copiei este texto do link
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Por concordar, publico aqui no blog.
Prezada Ministra Marta, como vai?
Escrevo para lhe dizer que concordo com a sua afirmação: moda é
cultura. Alta culinária também. No entanto, eu não penso que sejam estas
as expressões culturais que precisam dos incentivos do MinC.
O
argumento de que desfiles sofisticados "melhoram a imagem do brasil no
exterior", a meu ver, é inconveniente. Esta era uma preocupação dos
governos militares: enquanto havia tortura aqui dentro, eles se
preocupavam com a imagem do Brasil lá fora. Ora, só o fim da ditadura
poderia melhorar nossa imagem frente aos países democráticos.
Hoje,
em plena democracia, a tortura só é praticada nas delegacias da
periferia, contra negros e pobres cujas famílias são intimidadas para
que as denúncias não cheguem nem à sociedade local, quanto menos à
comunidade internacional. Então, oficialmente, vivemos em plena
democracia. Mas o que é que "mancha" a imagem do Brasil no exterior? Não
é a falta de alta costura/alta cultura. É a permanência da
desigualdade, que nem os programas sociais dos governos petistas
conseguem debelar de fato, embora tenham sim diminuído
significativamente a miséria que excluía milhões de brasileiros dos
padrões mínimos de consumo.
A desigualdade que persiste no Brasil já
não é a que impede o povo brasileiro de se alimentar. É a que impede o
acesso das classes baixas aos meios de produção. Pescadores perdem as
condições de pescar - e com isso, sua cultura tradicional - expulsos de
suas comunidades para se tornarem, na melhor das hipóteses,
trabalhadores braçais não qualificados. Lavradores, quilombolas e grupos
indígenas perdem suas terras - e com isso, as condições de manter suas
práticas culturais - expulsos pela ganância do agronegócio.
Os
Pontos de Cultura criados na gestão Gilberto Gil estão abandonados em
muitas regiões do país. Músicos e poetas das periferias das grandes
cidades não conseguem recursos para mostrar sua arte para o resto do
país. Pequenos grupos de teatro, que sobrevivem graças à Lei do Fomento
criada na sua gestão na Prefeitura de São Paulo, dificilmente conseguem
levar sua produção cultural para outros Estados, muito menos para outros
países.
Não prossigo indefinidamente com exemplos que sei que são
de seu conhecimento. Termino com uma afirmação que me parece até banal:
em um país tão desigual quanto o nosso, fundos públicos só deveriam ser
utilizados para possibilitar o crescimento de quem não tem acesso ao
dinheiro privado.
Tão simples assim. Por isso estou certa de que, a
cada vez que o MinC, o MEC, o Ministério da Saúde e quaisquer outros
agirem na direção oposta à da diminuição da desigualdade, a sociedade
brasileira vai se indignar. As expressões dessa justa indignação é que
hão de "manchar a imagem do Brasil no exterior".
Respeitosamente,
Maria Rita Kehl.
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