para comprovar a inocência dos dois. Quais?
Um mapa detalhado do GPS da moto mostrando a trajetória do veículo durante a madrugada, vídeo de uma câmera de segurança mostrando em que rua os dois estavam por volta das 4 da manhã (horário aproximado do latrocínio). E isto sem falar na ausência de produtos do roubo e de armas no momento da abordagem policial.
Paulo e Mateus foram vítimas da comoção geral que acomete a cidade sempre que a vítima é de "boa aparência", de família estruturada. Porque do contrário... o diagnóstico é sempre um só: "FOI ACERTO DE CONTAS".
A comoção com a morte de Lucas é justificada? COM CERTEZA! Basta de violência? CLARO. Mas dá pra fazer justiça cometendo injustiça? Falemos da abordagem policial naquele fatídico sábado:
Paulo, mecânico, e Mateus, seguiam a três ou quatro quadras do posto da Angustura (epicentro do crime). Iriam entregar uma moto. Foram em dupla por questões de segurança. (Olha que ironia). No caminho toparam com dois cabos dispostos a tudo para darem uma resposta eficiente à violência do evento. Detém os jovens e seguem para averiguação. Onde? Na delegacia? Não... no posto. NO POSTO. diante de uma turma emocionalmente abalada pela recente tragédia. Então os PMs levantam o camburão ESCURO e perguntam:
"Foram esses?"
Inicia-se por parte das "testemunhas" uma tentativa de linchar os dois suspeitos. Uma outra testemunha, mais sóbria, afirma:
"Não foram estes dois não".
É repreendida pelo policial. Oi? Habemus Bodes Expiatórios.
Jornalistas ouvem os policiais e partem para seus editoriais inflamados e dramáticos. Como se vender jornais fosse mais importante do que apuração dos fatos, informação correta e sóbria da opinião pública. Mais importante do que aqueles dois "personagens" no camburão.
Juiz e delegados "eficientíssimos" na confecção de um mandado de prisão. 48 horas depois... cadê prova do crime? Nada. Então... os dois seriam liberados? NÃO.
Até que os possíveis culpados são capturados. E não foi por delação dos dois primeiros suspeitos hein! Isso quer dizer que Paulo e Mateus serão soltos? Não. NÃO??? Não...
Os parentes deles seguem lutando, insones, à base de remédios de pressão. O filho pequeno do Paulo chora e recebe a justificativa de que o pai está viajando. Até que... ele flagra o rosto do pai na TV.
-Meu pai tá preso!!! Meu pai é bandido!
O menino passa a ter o mesmo olhar da sociedade. O de que todo favelado é suspeito e todo suspeito é bandido. Afinal... são moradores de "linha vermelha".
Senhoras e senhores... moradores da linha vermelha são os pedreiros que constroem os prédios em que moradores do centro residem. Moradores de linha vermelha são as babás de seus filhos, as diaristas, as empregadas...
Moradores de linha vermelha apenas não tem direito a HABEAS CORPUS como os donos das empreiteiras e de pessoas que tem o nome registrado nas placas dos prédios em que eles trabalham.
Então, amigos... como eu não sou dono de jornal, mas conheço muita gente que trabalha em jornal, vim por meio deste post tentar contar a versão do lado que quase nunca é ouvido de forma adequada. Esta é minha tentativa de contribuição pra nossa segurança e paz social. Sei que isso não se faz com terror pra cima da periferia...

P.S: Estou disposto a fornecer contatos para que estas pessoas da família do Paulo e do Mateus esclareçam suas opiniões. Alguém aí das redações quer ajudar? INBOX e via celular já consegui falar com profissionais bem bacanas. Todas estas informações tem testemunhas e foram checadas IN LOCO. Agora deem a licença de marcá-los.

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